quinta-feira, 28 de julho de 2011

Philokalia - Nikitas Stithatos - Sobre o Conhecimento Espiritual (parte 4)



Se você abraçar o conhecimento do Intelecto primordial - o qual é a origem e é a consumação de todas as coisas, que é infinito em Si mesmo e que existe dentro e fora de todas as coisas - você saberá como viver como um solitário tanto sozinho quanto com outros solitários. Pois você não sofrerá nenhuma perda na perfeição mesmo que esteja sozinho, e nenhuma perda na solidão, mesmo estando entre os outros. Pelo contrário, você será o mesmo em todo lugar e sozinho dentre todos. Você iniciará nos outros o movimento deles em direção à vida da solidão e incorporará a mais alta perfeição de virtude com a qual eles se confrontarão.


A perfeita união e conjunção da alma com o corpo, quando mantida em harmonia, constitui uma realidade única, seja no nível visível ou em seu ser interno. Quando não é hamoniosa, ocorre uma guerra civil na qual cada lado deseja a vitória. Mas quando a inteligência assume o controle, ela de imediato põe um fim ao ciúme e estabelece a concórdia, conformando toda a realidade corpo-alma a seu ser interno e seu Espírito.


Dos três aspestos principais de nosso ser, o primeiro rege os outros e não é regido por eles, o segundo tanto rege quanto é regido e o terceiro não rege, mas é regido. Desse modo, quando o aspecto regente cai sob o domínio de algum desses aspectos que são regidos, aquele que é livre por natureza, torna-se servo daqueles que são por natureza servos, ele perde sua justa pré-eminência e natureza e isso provoca uma grande discórdia entre os principais poderes da alma. Enquanto houver essa discórdia entre eles, todas as coisas ainda não terão tornado-se sujeitas ao Logos Divino. Mas quando o aspecto regente governa os outros colocando-os sob sua própria direção e controle, os elementos discordantes, desta vez unificados e tornados concordantes, são conduzidos pacificamente a Deus. E quando tudo é submetido ao Logos, Ele entrega o reino a Deus, o Pai. (ref. 1 Cor 15:24)


Quando os cinco sentidos são submetidos às quatro principais virtudes e mantêm sua obediência, eles possibilitam que o corpo, composto de quatro elementos, traquilamente complete a roda da vida. Quando o corpo é assim disposto, os poderes da alma não ficam em um estado de discórdia, o aspecto passível dos poderes apetitivo e inflamatório é unido com o poder da inteligência e o intelecto assume assim sua soberania natural. Ele faz das quatro virtudes principais sua carruagem e dos cinco sentidos subservientes, seu assento. E uma vez que ele tenha subjugado o ser não-regenerado e imperioso, o intelecto é capturado e conduzido ao céu em sua carruagem de quatro cavalos e trazido diante do Rei das Eras, sendo coroado com a coroa da vitória e descansando de sua longa empreitada.


Para aqueles que com o suporte do Espírito entraram na plenitude da contemplação, um cálice de vinho é servido e o pão de um banquete real lhes é oferecido. Um trono é preparado para o seu repouso e prata para sua riqueza. Próxima à mão está uma tesouraria de pérolas e pedras preciosas, riquezas indizíveis são conferidas a eles. Por causa da prontidão com a qual agem, sua vida ascética torna-os visionários e prepara-os para serem trazidos à presença não de preguiçosos, mas sim do Rei.


Se através da humildade e da oração você foi iniciado no conhecimento espiritual de Deus, isso significa que você é conhecido por Deus e enriquecido por Ele com um conhecimento autêntico de Seus mistérios supranaturais. Se você está manchado com presunção, você não foi iniciado, mas é governado pelo espírito deste mundo material. Portanto, mesmo que você imagine que sabe de algo, de fato você não sabe nada sobre as coisas divinas da maneira como deveria saber (ref. 1Cor. 8:2). Entretanto, se você ama a Deus e não considera nada mais precioso que o amor por Deus e por seus semelhantes, você também conhecerá as profundezas de Deus e os mistérios de Seu reino da maneira que alguém inspirado pelo Espírito Santo deve conhecê-los. E você é conhecido por Deus, pois você é um verdadeiro trabalhador no paraíso de Sua Igreja, cumprindo a vontade de Deus motivado pelo amor, isto é, convertendo os outros, tornando dignos os indignos através da compreensão dada a você pelo Espírito Santo e mantendo suas ações invioladas através da humildade e do remorso.


Todos fomos batizados em Cristo através da água e do Espírito Santo e todos comemos a mesma comida espiritual e bebemos a mesma bebida espiritual; ainda assim, mesmo que essa comida e bebida sejam o Próprio Cristo, Deus não se agrada com a maioria de nós (ref. 1 Cor. 10 : 4-5). Pois muitos daqueles fiéis e diligentes na prática ascética e na disciplina física mortificaram e enfraqueceram seus corpos, mas por carecerem do remorso que vem de um estado mental virtuoso e contrito e da compaixão que brota do amor por seus semelhantes, bem como por si mesmos, eles permaneceram carentes da plenitude do Espírito Santo, remotos do conhecimento espiritual de Deus. O útero de suas mentes é estéril e sua inteligência não tem sal ou iluminação.


O Logos não leva todos os Seus servos e discípulos com Ele quando revela Seus mistérios grandiosos e ocultos; Ele leva apenas aqueles aos quais um ouvido foi dado e cujos olhos foram abertos e nos quais uma nova língua foi treinada a falar claramente. Levando tais pessoas com Ele e separando-os dos outros, mesmo que esses últimos sejam igualmente Seus discípulos, Ele ascende no monte Tabor, a montanha da contemplação, e é transfigurado diante deles (ref. Mat. 17:2). Ele ainda não os inicia nos mistérios do reino dos céus, mas mostra-lhes a glória e a resplandescência da Divindade. E através da luz que Ele dá, Ele faz a vida e a inteligência deles brilharem como o sol no meio da Igreja dos fiéis. Ele transforma suas intelecções na brancura e pureza da luz mais brilhante, coloca neles Seu próprio intelecto e envia-os para proclamar coisas novas e velhas (ref. Mat. 13:52) para a edificação de Sua Igreja.


Muitos cultivaram seus próprios campos com grande diligência e plantaram sementes puras neles, ceifando os espinheiros e queimando seus cactos no fogo do arrependimento, mas porque Deus não regou esses campos com a chuva nascida do remorso do Espírito Santo, eles não colheram nada. Ressecados como estavam, eles não produziram o rico grão do conhecimento de Deus. Assim, mesmo se eles não perecerem por causa de uma escassez total do Logos divino, certamente morrerão pobres no conhecimento de Deus e com as mãos vazias, tendo fornecido para si mesmos uma nutrição escassa para o banquete divino.


O reino dos céus é dado já nesta vida a todos aqueles que estão avançados no caminho espiritual, ou aquele lhes é dado após a dissolução do corpo? Se é nesta vida, nossa vitória é indiscutível, nossa alegria inexprimível e nosso caminho para o paraíso desimpedido: estamos diretamente presentes no Oriente divino (ref. Gen. 2:8). Mas se é dado apenas após a morte e a dissolução, deveríamos pedir que nossa partida desta vida pudesse ocorrer sem medo; deveríamos aprender o quê o reino dos céus é, o quê o paraíso é e como um difere do outro, que natureza de tempo há em cada um deles e se endentramos todos os três, como e quando, e depois de quanto tempo. Se você entrar no primeiro enquanto ainda vivo e enquanto ainda na carne, não falhará em entrar nos outros dois.

O mundo acima está até agora incompleto e espera seu complemento do primogênito de Israel - daqueles que vêem a Deus; pois ele recebe seu complemento daqueles que atingem o conhecimento de Deus. Uma vez que estiver completo e que tiver levado ao fim o mundo inferior dos crentes e dos descrentes, ele constituirá uma única congregação, locando cada membro em seu lugar marcado, separando o que não pode ser reconciliado. Ele atrai para si as origens e os fins de todos os outros mundos, e, sendo ele mesmo ilimitado, define limites para eles. Ele não é afetado ou limitado por nenhum outro princípio, como algo que está sendo coagido. Pois ele é sempre ativo de tal maneira que nunca está confinado dentro de si ou extendido fora de seus próprios limites. Ele é o Sábado de descanso de todos os outros mundos e de todo outro princípio e atividade.