segunda-feira, 30 de abril de 2012

Bhagavan Ramana Maharshi - História de uma Discípula


Rajapalayam Ramani Ammal: Quando eu era bem jovem, por volta dos dezoito anos de idade, Bhagavan apareceu para mim em um sonho. No sonho Bhagavan caminhava em minha direção, eu podia ver até um Shivalinga no sonho. Antes disso, krishna costumava aparecer nos meus sonhos com frequência, mas dessa vez era uma pessoa que eu nunca tinha visto antes; fiquei cativada por tê-lo visto. A deidade de nossa família era Vishnu e costumávamos oferecer Puja para Vishnu e para Krishna, entretanto ver  o Shivalinga no sonho me deixou intrigada. Naquela época eu não podia entender o sonho. Mas daquele momento em diante minha mente mudou, tendo sido muito covarde desde a infância eu não podia nem mesmo andar até a porta de casa a noite. Mas depois de ter sonhado com o darshan de Bhagavan, o medo que me perseguia abandonou-me.
Foi só aos vinte anos que consegui um livro de Bhagavan. Era o Ramanavydia. Simplesmente ao tocar no livro perdi a consciência do corpo, meu corpo todo ficou dormente e foi com grande dificuldade que consegui voltar e sentar ao lado de minha amiga, percebendo meu estado ela comentou: ‘você não deveria ler todos os tipos de livros. Os membros de sua família ficarão zangados com você, não precisa ler tais livros com tão pouca idade. Ler alguma coisa pode ser bom, mas não passar vinte e quatro horas por dia lendo livros desse tipo’.  Naquela época eu passava o tempo todo lendo livros espirituais como o Bhagavad-Gita, etc.  Eu curiosamente abri o Ramanavydia pela primeira vez e assim que o fiz vi uma foto do jovem Bhagavan, cai no chão com o impacto de ver a foto. Que livro é esse eu pensei. ‘Não leia esse livro, minha amiga avisou-me, acho que esse livro vai mudar a sua vida’. Eu não dei ouvidos a ela e levei o livro para a cama comigo, estava com medo que eu pudesse desmaiar de novo. Então, deitei na cama para ler. Conforme li o livro fiquei tão absorvida, meus olhos ficavam fechando, meu estado foi mudando, ali eu entendi que aquilo que eu estava experimentando era meditação como descrita por Bhagavan.
Naquela época, não era permitido que as mulheres deixassem suas casas, muito menos que saíssem de sua cidade. Entretanto, após ter lido o Ramanavidya senti que antes de morrer eu deveria encontrar Ramana Maharshi, não importando o que acontecesse. O livro me deu essa determinação, porém eu não podia deixar minha casa imediatamente, demoraram dois anos até que tive êxito. Sai de casa ardilosamente com a ajuda de meu irmão. Ele também era uma pessoa espiritual e é um Sadhu hoje. Cheguei à Tiruvanamalai com a ajuda de um servo. Chegando lá, fiquei tomada de culpa por ter fugido de casa e de remorso por ter feito a coisa errada para conseguir coisas boas. Sentia que queria ter nascido em alguma outra família, fiquei muito deprimida. Fui até Bhagavan no Domingo. Na parte de fora do antigo salão, fui até o escritório perguntar sobre Bhagavan e me disseram que ele estava perto do poço. Quando cheguei no poço não consegui ver Bhagavan, mas apenas uma grande chama. ‘Perguntei onde encontrar Bhagavan e eles me mandaram para um local de sacrifícios’, pensei comigo mesma. Conforme permaneci ali Bhagavan apareceu naquele exato local. Na hora pensei que tinha tido aquela ilusão de ter visto o fogo porque eu tinha vindo do sol quente. Foi apenas depois que percebi que Bhagavan tinha me concedido o Shudi Darshana, eu podia sentir seu Purana em meu coração. Bhagavan disse: ‘você chegou em casa, sente-se’. Sentei na frente dele, mas não perguntei nada. Haviam tantas pessoas por lá e eu não estava acostumada com isso. Eu não fazia ideia do que perguntar a ele. Fiquei três dias sentada na frente dele, entretanto, o sentimento de culpa por ter fugido de casa continuava me assolando. Um dia Bhagavan disse: ‘eu fugi de casa também, temia que alguém me capturasse e me levasse de volta para casa, eu fugia como um ladrão, se foi tão difícil para mim, quão mais difícil seria para uma mulher’. Essas palavras dele varreram completamente meu sentido de culpa. Aquelas palavras removeram também qualquer resíduo de medo em mim. Desde lá eu fui até a montanha sozinha inúmeras vezes até mesmo a noite, sem falar para ninguém. Não havia mais medo. Se tivesse medo como poderia ficar por aqui nas montanhas sozinha.
A respeito de minha fuga, Bhagavan disse que talvez isso fosse necessário. ‘Eu tinha 16 quando vim para este lugar. Ademais ela é uma jovem mulher, é assim que a pessoa deve fazer se for necessário. O que há de errado nisso’.
Na ocasião da morte de Bhagavan, vi naquela noite uma linda luz azul subindo aos céus, naquele momento eu sabia que ele tinha abandonado o corpo físico. Eu não queria mais viver depois disso, então comecei a jejuar esperando morrer daquele jeito. Por seis dias não toquei em comida. E durante aquele período tive várias visões. Em uma delas fui levada para dentro de uma caverna na montanha, onde vi alguns rishis realizando um ritual. Sri Bhagavan estava sentado entre eles, ele disse: ‘Por que você está chorando? Por que esta angústia? Você diz que eu fui embora, mas para onde eu fui, estou aqui você não pode me ver?’ Alguns rishis trouxeram prasad, Sri Bhagavan pegou um pouco e ofereceu a mim. Eu não lembrava no sonho que estava de jejum e comi a prasad, por 5 dias depois disso o cheiro daquela prasad ficou comigo. Então, aquilo foi um sonho ou foi realidade? Eu considero isso como sendo a graça de Bhagavan. No dia seguinte comecei a comer. Daquele dia em diante eu não tenho essa dúvida se Bhagavan nos deixou, ele permeia a tudo. Está em toda parte. Não senti mais tristeza em meu coração. Certamente ele está aqui também.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Coleman Barks - Sobre seu trabalho com Rumi

Pergunta: Uma das coisas que eu pensei que poderia ser de interesse para os nossos ouvintes, é começar contando a história de como você chegou à poesia de Rumi. 
Coleman Barks: Eu já contei essa história em vários lugares. Bem, eu tive esse sonho no qual eu estava dormindo ao lado do rio Tennessee. É o lugar onde eu cresci nas proximidades de Chattanooga.  E no sonho uma bola de luz emergiu da ilha de Williams. E eu acordei dentro do sonho. Foi um daqueles momentos lúcidos iguais quando estou acordado, entretanto eu estava ainda dormindo no sonho, mas tinha acordado dentro do sonho. E essa bola de luz veio e clareou de dentro para fora. Havia um homem sentado dentro da bola de luz. Ele levantou a cabeça e disse: "Eu te amo". E eu disse: "eu te amo também."
E em seguida, a paisagem toda ficou molhada com orvalho. E o orvalho e a umidade eram o amor. E de alguma forma, embora tudo tenha acontecido no sonho, senti que algo ficou estabelecido ali.  Então, cerca de um ano e meio depois disso, eu estava viajando para o norte para fazer algumas leituras de poesia. Encontrei com Jonathan Granoff. Ele me levou para ver seu professor lá na Filadélfia. Era Bawa Muhaiyaddeen. E ele era o homem no sonho, que estava sentado lá em uma bola de luz.
Não há nenhuma maneira que eu possa provar que aquilo aconteceu exceto para mim mesmo. Isso aconteceu. E eu estava lá dentro do sonho e o encontrei. E ele tinha vindo a mim e me ensinado coisas no sonho. E, em seguida, na Filadélfia eu queria contar-lhe a respeito do sonho. E ele apenas dirigiu-se a mim dizendo: "eu estava lá. você não precisa me contar o sonho. O que você quer saber?" 
Ele me disse para fazer este trabalho do Rumi. Falou que isso tinha de ser feito. Portanto, a única credencial que eu tenho para trabalhar com as palavras deste grande ser iluminado é que eu estive diante daquela presença por nove anos, indo e voltando quatro ou cinco vezes por ano para visitar esse homem, que também espontaneamente cantava canções e louvava a existência.
Portanto, essa é a principal ligação que me conecta com Rumi. Quando trabalho nesses poemas sinto que estou fortalecendo a amizade com meu professor.
* Esse trabalho de Coleman Barks de tradução dos poemas de Rumi foi o principal responsável por tornar a poesia de Rumi conhecida no ocidente. Os poemas de Rumi presentes no blog são todos traduções do trabalho de Barks.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Kabir - Três Poemas

Segundo os Vedas,
o Incondicionado está além do mundo das condições.
Que proveito há em discutir se Ele
está além de todas as coisas ou em todas as coisas?
Veja tudo como sendo Seu próprio lugar de moradia e
a névoa do prazer e dor jamais entrará nela.
Ali Brahma é revelado dia e noite.
Ali a luz é Sua vestimenta, a luz é Seu assento,
a luz repousa sobre Sua cabeça.
Kabir diz: "O mestre que é verdadeiro é toda a luz."

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Ó Sadhu! Ouça minhas palavras imortais.
Se você quer seu próprio bem,
examine e considere-as com atenção.

Você afastou-se do Criador, do Qual você brotou.
Você perdeu sua razão, comprou a morte.
Dele surgiram todas as doutrinas e todos os ensinamentos,
eles crescem Dele, saiba disso com certeza e não tenha medo.
Ouça de mim as novidades desta grande Verdade!
De quem é o nome que você canta
e em quem você medita?
Por favor, saia desse emaranhamento!
Ele habita no coração de todas as coisas,
então por que se refugiar nessa desolação vazia?
Se colocar o Guru a uma distância de você,
então, será apenas a distância que você honrará.
Se o Amo estivesse longe de fato,
quem mais estaria criando este mundo?
Quando pensa que ele não está aqui,
você se afasta cada vez mais
e procura-O em vão com lágrimas.
Se está longe, Ele torna-se é inatingível;
se está perto, Ele é a própria bem-aventurança.
Kabir diz:
"Para que seu servo não sofra dores
Ele permeia-lhe por completo.
Portanto, conheça a si mesmo, ó Kabir;
pois ele está em você da cabeça aos pés.
Cante com alegria e mantenha seu assento imóvel
dentro do seu coração.

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O verdadeiro Nome é diferente de qualquer outro nome!
A distinção entre o Condicionado e o Incondicionado
é apenas uma palavra: O Incondicionado é a semente,
o condicionado é a flor e o fruto.
O conhecimento é o ramo e o Nome é a raiz.
Procure e veja onde está a raiz:
a felicidade será sua quando você chegar à raiz.
A raiz irá leva-lo ao ramo, à folha,
à flor e ao fruto.
Esse é o encontro com o Senhor,
essa é a realização da felicidade,
é a reconciliação do condicionado
e do Incondicionado.