domingo, 19 de junho de 2011

P. D. Ouspensky - Trechos do Livro 'A Further Record' (parte 2)


Sr. Ouspensky: Tente pensar o que é que torna o trabalho tão difícil, tente encontrar quais são as coisas que levam grande parte da sua atenção. Tudo isso tem de ser encontrado. Quero que você compreenda que cada pessoa separadamente tem um certo obstáculo definido que fica no caminho de seu trabalho, algum ponto definido que impede a possibilidade do trabalho correto. É esse obstáculo que você tem de encontrar. Cada pessoa tem muitas dificuldades — quero dizer dificuldades na compreensão — mas uma é maior do que as outras. Por isso é necessário para cada um de vocês separadamente, encontrar sua própria dificuldade principal. Quando encontrá-la, o trabalho contra ela poderá ajudá-lo por um tempo determinado e, em seguida, talvez você terá de encontrar outra dificuldade e depois outra e mais outra. Até que você encontre sua presente dificuldade você não será capaz de trabalhar da maneira correta. Evidentemente, a primeira dificuldade para todos é a palavra 'eu'. Você diz 'eu' e não percebe que é apenas uma pequena parte de você que fala. Mas por trás e além dessa parte deve haver algo mais, e isso é para que cada um de vocês encontre pessoalmente.
Essa dificuldade pode ser um tipo específico de emoção negativa, um tipo específico de identificação ou de imaginação ou muitas outras coisas.
Pergunta: Ficar sempre adiando as coisas poderia ser a grande dificuldade?
Sr. O: Muito possivelmente — muito bom. Mas isso não é exatamente o que eu quero dizer. Essa é uma dificuldade em fazer, e eu quis dizer dificuldade de compreensão. Você já entendeu esse 'ficar adiando', já pensou nisso, portanto, não é o tipo de dificuldade da qual quero falar. Tente pensar o que torna as coisas muito difíceis ou toma grande parte da sua atenção. Todas essas coisas devem ser encontradas.
P: Minha dificuldade é que eu deveria dar mais tempo para o Trabalho, mas tenho medo de abandonar algo que gosto. O que posso fazer a esse respeito?
Sr. O: Talvez ao concordar em abandonar alguma coisa. Você não pode obter coisa alguma sem abrir mão de algo. Mas há muitas coisas imaginárias que você sempre pode abandonar. Então você deve abrir mão de coisas imaginárias e manter para si mesmo coisas reais. Mais uma vez, seu infortúnio é que você não sabe o que é imaginário e o que é real.
Vocês podem trabalhar nessas linhas quando se reunirem. Se quiserem, podem falar sobre as teorias — caso tenham esquecido de algo, podem perguntar a outras pessoas — contudo, mais importante do que isso é tentar encontrar as dificuldades pessoais. Não me refiro a dificuldades pessoais de um tipo externo, mas dificuldades pessoais internas — características pessoais, inclinações pessoais, repulsões pessoais, atitudes, preconceitos, atividades que podem parar sua compreensão impedindo-os de trabalhar. Essas dificuldades pessoais internas podem ser divididas em três categorias. Para algumas pessoas a principal dificuldade está nas emoções negativas — elas simplesmente não podem deixar de ficar negativas, geralmente em alguma direção específica. Para outras pessoas, a principal dificuldade está na imaginação — elas não conseguem parar de imaginar certas coisas que são completamente erradas e que distorcem a sua visão das coisas. Não me refiro à imaginação no sentido de devaneios, quero dizer a imaginação no sentido de alguma ideia errada persistente. A terceira categoria é o pensamento formatório. É muito útil tentar entender o que o pensamento formatório significa, encontrar alguns bons exemplos de pensamento formatório e manter esses exemplos em mente. Então, não será difícil reconhecer e perceber, seja quando você se vê pensando formatoriamente ou quando você ouve alguém falando formatoriamente. Estes são os principais tipos de dificuldades que vocês têm de encontrar em si. Para uma pessoa, uma dificuldade é mais permanente, para outra uma outra dificuldade e para uma terceira, uma terceira ainda — às vezes duas juntas, mas melhor tentar pensar qual é a principal em você, pensamento formatório, emoção negativa ou imaginação. Certamente, além disso, pode ser que você não ouça bem. Talvez você não saiba de coisas que deveria saber. Talvez você não tenha ouvido. Não me refiro apenas aos diagramas mas também ao lado psicológico. As pessoas podem ajudar umas às outras. Uma pode lembrar algo melhor, outra pode se lembrar de algo mais.
P: Há uma grande parte de mim que não quer se desenvolver. Como posso fazer a parte que deseja se desenvolver ficar mais forte?
Sr. O: Você deve fazer o que é possível para você, e além disso não pode fazer nada. Este 'eu' que quer crescer vai crescer, mas ele só poderá crescer por causa de seus esforços. Posteriormente, de alguma forma ele vai fazer com que os outros ‘eus’ não interfiram.
P: Como posso tentar construir uma direção real, um objetivo mais forte?
Sr. O: Novamente a mesma coisa — através da construção de si mesmo. Você pode ser mais forte do que você mesmo.
P: Somos uma soma total de diferentes ‘eus’. Como podemos saber em que 'eu' confiar? Como saber se o 'eu' que tomou a decisão é o certo?
Sr. O: Você não pode saber — este é o nosso estado. Temos de lidar com o que somos até que mudemos, mas trabalhamos com a ideia de mudança possível e quanto mais percebermos o estado lastimável em que estamos mais energia teremos.
P: É algo em nós mesmos que não desejamos mudar o suficiente? Se desejássemos o suficiente poderíamos obter ajuda?
Sr. O.: Sim, certamente, mas eu não colocaria assim. Você tem toda a ajuda que é possível. É a sua vez agora de trabalhar, sua vez de fazer algo. Certamente, com condições diferentes, preparação diferente e também circunstâncias diferentes, as coisas poderiam ser melhor organizadas, ou até mesmo mais poderia ser dado. Mas a questão não é quanto é dado, e sim o quanto é tomado, porque geralmente apenas uma pequena parte do que é dado é tomado efetivamente.
P: O que posso fazer para alcançar a unidade?
Sr. O: Ser um. Conquistar toda esta pluralidade dos muitos ‘eus’.
P: Como podemos mudar o ser?
Sr. O: Esta é a mudança de ser — ser um. Não para sempre. Mas tente durante cinco minutos, depois dez minutos.
P: O que é vontade própria?
Sr. O: Vontade própria é contra a unidade. É dito para você: 'Não faça isso' e você diz: 'Eu quero fazer isso'.
P: Eu não entendo a resposta que você deu sobre a tentativa de ter unidade por cinco minutos por dia.
Sr. O: Bem, o que mais posso dizer? Tentar não deixar os diferentes ‘eus’ interromperem e discutirem entre si. Se não der por cinco minutos, tente quatro, três. Não o suficiente para dizer que você não pode fazê-lo.

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P: Ver a nós mesmos significa uma combinação da auto-observação e da lembrança de si?
Sr. O: Não, significa apenas ter uma correta imagem de si mesmo.
P: É possível ter uma visão completa de nós mesmos?
Sr. O: Sim, sem dúvida, este é o começo. Antes de alcançar isso você não pode iniciar nenhum trabalho sério, você pode apenas estudar, mas mesmo isso será fracionário.
P: É muito difícil termos certeza de que estamos dizendo a verdade para nós mesmos.
Sr. O: Sim, é por isso que eu disse para ver a si mesmo, não para conhecer. Temos muitos retratos de nós mesmos. Temos de vê-los, um após o outro e, em seguida, compará-los. Mas não podemos dizer à primeira vista qual é o correto.
P: Qual é a maneira de verificar que estamos vendo a nós mesmos?
Sr. O: A experiência repetida.
P: Mas a experiência repetida também não pode estar errada?
Sr. O: Nossa capacidade de enganar a nós mesmos é tão grande que podemos enganarmo-nos até mesmo nisso.
P: Queria saber se haveria alguma forma de verificação?
Sr. O: Não, mas quando entrar um elemento emocional — a consciência — essa será a verificação.
P: Você quer dizer quando acordamos repentinamente e ficamos envergonhados?
Sr. O: Esse é o acompanhamento emocional. Falo apenas sobre ver.
P: Ver o que não somos é a mesma coisa?
Sr. O: Uma coisa inclui a outra.
P: É possível ficar vendo a si mesmo sem que haja uma grande mudança?
Sr. O: É difícil de responder. As pessoas se acostumam a tudo, até mesmo a ver a si mesmas.
P: Você disse que a pessoa não começa a trabalhar até que tenha visto a si mesma.
Sr. O: Sim. Não é possível falar a uma pessoa de maneira séria até que ela comece a ver-se, ou, pelo menos, perceba que é necessário ver a si mesma e que ela não se vê.
P: Às vezes, eu me vejo como extremamente confuso e atraído em todas as direções, mas não vejo como sair dessa confusão.
Sr. O: Esta é uma imagem. Tente encontrar outra imagem. Isso é o que, no primeiro grupo de Petersburgo, era chamado de tirar fotografias de nós mesmos em preparação para vermos a nós mesmos.P: Ver a nós mesmos significa alguma percepção permanente? Porque às vezes o que eu vejo em um dado momento mais tarde se torna algo abstrato e não emocional.
Sr. O: Isso significa que você deixa de ver a si mesmo. Nada é permanente em nós.
P: Ver a si mesmo significa que você vê suas falhas e também o que fazer com elas?
Sr. O: Às vezes pode ser assim. Mas novamente, você tenta encontrar definições e explicações e eu não falei sobre definição e explicação, mas sobre a prática real — não como definir isso ou como isso pode ser traduzido em palavras diferentes — é ver de fato. Suponha que você fala sobre um determinado retrato e nunca o viu, mas só ouviu falar sobre ele. Você pode saber tudo o que for possível sobre esse retrato, mas se você ainda não o viu, é necessário primeiro de tudo vê-lo e, em seguida, verificar tudo o que você sabe.
P: O que nos atrai para o sono é a mecanicidade?
Sr. O: Certamente.
P: Você disse para tentarmos parar os pensamentos durante cinco minutos ou tentarmos estar conscientes de nós mesmos.
Sr. O: É a mesma coisa — dá o mesmo resultado. Para algumas pessoas é mais fácil de fazer uma coisa e para outras pode ser mais fácil fazê-lo de outra maneira. Certamente o parar os pensamentos é um esforço mais mecânico, por isso às vezes é mais fácil. Não importa, o resultado é o mesmo, se você fizer bem. Não o resultado de cada cinco minutos em particular, mas de modo geral.
P: Como posso aprender a pensar em um nível diferente?
Sr. O: Você deve olhar para os temas para pensar e tentar encontrar alguma ligação pessoal com uma ou duas questões, algum interesse pessoal, então isso irá crescer e se desenvolver. Por pessoal quero dizer o que você pensava antes, questões que vieram antes por si mesmas, que você nunca poderia responder ou algo parecido. E quando você encontrar algo que você pode ver mais, isso poderá fazer surgir outras coisas.
P: Quando penso sobre um determinado assunto, sinto que posso tentar pensar em tudo o que tenho ouvido sobre ele e tentar compreender aspectos novos ou novas conexões. Ou posso tentar impedir qualquer pensamento, e às vezes até mesmo sentirei algo sobre o assunto. Ambos os métodos são úteis?
Sr. O: Você fala sobre 'fazer', mas realmente o que você pode obter com este programa é: você pode ver e observar as diferentes formas de pensar, porque um dia você pensa de uma maneira e outro dia você pode pensar sobre a mesma coisa de outra maneira. Você deve observar isso, não tente 'fazer'. Você não pode 'fazer' nada.
É importante lembrar que não podemos fazer nada. Se você se lembrar disso, se lembrará de muitas outras coisas. Em geral, há três ou quatro grandes obstáculos principais e se a pessoa não cair em um, cairá em outro. O fazer é um deles. Existem alguns princípios fundamentais que você nunca deve esquecer. Por exemplo, que você deve olhar para si mesmo e não para as outras pessoas, que as pessoas não podem fazer nada por si mesmas, mas, se é possível mudar, é só com a ajuda do sistema, de organização e do próprio trabalho das pessoas, do estudo do sistema. É preciso encontrar coisas como essas e lembrar-se delas.
P: Como podemos nos certificar de que lembramos delas? Sr. O: Imagine começar a planejar algo para fazer, é só quando você realmente tenta fazer alguma coisa diferente da forma como ela acontece que você percebe que é absolutamente impossível fazer de modo diferente. Um enorme esforço é necessário para alterar até mesmo uma coisa pequena. A menos que você tente, nunca poderá perceber isso. Você não pode alterar nada, exceto através do sistema. Isso geralmente é esquecido. Metade das perguntas são sempre sobre fazer — como mudar isso, destruir aquilo, evitar isso e assim por diante. P: Você pode esclarecer sobre a importância de lembrar que não podemos fazer? Sr. O: Tudo acontece. As pessoas não podem fazer nada. Desde o momento que nascemos até a hora da morte as coisas acontecem, acontecem, acontecem e nós pensamos que estamos fazendo. Este é o nosso estado comum normal na vida. E mesmo a menor possibilidade de fazer alguma coisa vem apenas através do Trabalho e primeiro somente em nós mesmos, não externamente. Mesmo em nós mesmos o fazer muito frequentemente começa com o não fazer. Antes que você possa fazer algo que você não pode fazer, você deve deixar de fazer muitas coisas que fazia antes. Você não pode despertar apenas por querer despertar, mas você pode impedir-se, por exemplo, de dormir por muito tempo ou algo parecido.P: Algumas vezes temos uma escolha entre dois acontecimentos possíveis?
Sr. O: Em coisas muito pequenas. E mesmo assim, se você notar que as coisas estão indo numa determinada maneira e decide alterá-las, você vai descobrir como é extremamente incômodo mudar as coisas. E assim você volta para as mesmas coisas.
P: Quando realmente começarmos a entender que não podemos fazer, será necessária uma grande dose de coragem. Isso virá ao livrarmo-nos da falsa personalidade? Sr. O: Não se chega a esse entendimento dessa forma. Ele vem depois de algum tempo de trabalho em si mesmo, de modo que quando a pessoa chega a essa realização ela tem muitas outras realizações além dela, principalmente de que existem maneiras de mudar se aplicarmos o instrumento certo no lugar certo e na hora certa. Devemos ter esses instrumentos e novamente, eles são dados apenas pelo trabalho. É muito, muito importante chegar a essa realização. Antes disso a pessoa não vai fazer as coisas certas. Vai arrumar desculpas.P: Não entendi o que você quis dizer quando disse que a menos que tenhamos essa percepção iremos arrumar desculpas. Sr. O: Não queremos desistir desta ideia de que podemos fazer e mesmo se percebemos que as coisas acontecem, encontramos desculpas como: ‘isso é acidental, amanhã será diferente’. É por isso que não podemos nos dar conta dessa ideia. Em toda a nossa vida podemos ver como as coisas acontecem, mas ainda as explicamos como acidente, como exceções à regra de que podemos fazer. Ou esquecemos, ou não vemos ou não prestamos suficiente atenção. Sempre pensamos que a todo momento podemos começar a fazer. Essa é a nossa maneira ordinária de pensar nisso. Se você tentar encontrar em sua vida momentos onde tentou fazer algo e falhou, esse será um exemplo. Mas você explicou seu fracasso como um acidente, uma exceção. Se as coisas se repetirem, novamente você pensará ser capaz de fazer, e se ver isso novamente, mais uma vez a falha será apenas um acidente. É muito útil recordar a sua vida desse ponto de vista. Você pretendia uma coisa e algo diferente aconteceu. Se você for sincero, você vai ver. Caso contrário, você irá convencer-se de que o que aconteceu era exatamente o que você queria. P: Não existe algo como forçar uma situação? Sr. O: Pode parecer que é assim, mas realmente aquilo aconteceu. Se não pudesse acontecer dessa forma, então não aconteceria. Quando as coisas acontecem de uma determinada maneira somos carregados pela corrente, mas pensamos que somos nós que carregamos a corrente. P: Se sentimos por um momento que somos capazes de fazer, digamos, de executar um serviço específico no trabalho ordinário, qual é a explicação disso?Sr. O: Se a pessoa é treinada para fazer alguma coisa, ela aprende a seguir certos tipos de acontecimentos ou, se você preferir, a começar certos tipos de acontecimentos e, em seguida, eles se desenvolvem e a pessoa corre atrás, apesar de pensar que está comandando.
P: Se temos a atitude correta....Sr. O: Não, atitude não tem nada a ver com isso. A atitude pode estar correta, a compreensão pode estar correta, mas você ainda descobre que as coisas acontecem de uma determinada maneira. Quaisquer coisas comuns. É muito útil tentarmos e lembrarmos de casos onde tentamos fazer diferente e como sempre acabamos voltando para a mesma coisa, mesmo se fizermos algum ligeiro desvio, forças enormes nos conduzirão de volta para as formas antigas.P: Quando você diz que não podemos evitar que as mesmas coisas aconteçam, você quer dizer até que nosso ser seja mudado? Sr. O: Não falo sobre o Trabalho. Eu disse que era necessário compreender que por nós mesmos não podemos fazer. Quando isso for suficientemente entendido você poderá pensar o que é possível fazer: que condições, que conhecimentos, que tipo de ajuda são necessários. Mas, primeiro, é necessário perceber que na vida ordinária, se você tentar fazer algo diferente, vai descobrir que você não pode. Quando isso for emocionalmente entendido, só então será possível ir mais longe. Enquanto você não estiver bem certo disso, será impossível continuar. P: Quando tornamo-nos conscientes de ‘eus’ contraditórios em nós mesmos temos desejo de fazer algo drástico a esse respeito. Existe alguma coisa que podemos fazer? Sr. O: Em quase todos os casos para fazer algo é necessário saber mais, particularmente no caso de contradições. Por exemplo, eu me defronto muitas vezes com este caso: alguém diz que sabe o que há de errado consigo e quer fazer algo para pará-lo. Começo a falar com ele e, depois de eu ter falado por algum tempo, percebo que ele acha que quer, mas na realidade não quer tanto quanto ele diz. Se alguém realmente quiser, vai encontrar uma maneira, mas às vezes é necessário algum tipo de conhecimento especial. A pessoa pode conhecer algum tipo de contradição, desejar interrompê-la e mesmo assim ela ainda permanece lá. Às vezes, é necessário saber como.P: A plena realização de que não podemos fazer coisa alguma já é um longo passo no caminho para fazer?
Sr. O: Às vezes o passo é longo demais, porque a pessoa pode perceber que não pode fazer algo que ela deve fazer e percebe tarde demais.
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Sr. O: Voltemos à questão da Justiça. É interessante a título de linguagem. O que é Justiça? P: Algo que é justo para duas pessoas. Sr. O: Quem seria justo? Como um arranjo condicional, pode ser entendido. Como uma coisa geral, é fantástico. Você esquece que a vida orgânica está baseada em assassinato. Uma coisa come a outra: gatos e ratos. O que é justiça entre os gatos e ratos? Esta é a vida. Não é algo muito bonito. Então, onde está a justiça? P: Por que as pessoas pensam que a natureza é bela se é assim que ela funciona? Sr. O: O que é bonito? O que você gosta. P: Como pode Deus ser amor se Ele criou a natureza dessa forma?Sr. O: Por um determinado propósito. Além disso, o que você chama de natureza? Um terremoto também é natureza. Mas por hora nós aplicamos o termo 'natureza' com relação à vida orgânica. Evidentemente, foi criada assim porque não havia nenhum outro meio. Como podemos perguntar o por quê? Foi feito assim. Se não gostarmos disso, podemos estudar métodos de como escapar. Essa é a única possibilidade. Só não devemos tentar imaginar que ela é muito bonita. Não devemos fingir que os fatos são diferentes do que são. P: Você vai colocar o homem em pé de igualdade com o resto da vida orgânica? Sr. O: Não há nenhuma diferença, só que as outras unidades são totalmente desenvolvidas e o homem é apenas parcialmente desenvolvido. P: O homem pode ficar além da lei do assassinato? Sr. O: Ele tem a possibilidade de escapar. P: Quais são as maneiras de escapar do assassinato? Sr. O: O homem está sob 192 leis. Ele deve escapar de algumas delas.P: Você disse que os homens são responsáveis pelo que eles fazem e os animais não são? Sr. O: Os homens 1, 2 e 3 são menos responsáveis. Homens no. 4 e assim por diante, são mais responsáveis, a responsabilidade cresce. P: O que significa responsabilidade? Sr. O: Em primeiro lugar, um animal não tem nada a perder, mas o homem tem. Em segundo lugar, o homem tem de pagar por cada erro que ele fizer, caso ele já tenha começado a crescer. P: Isso implica justiça. Sr. O: Não, ninguém chamaria isso de justiça se você tivesse de pagar por seus erros. P: Justiça não significa obter o que merecemos?
Sr. O: A maioria das pessoas pensa que estamos recebendo o que queremos e não o que merecemos. Justiça deve significar alguma coordenação entre as ações e os resultados das ações. Isso certamente não existe e não pode existir sob a Lei do Acidente. Quando conhecemos as principais leis, entendemos que vivemos em um lugar muito ruim, um lugar realmente ruim. Mas, como não podemos estar em nenhum outro lugar, temos de ver o que podemos fazer aqui. Apenas não devemos imaginar que as coisas são melhores do que são.
P: As coisas permanecerão como estão a menos que todo mundo fique consciente?Sr. O: As coisas permanecerão como são, mas podemos escapar. É preciso muito conhecimento para saber do que é possível escapar e do que não é. Mas a primeira lição que temos de aprender, a primeira coisa que nos impede de escapar é que nem sequer percebemos a necessidade de conhecer a nossa posição. Aquele que conhece já está em uma posição melhor.P: Cada vez que repasso as coisas diferentes para pensar no programa de Trabalho, vejo que não estou fazendo nenhum progresso em pensar sobre elas. Não posso fazer mais do que repetí-las. Sr. O: Repetir não vai ajudar. Você deve tentar pensar. Você deve tentar encontrar algo novo de uma forma que você não tenha visto antes, ou alguns novos pontos de vista ou ângulos. Tente falar com outras pessoas sobre isso, é muito útil fazer assim. P: Minha incapacidade de pensar de uma forma nova ou ter quaisquer pensamentos novos sobre os mesmos assuntos tem me mostrado realmente como minha mente é muito mecânica e formatória. De que forma posso tentar? Sr. O: Mais lembrança de si. Essa é a única coisa; é por isso que durante cinco minutos você realmente deve lutar para estar consciente de si mesmo ou para colocar para fora todos os pensamentos, e se você fizer a sério, isso vai ajudar. P: Tenho notado que muitas vezes pensamentos de um frescor e lucidez extraordinários surgem repentinamente em minha mente. Como podemos tentar obter esses lampejos sobre o assunto que desejamos?Sr. O: Lembre mais de si mesmo — mais profundamente — melhor. Não há outra resposta; e, em seguida, tente pensar também de pontos de vista diferentes, ou escalas diferentes. Tente conectar um ponto, as coisas que você pensava antes ou fazia antes ou que não podia responder antes. Se você conectar um ponto corretamente, todo o resto ficará mais claro. P: É difícil manter uma linha de pensamento em comparação com as coisas comuns que acontecem em nossa cabeça — o material é tão limitado. Sr. O: Não, o material é muito grande — outra coisa é limitada. Ou o desejo é limitado ou esforço é limitado. Algo é limitado, mas não o material. P: Eu gostaria de saber qual é a causa da resistência para manter os pensamentos de fora — os pensamentos fortes que entram sorrateiramente. Sr. O: Existem duas causas — a causa da resistência é uma coisa e a causa dos pensamentos que vêm interromper é outra. A segunda mostra o modo ordinário de pensamento — não podemos nunca manter uma linha porque as associações acidentais entram. A resistência é outra coisa, é o resultado de uma falta de habilidade, falta de saber como lidar com isso, falta de experiência se quiser — não pensar intencionalmente, numa determinada linha. Mas esta capacidade deve ser educada.