segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Shri Siddharameshwar Maharaj - O Prana do Prana


"Os aspirantes tinham feito anteriormente a seguinte objeção: Como poderia aquele que é sem forma se transformar naquilo que é móvel e imóvel? Isto deve ser explicado agora." (Dasabodh, capítulo 8, seção 2, versículo 1).


Na mitologia hindu, Chitragupta é aquele que toma nota dos pecados e dos méritos de todos para o posterior julgamento de Deus. Chitragupta na verdade significa aquele que encontra-se secretamente (Gupta) residindo no coração de todos, isto é, a consciência interior.
Anteriormente alguns de vocês tinham dúvidas de como Brahman sem forma e sem atributos tornou-se a ilusão. Qual é o significado de "anteriormente"? Na verdade, o próprio tempo é uma ilusão. Devido a essa ilusão, sentimos que este é um dia ou um determinado mês. A luz e a escuridão sucedem uma a outra na terra. Os dias, meses, etc, são definidos por conveniência. Existem milhares ondas desse tipo que aparecem no Ser. O primeiro é o Parabrahman natural e a ilusão aparece sobre Ele. Parabrahman é livre e não faz nada, e no Seu pano de fundo aparece a ilusão inexistente. Na realidade, para Parabrahman é como se o mundo não existisse, Ele não sente o peso dele nunca. Da mesma forma, surge em nós um conceito e, porque o conceito é estabelecido, acreditamos ser verdadeiro.
Um objeto visto em um sonho não é real, mas parece real. Similarmente ao nosso reflexo no espelho, Maya (a ilusão) parece ser verdade. Pratique o pensamento "tudo aparece no meu Ser." Se você fizer isso com sinceridade por oito dias, você irá experimentar a Realidade. Brahman é a corporificação do Conhecimento. Os Vedas dizem que o Verdadeiro Conhecimento é Brahman. A grande afirmação de outro Veda é: "Eu sou Brahman”. Você se torna de acordo com como você se concebe.
Você, o Ser, é o Rei e a Ilusão (Maya) é o seu servo. A Ilusão é devida à sua percepção. O rei experimenta de acordo com como ele imagina. Ilusão significa nossa idéia. A Ilusão limita uma pessoa de acordo com como são os conceitos dela. Alguém pode perguntar: se a ilusão não é verdade, porque é visível? A resposta é, tudo o que você vê é verdadeiro? Onde estão os objetos vistos em um sonho? Se você dispuser muitos espelhos em um só lugar, a mesma cena será visível em todos os espelhos. São todas verdadeiras? O Sábio não considera tudo como verdadeiro. Consequentemente, os Vedas dizem que tudo o que é visto é destrutível e será destruído. Tudo o que é visto são apenas as distorções da mente.

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A natureza do Ser é sempre a Graça, na qual não há nunca doença alguma. O Ser está sempre seguro, nunca se quebra e nada entra nele. Todas as coisas materiais estão sujeitas a serem danificadas ou aumentadas. Quando você experimenta qualquer coisa material sendo danificada, você pensa que você é responsável por esse dano. O indivíduo imagina que ele mesmo sofreu o dano de alguma forma. O Ser não tem coisa alguma em Si. Não há nada nele que possa ser danificado ou que irá degradar. Ele não possui nenhuma sujeira, isso significa que nenhuma coisa material articula nele. É por isso que ele é chamado de limpo e como não há nenhuma sujeira, ele é indestrutível. A decadência é a qualidade da sujeira. Ela está fadada a decair e a ser destruída, retornando de volta para a terra. Entretanto, o Ser imaculado é indestrutível. Embora Ele esteja no corpo e nos órgãos dos sentidos, Ele não é afetado por eles. O Ser não tem nem nascimento e nem morte. Ele jamais é corrompido e não possui partes. Ele não é constituído de várias partes, não é a soma de partes. Se você deseja saber quem é Ele, esse Ser é Aquele que vive no seu corpo e que conhece o corpo.

Quando dizemos que o conhecimento é temporário, queremos dizer que o conhecimento na mente é temporário. A fala chega ao fim mas a Consciência permanece. Se um homem não tivesse estado ciente de si mesmo ele jamais retornaria para casa quando tivesse saído para fazer algum trabalho. Os desejos pertencentes aos órgãos sensoriais eventualmente morrem, mas a natureza essencial do Conhecimento, a Consciência, permanece.

A infância, a juventude, a velhice, etc. são estados do corpo. Essas são fases naturais de toda coisa material. Por meio da energia vital, ou o Prana, esses estados são entendidos quando eles vêm. Entretanto, o próprio Prana não se torna jovem ou velho. Sua qualidade de energia permanece a mesma. Uma vez que o Prana não tem mudança em seu estado, como pode o Ser que é o “Prana do Prana”, a “A Energia da Vida da energia vital”, ter esses estados?

Os ovos, a fermentação da combinação do calor com a umidade da placenta e as sementes, são as quatro fontes de criação de todos os seres. Em todos os seres o Prana funciona apenas através do Poder do Ser. Os estados como a infância, etc., não tem nenhum efeito sobre o Prana, então como podem afetar o Ser? O indivíduo, por meio de seu próprio conceito errôneo, se limita. Nos desejos há aprisionamento. Isso pode ser explicado da seguinte maneira: o que quer que você deseje está num certo lugar, se você deseja aquilo você deve ir lá onde isso está. Você tem de esperar lá até que consiga o que quer, e aquilo não pode ser levado embora de seu local, você tem que permanecer lá. Apenas ali você pode desfrutar do objeto ou usá-lo. Sendo que ele não pode ir conosco para onde vamos, temos de viver próximos do objeto porque estamos necessitados dele. Esse é o aprisionamento devido aos desejos. Se não quiser ficar aprisionado, você tem de abandonar os seus desejos. Apenas dessa forma você poderá viver livre. Onde há desejo há detenção, que significa ter uma residência, viver no mundo. O desejo implica em estar nas proximidades do objeto. Quando o desejo morre, a detenção se vai. Ao abandonar o desejo a Liberação é certa. Entretanto, abrigar desejos é em si aprisionamento. Quando todos os desejos são abandonados para sempre o homem se torna a “Realidade”, enquanto que o indivíduo que tem todos os seus desejos prendendo-o apertado, descende em direção à destruição.

O Ser é intocado por todas as qualidades ou modificações. Alguns dizem que no estado desperto, o Ser é limitado pelos limites desse estado. Entretanto, se esse fosse o caso, Ele não teria conhecimento do estado de sonhos e ficaria atado a um estado apenas. Ele teria continuado a comer apenas coisas doces ou apenas coisas amargas, mas Ele não é assim. Isso significa que Ele não é afetado, embora esteja no corpo. No estado de sonhos, Ele opera através da mente apenas, sem a ajuda do corpo físico e dos órgãos sensoriais. Quando Ele vai além do sonho, no sono profundo, Ele permanece sozinho sem nenhum revestimento ou corpo. Não há nenhuma ondulação de nenhum tipo. Você pode dizer: “Onde está o Ser? Não há nada ali”, mas esse não é realmente o caso. Quem é esse que pode dizer que estava dormindo gostoso? Quem é esse que responde ao chamado feito para ele pelo nome dado ao seu corpo? Isso não seria possível sem o Ser. Os estados de sono profundo e de vigília são apenas do corpo físico e não do Ser. Ele, sendo a testemunha de todos os três estados não pode ser “nada”. Ele é o Ser Supremo, Paramatman. Você pode perguntar como é que quando Ele acorda do sono, Ele se lembra novamente de todos os arredores do estado desperto. Escute atentamente a explicação: as “circunstancias circundantes” estão relacionadas ao intelecto ou ao cérebro e não ao Ser. Se o intelecto é transformado, toda a vida se torna irreal. Então não há aprisionamento ou liberdade de algo.

A vida mundana existe porque você diz que sim. Você a concebe assim. Ela é real apenas por causa de seus conceitos. Se você dissesse: “Eu abandonei-a”, então a vida mundana, o aprisionamento, terminaria. Se você aumentá-la, ela aumenta e se você a destruir ela é destruída.

A mente é a fonte da vida mundana bem como da vida espiritual. Ao ir dormir, você remove as vestimentas externas, quando você acorda você as coloca novamente. No sono profundo você não está ciente do corpo encobrindo o Ser. Quando você desperta, você vê e através de sua atenção você se lembra de tudo. Para aquele cuja ignorância e o egoismo se foram, tudo é somente Brahman, até mesmo o estado desperto. O indivíduo dissolve-se e torna-se Paramatman. Então não há desejo de nenhum tipo. Não há nenhuma comparação a ser utilizada. O significado de comparação nesse caso é no sentido de mostrar que o “Conhecimento da Natureza da Verdade” é parecido com alguma coisa. Não há nada igual a ele ou nada similar a ele que possa ser apresentado. Nem existe palavra que possa ser usada para descrever esse estado ou o seu significado de maneira plena e adequada. Não há nenhuma forma, objeto ou palavra que possam ser comparados a esse estado. Portanto, o estado é chamado de além de comparação, ou é dito que não há nenhuma comparação ou alegoria disponível que possa explicá-lo. Para “Ele” não há nenhuma outra coisa. O mundo inteiro é apenas Parabrahman ou Paramatman.

Quando o Conhecimento do Ser está evidente, há somente a própria felicidade, feliz por existir. A própria Graça revela-se na Graça. Aquele que for um devoto abnegado terá essa experiência quando a Ilusão for descartada. É por isso que a devoção deveria ser contínua. Não deveríamos nunca esquecer do nos devotar. Não deveria haver Esquecimento. Quando algum outro objeto ou realização se torna atrativo para o indivíduo e ele pensa sobre esse objeto, ele esquece sua Devoção a Deus. Portanto, os Santos insistem na devoção incessante. Quando o devoto descarta o desejo por dinheiro, filhos, riquezas materiais e fama na sociedade e dedica-se totalmente à Devoção a Deus, a sujeira na Consciência é limpada e ela se torna unida a Deus, residindo em sua Verdadeira Natureza (Swaroopa). Quando o Amor e a Devoção por Deus aumentam, os ditos dos Vedas são subservientes ao Devoto. “Aquilo” que os Vedas declararam ser a mais Elevada Verdade, é proferido por ele muito naturalmente. É então que a Existência é experimentada como “Um Todo Completo”. Essa é a Devoção do mais alto grau. Essa devoção liberta a todos, incluindo as mulheres, os homens, os mais baixos e os Sacerdotes (Brahmins), sem nenhuma discriminação. Entretanto, se a mente não estiver pura, não haverá a luz do Ser. Aquele que possui a Devoção imparcial atinge a Realidade. O véu sobre seus olhos desaparece. O Sol e uma multidão de coisas são vistos de imediato. Quando a pessoa abandona todo o orgulho e a mente torna-se livre de dúvidas, tudo é visto como Brahman.

O Rei Janaka perguntou: “Após a Realização, como a pessoa vai desempenhar suas tarefas? E como o aprisionamento das ações, ou o karma, é quebrado? Como ficarmos livres de todas as máculas, mesmo quando fazemos nossas tarefas? Através de qual remédio as amarras do karma são rompidas ou afrouxadas? Como podemos atingir o estado de inação, apesar de realizar ações, e como podemos encontrar o Ser Supremo, Deus? Por favor, diga por que o Sábio Sanaka e outros não deram respostas às perguntas de suas crianças?”

Essas perguntas são difíceis de responder. O Sábio Awirhotra Narayana disse naquela ocasião: “o problema da ação, da ação errada e da não-ação não é um problema ordinário. Os legisladores que pensaram a respeito dessas questões se fatigaram, e grandes sábios ficaram confusos em como explicar essas coisas. Milhares de visionários exauriram seus cérebros e no final discutiram entre si por orgulho. Não foi fácil nem mesmo para Brahma, o Criador, e outros darem divisões apropriadas às ações e fazerem analises das ações. Ação está na raiz do Veda e o Veda é Narayana (Deus) apenas. É nesse ponto que os Vedas silenciam-se. Ação, não-ação e ação errada são de certa forma todas a mesma coisa. Como no caso do açúcar, onde você tem o açúcar refinado, o branco e o mascavo, o “açúcar” é o mesmo. Similarmente, a ação é “Uma”, ainda assim aquele que é atraído para a ação encontra várias diferenças. Na ação a não-ação é inerente. Na ação errada, novamente estão inerentes a ação e a não-ação. Se alguma ação é iniciada, ela é chamada de ação ou karma. Isso quer dizer ação do ponto de partida. Ela é chamada ou de boa ou de má, isso é chamado Vikarma. Deixar as ações para trás é chamado de não-ação, Akarma, que significa que é como se a ação não tivesse acontecido. Aquele que sabe que o não-fazedor é o verdadeiro fazedor tornou-se um Sábio. Ele atingiu o “estado de ausência de ação”. Ó Rei, se você perceber que o autor e aquele que causa a ação são apenas “Um” neste corpo, então você será “Sem ação”. Aquele que é o fazedor no início da ação é ele mesmo o recebedor dos resultados. Apenas através da Bênção do Sadguru, o estado de liberdade das ações é alcançado. Existem muitas ações surgindo de uma ação e elas são chamadas de boas e más ações. Entretanto, através dos ensinamentos do Sadguru, todas as ações (karmas) são cortadas. O canto da ação é assim.

Essa questão é muito grande. É por isso que o Sábio Sanaka e outros não ministraram esse conhecimento para crianças que não estavam maduras. Essas diferenças de ação, não-ação, não deveriam ser faladas para aqueles que não estão maduros o bastante para compreender.

Paramatman é, em todos os momenetos, sem nenhuma peturbação e sem impedimentos. Ele é permanentemente indestrutível e perfeitamente limpo. Esteja certo de que você é “Isso”.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Bhagavan Ramana Maharshi - A Guirlanda de Letras



Invocação


Gracioso Ganapati (Ganesha), abençoe-me com Sua mão amorosa para que eu possa tonar esta guirlanda marital digna de Sri Arunachala, o noivo!


Refrão:


Arunachala Shiva! Arunachala Shiva!
Arunachala Shiva! Arunachala!
Arunachala Shiva! Arunachala Shiva!
Arunachala Shiva! Arunachala!


1. (a) Você desenraiza o ego daqueles que meditam em Você no Coração, Ó Arunachala! (b) Arunachala! Você desenraiza o ego dos que habitam em sua identidade espiritual com Você, Ó Arunachala!
2. Que Você e eu sejamos um e sejamos indivisíveis como Alagu e Sundara*, Ó Arunachala! (* alagu - palavra em tamil e Sundara - palavra em sânscrito, têm um único e mesmo significado: "beleza". Alagu e Sundara também eram os nomes da mãe e do pai de Sri Ramana .)
3. Ao entrar em minha casa e atrair-me para a Sua, por que Você manteve-me prisioneiro na caverna de Seu Coração, Ó Arunachala?

4. Foi por Sua vontade ou por meu amor que Você me conquistou? Se agora Você me afastar, o mundo vai Lhe culpar, Ó Arunachala!
5. Fuja dessa culpa! Por que, então, me fez lembrar de Você? Como posso deixar-Lhe agora, Ó Arunachala?
6. (a) Você é muito mais amável do que nossa própria mãe. É essa, então, Sua bondade plena, Ó Arunachala? (b) De fato, você é mais amavel que nossas mães, tal é o Seu amor, Ó Arunachala!
7. (a) Sente-se firme em minha mente para que ela não escape de Você, Ó Arunachala!
(b) Não altere a Sua natureza e não fuja, segure-se firme em minha mente, Ó Arunachala!
(c) Seja vigilante em minha mente, para que ela não troque Você por mim e corra para longe, Ó Arunachala!
8. (a) Mostre a Sua beleza para que a mente inconstante possa ver-Lhe para sempre e descansar em paz, Ó Arunachala!
(b) A mente prostituta vai deixar de andar nas ruas apenas se encontrar-Lhe. Portanto, revele Sua beleza e mantenha-na cativada, Ó Arunachala!
(c) A mente, por sua instabilidade, impede minha busca por Você e impede que eu encontre a paz; contenha-a e conceda-me a visão da Sua beleza, Ó Arunachala!
9. Depois de ter me raptado, se agora Você não me abraçar, onde estará o Seu cavalheirismo, Ó Arunachala?
10. Será que Você dorme quando eu fico indignado com os outros, Ó Arunachala?
11. Mesmo quando os ladrões dos cinco sentidos me assolam, mesmo assim Você não está em meu coração, Ó Arunachala?
12. Você é um sem um segundo, quem então poderia ousar lhe enganar e entrar? Esse é apenas o seu malabarismo, Ó Arunachala!
13. Significado do Om, inigualável - insuperável! Quem pode compreender-Lhe, Ó Arunachala?
14. Como a Mãe Universal é Seu dever distribuir a Sua graça e salvar-me, Ó Arunachala!
15. (a) Quem jamais poderá encontrar-Lhe? O Olho do olho é Você e sem olhos Você vê, Ó Arunachala!
(b) Sendo a visão do olho, mesmo sem olhos encontre-me. Quem além de Você pode descobrir Você, Ó Arunachala?
16. Faça comigo como o ímã faz com o ferro, magnetizando-me e prendendo-me, Ó Arunachala!
17. Montanhan imóvel derretendo-se em um Mar de Graça, tende piedade de mim, eu rogo, Ó Arunachala!
18. Joía ardente, brilhando em todas as direções, queima minhas impurezas, Ó Arunachala!
19. Brilhe como meu Guru, livrando-me das falhas e tornando-me digno de Sua graça, Ó Arunachala!
20. Salve-me das armadilhas cruéis das mulheres fascinantes e honre-me com a união com Você, Ó Arunachala!
21. Embora eu implore, Você fica indiferente e não é condescendente. Eu Lhe rogo! Diga para mim: 'Não tema', Ó Arunachala!
22. Espontaneamente Você dá, essa é a Sua fama imperecível. Não desminta o Seu nome, Ó Arunachala!
23. Doce fruto em minhas mãos, deixe-me enlouquecer de êxtase, embriagado com a bem-aventurança de Sua essência, Ó Arunachala!
24. Sendo proclamado como o devorador de Seus adeptos, como podem sobreviver os que Lhe abraçam, Ó Arunachala?
25. (a) Você que é imperturbável pela raiva! Qual crime condenou-me à Sua ira, Ó Arunachala?
(b) Você que é imperturbável pela raiva! Que austeridades ficaram incompletas nos nascimentos anteriores e me trouxeram o Seu favor especial, Ó Arunachala?
26. Gloriosa Montanha do Amor, celebrada por Gautama, governe-me com o Seu olhar misericordioso, Ó Arunachala!
27. Sol deslumbrante que engoliu todo o universo em Seus raios, abra o lótus do meu Coração, eu rogo, Ó Arunachala!
28. (a) Permita que eu, a sua presa, me renda a Ti e seja consumido, e assim obtenha paz, Ó Arunachala! (b) Eu vim para me alimentar de Você, mas Você alimentou-se de mim; agora há paz, Ó Arunachala!
29. Lua de Graça, com Seus raios frescos como mãos, abra dentro de mim o orifício de ambrosia e deixe meu coração se alegrar, Ó Arunachala!
30. Rasgue essas vestes, deixe-me nu e vista-me com o Seu amor, Ó Arunachala!
31. Lá no Coração repouse tranquilo! Deixe o mar de alegria agitar-se, a fala e o sentido cessar, Ó Arunachala!
32. Não continue a me enganar e me prove; revele o Seu Ser transcendente, Ó Arunachala!
33. Conceda o conhecimento da vida eterna para que eu possa aprender a gloriosa sabedoria primordial e afaste a ilusão do mundo, Ó Arunachala!
34. A menos que Você me abrace, derreterei em lágrimas de angústia, Ó Arunachala!
35. Se for repelido por Você, ai de mim! O que restará para mim senão o tormento de minha prarabdha?* Que esperança restará para mim, Ó Arunachala?
36. Em silêncio Você disse: "Fique em silêncio” e Você permaneceu silenciosa, Ó Arunachala! *
37. A felicidade consiste em um repouso pacífico desfrutado quando repousamos no Ser. De fato, além da fala a sua proeza repousa no Ser. Verdadeiramente além da fala, é Este o meu estado, Ó Arunachala!
38. (a) Você mostrou Sua valentia uma vez e os perigos terminaram, volte ao Seu repouso, Ó Arunachala! (b) Sol! Você resplandeceu e o cerco da ilusão terminou. Então Você brilhou sozinha, imóvel, Ó Arunachala!
39. (a) Um cão pode farejar seu amo, sou então pior que um cão? Firmemente buscarei e recuperarei Você, Ó Arunachala!
(b) Sendo pior do que um cão (por falta de olfato), como posso seguir-Lhe até a Sua casa, Ó Arunachala?
40. Conceda-me sabedoria, eu Lhe suplico, de modo que não fique ansiando por Seu amor na ignorância, Ó Arunachala!
41. (a) Não encontrando a flor aberta, Você ficou como uma abelha frustrada, Ó Arunachala!
(b) Na luz do sol o lótus floresce, como pode então Você, o Sol de todos os sóis, pairando sobre mim como uma abelha de flor, dizer: "Você ainda não desabrochou em flor', Ó Arunachala?
42. (a) Você Realizou o Ser mesmo sem saber que essa era a verdade. O Ser é a própria verdade! Portanto, fale, se é assim, Ó Arunachala!
(b) Você é o tema da maioria dos diversos pontos de vista, ainda assim Você não é apenas isso, Ó Arunachala!
(c) Não é conhecido pelos tattvas, embora Você seja o ser deles! O que isso significa, Ó Arunachala!
43. (a) Que cada um é a própria Realidade, você mostrará através de Sua natureza, Ó Arunachala!
(b) Revele a Si mesmo! Apenas Você é a Realidade, Ó Arunachala! (c) A realidade não é nada além do Ser; não é essa toda a Sua mensagem, Ó Arunachala?
44. "Olhe para dentro, sempre buscando o Ser com o olho interior, então ele será encontrado." Assim dirija-me, Arunachala amado!
45. (a) Tendo buscado dentro apenas de maneira fraca, voltei sem recompensa. Ajude-me, Ó Arunachala!
(b) Embora meus esforços tenham sido fracos, através de Sua graça eu obtive o Ser, Ó Arunachala!
(c) Ao buscar-Lhe no Ser Infinito, recuperei meu próprio Ser, Ó Arunachala!
46. Que valor tem este de nascimento sem o conhecimento nascido da Realização? Ele não é digno nem de se falar a respeito, Ó Arunachala?
47. (a) Deixe-me mergulhar no Ser verdadeiro, onde imergem somente os puros de mente e de fala, Ó Arunachala! (b) Por Sua graça, estou afundado em Seu Ser, no qual imergem apenas os que estão despojados de suas mentes e, portanto, se tornaram puros, Ó Arunachala!
48. Quando tomei abrigo em Você como meu Deus Uno, Você me destruiu completamente, Ó Arunachala!
49. O tesouro da Graça santa e benigna, encontrada sem procurar, estabilizou minha mente errante, Ó Arunachala!
50. Ao buscar Seu Ser Real com coragem, o meu bote naufragou e as águas vieram sobre mim. Tenha piedade de mim, Ó Arunachala!
51. (a) A menos que Você estender a Sua mão cheia da graça em misericórdia e abraçar-me, estarei perdido, Ó Arunachala!
(b) Envolva-me corpo a corpo, membro a membro, ou estarei perdido, Ó Arunachala!
52. Ó imaculado, habite em meu Coração para que possa haver alegria eterna, Ó Arunachala!
53. (a) Não faça pouco de mim, que busco Sua proteção! Adorne-me com a Sua graça e, então, considere-me, Ó Arunachala! (b) Sorria com graça e não com desprezo para mim, que venho a Você pedir refúgio, Ó Arunachala!
54. (a) Quando me aproximei, Você não se curvou; permaneceu imóvel, unido a mim, Ó Arunachala! (b) Não Lhe envergonha ficar ali parado como um poste, deixando que eu tenha que encontrar-Lhe sozinho, Ó Arunachala?
55. Chove Sua Misericórdia sobre mim antes que o Seu conhecimento me queime às cinzas, Ó Arunachala!
56. Una-se a mim para destruir nossas identidades separadas na forma de Você e eu, e me abençoe com o estado de alegria sempre vibrante, Ó Arunachala!
57. (a) Quando irei tornar-me como o éter e chegar a Você, sutileza do ser, de modo que a tempestade de pensamentos possa acabar, Ó Arunachala?
(b) Quando as ondas de pensamentos deixarão de emergir? Quando é que chegarei a Você, mais sutil do que o éter sutil, Ó Arunachala?
58. (a) Sou um tolo desprovido de aprendizagem. Dissipa minha ilusão, Ó Arunachala! (b) Destrua meu conhecimento errado, eu Lhe suplico, pois falta a mim o conhecimento ao qual as escrituras conduzem, Ó Arunachala!
59. Quando eu derreti e entrei em Ti, meu Refúgio, encontrei-a nua como a famosa Digambara*, Ó Arunachala!
60. Em meu ser sem amor Você criou uma paixão por Ti, por isso não me abandone, Ó Arunachala!
61. (a) Um fruto murcho e estragado é inútil; colha e desfrute-se com ele maduro, Ó Arunachala!
(b) Eu não sou como uma fruta passada e podre; chama-me, então, ao recuo mais íntimo do coração e fixe-me na eternidade, Ó Arunachala!
62. (a) Porventura Você já trocou astuciosamente Você por mim? Pois minha individualidade se perdeu. Ah, Você é a morte para mim, Ó Arunachala! (b) Você já trocou astuciosamente Você por mim dando tudo sem tomar nada? Você não está cego, Ó Arunachala?
63. Considere-me! Pense em mim! Toque-me! Amadureça-me! Torne-me um com Você, Ó Arunachala!
64. Conceda-me a Sua graça, antes que o veneno da ilusão me agarre e, subindo à minha cabeça, me mate, Ó Arunachala!
65. Considere-me e dissipe a ilusão! A menos que Você faça isso, quem poderá interceder junto à própria Graça tornada manifesta, Ó Arunachala?
66. Com loucura por Ti, Você me libertou da loucura pelo mundo, dai-me agora a cura de toda loucura, Ó Arunachala!
67. Destemido eu busco a Ti, o próprio destemor! Como pode Você temer levar-me, Ó Arunachala?
68. Onde está a minha ignorância de Sua sabedoria, se fui abençoado com a união com Você, Ó Arunachala?
69. (a) Minha mente floresceu, então perfume-a com Sua fragrância e aperfeiçoe-a, Ó Arunachala! (b) Espose-me, eu Lhe suplico, e faça com que essa mente que agora é casada com o mundo se case com a perfeição, Ó Arunachala!
70. Um mero pensamento em Você me atraiu para Você, e quem pode medir Sua Glória em si mesma, Ó Arunachala?
71. Você possuiu-me, Espírito inexorcizável, e me deixou louco por Ti, para que eu possa deixar de ser um fantasma vagando pelo mundo, Ó Arunachala!
72. Seja minha estadia e meu apoio para que eu não tombe indefeso como uma trepadeira frágil, Ó Arunachala!
73. Você paralisou minhas faculdades com pó entorpecente, em seguida, roubou-me de minha compreensão e revelou o Conhecimento do Seu Ser, Ó Arunachala!
74. Mostre-me a campanha de Sua Graça no campo aberto onde não há ida nem vinda, Ó Arunachala!
75. Desapegado da estrutura física composta dos cinco elementos, deixa-me repousar feliz para sempre na visão do Seu esplendor, Ó Arunachala!
76. Você administrou o medicamento da confusão em mim, portanto devo estar confuso! Resplandeça como graça, a cura de toda a confusão, Ó Arunachala!
77. Resplandeça abnegado, minando o orgulho daqueles que se gabam de seu livre arbítrio, Ó Arunachala!
78. Sou um tolo que só reza quando está sobrecarregado de miséria, ainda assim não me decepcione, Ó Arunachala!
79. Guarde-me para que eu não erre pela tempestade como um navio sem timoneiro, Ó Arunachala!
80. Você cortou o nó que escondia a visão da Sua cabeça e Seu pé (o Ser ilimitado). Você não completaria a Sua tarefa como uma mãe, Ó Arunachala?
81. Não seja como um espelho segurado para um homem sem nariz, eleve-me de minha baixeza e abraçe-me, Ó Arunachala!
82. Abracemo-nos sobre a cama de flores macias, que é a mente, dentro da sala do corpo (ou da Verdade Suprema), Ó Arunachala!
83. Como é que Você ficou famoso por Sua constante união com os pobres e humildes, Ó Arunachala?
84. Você removeu a cegueira da ignorância com o unguento de Sua graça e fez-me realmente Seu, Ó Arunachala!
85. Você raspou minha cabeça deixando-a limpa (e eu estava perdido no mundo), então Você mostrou a Si mesmo dançando no espaço transcendente, Ó Arunachala!
86. (a) Ainda que tenha me soltado das brumas do erro e me deixado louco por Ti, por que Você ainda não me libertou da ilusão, Ó Arunachala? (b) Ainda que tenha me separado do mundo e me unido a Ti, Sua paixão por mim não esfriou, Ó Arunachala!
87. É o verdadeiro silêncio descansar como uma pedra inerte e incomunicável, Ó Arunachala?
88. Quem foi que atirou lama para mim como comida e roubou-me de minha vida, Ó Arunachala?
89. Quem foi que encantou minha alma entorpecendo-me, sem que ninguém soubesse, Ó Arunachala?
90. Falei assim, porque Você é o meu Senhor, não se ofenda, venha e me oferte a felicidade, Ó Arunachala!
91. Vamos apreciar um ao outro na casa do espaço aberto onde não é nem dia nem noite, Ó Arunachala!
92. Você mirou em mim com dardos de amor e depois devorou-me vivo, Ó Arunachala!
93. Você é o ser primordial, enquanto que eu não conto nem neste mundo nem no outro. O que Você ganhou então com o meu ser sem valor, Ó Arunachala?
94. Você não me convidou para entrar? Eu entrei. Agora regule para mim, minha manutenção é agora o Seu fardo. Difícil é o Seu fardo, Ó Arunachala! No momento em que me recebeu, Você entrou em mim e concedeu-me Sua vida divina, eu perdi a minha individualidade, Ó Arunachala!
96. Abençoe-me para que eu possa morrer sem me desgarrar de Você, ou meu destino será miserável, Ó Arunachala!
97. Da minha casa Você me seduziu, então moveu-se em segredo para meu coração e atraiu-me delicadamente para a Sua morada, tal é a Sua Graça, Ó Arunachala!
98. Eu traí Seus trabalhos secretos. Não fique ofendido. Mostre-me Sua Graça agora abertamente e salve-me, Ó Arunachala!
99. Conceda-me a essência dos Vedas que brilha no Vedanta, una e única, Ó Arunachala!
100. (a) Até mesmo minhas calúnias, trate como louvores e guarde-me para sempre como sendo Seu, eu rogo, Ó Arunachala!
(b) Faça com que até as difamações sejam como elogios para mim, e guarde-me para sempre como Seu, eu rogo, Ó Arunachala!
(c) Coloque Sua mão sobre minha cabeça! Faça-me participante de Sua Graça! Não me abandone, eu rogo, Ó Arunachala!
101. Como a neve na água, deixe-me derreter como o amor em Você, que é o próprio amor, Ó Arunachala!
102. Eu tinha apenas pensado em Você como sendo Aruna, e eis que fui apanhado na armadilha da Sua graça! Pode jamais falhar a rede da Sua graça, Ó Arunachala?
103. Observando-me como uma aranha para prender-me na teia de Sua graça, Você me enrolou e quando me prendeu se alimentou de mim, Ó Arunachala!
104. Deixe-me ser o devoto dos devotos daqueles que ouvem o Seu nome com amor, Ó Arunachala!
105. Resplandeça para sempre como o amoroso salvador dos suplicantes desamparados como eu, Ó Arunachala!
106. Familiares aos Seus ouvidos são as doces canções dos devotos que derretem até os ossos de amor por Ti, ainda assim deixe meus pobres esforços também serem aceitáveis, Ó Arunachala!
107. Montanha de Paciência, tolere minhas palavras tolas, considerando-nas como hinos de alegria ou como Você preferir, Ó Arunachala!
108. Ó Arunachala! Meu amado Senhor! Jogue a Sua guirlanda nos meus ombros e vista esta aqui encordoada por mim, Ó Arunachala!
Bendito seja Arunachala! Bendito sejam os Seus devotos!
Bendita seja esta Guirlanda Marital de Letras!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Kabir - Oito Poemas



Conte para mim, Cisne, seu antigo conto.
De que terra você vem, Cisne? Para que costa você vai voar?
Em que lugar você gostaria de descansar, Cisne, e o que você procura?
Ainda esta manhã, Cisne, desperta, levanta e siga-me!
Há uma terra onde nem a dúvida e nem a tristeza governam:
onde o terror da morte não existe mais.
Lá os bosques da primavera são floridos e o aroma perfumado

"Ele sou Eu" é trazido pelo vento:
Lá a abelha do coração está profundamente imersa

e não deseja nenhuma outra alegria.


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Ó meu coração! o Espírito Supremo, o grande Mestre, está perto de você:
despete, desperte!
Corra para os pés de seu Amado: pois o seu Senhor está perto de sua
cabeça.
Você tem dormido por incontáveis séculos, nesta manhã você não vai
acordar?


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Para qual margem você haveria de atravessar, meu coração?

Nunca houve um viajante antes de você, não existe estrada:
Onde está o movimento, onde está o repouso nessa margem?
Não há água ali, não há barco e nem barqueiro;
Nem mesmo uma corda para prender o barco, nem um homem para puxá-lo.
Não há terra, nem céu, nem tempo, nem coisa alguma lá:

não há praia e nem banco de areia!
Lá não há nem corpo nem mente: e onde fica o lugar
que poderá saciar a sede da alma? Você não encontrará nada
nesse vazio.
Seja forte e entre em seu próprio corpo: pois aí o seu chão é firme.

Pense bem, ó meu coração! não vá para outro lugar,
Kabir diz: "Afaste todas as imaginações e permaneça firme nisso que
que você é. "


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Ó irmão, meu coração anseia por aquele Guru real que preenche o copo
do amor verdadeiro e bebe-o ele próprio e então oferece-o para mim.
Ele remove o véu dos olhos e dá a verdadeira Visão de Brahma:
Ele revela os mundos Nele e faz-me ouvir a Música não tocada:
Ele mostra a alegria e a tristeza como sendo uma:
Ele preenche toda a palavra com amor.
Kabir diz: "Na verdade aquele que tem tal guru para condizí-lo

ao abrigo da segurança, não tem medo! "


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As sombras da noite caem de maneira espessa e profunda,

e a escuridão do amor envolve o corpo e a mente.
Abra a janela para o oeste e perca-se no céu do amor;
Beba o doce mel que embebe as pétalas da flor de lótus do coração.
Receba as ondas em seu corpo: que esplendorosa é essa região do mar!
Hark! os sons dos búzios e dos sinos estão surgindo.
Kabir diz: "Ó irmão, eis que o Senhor está nesta embarcação do meu corpo. "


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Mais do que todas as coisas, eu guardo no coração esse amor que me faz
viver uma vida sem limites neste mundo.
Ele é como o lótus que vive na água e floresce na água

e ainda assim a água não pode tocar suas pétalas,

elas abrem além de seu alcance.
É como uma mulher que entra no fogo sob as ordens do amor.
Ela queima e deixa os outros sofrerem, mas nunca desonra o amor.
Este oceano do mundo é difícil de atravessar: suas águas são muito
profundas. Kabir diz: "Ouça-me, ó Sadhu, poucos são os que
chegaram ao fim dele. "


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Ó amigo, acorde e não durma mais!
A noite acabou e se foi, você vai perder o seu dia também?
Aqueles que despertaram receberam jóias;
Ó mulher tola! você perdeu tudo enquanto dormia.
Seu amante é sábio e você é tola mulher!
Você nunca preparou a cama de seu marido:
Ó louca! você passou o seu tempo num jogo bobo.
Sua juventude foi passada em vão, pois você não conheceu o seu Senhor;
Acorde, acorde! Veja! sua cama está vazia: Ele a deixou durante a noite.
Kabir diz: "Só acorda aquela cujo coração é perfurado com a flecha
da música Dele. "


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Para onde a noite vai quando o sol está brilhando?

Se é noite, o sol retira sua luz. Onde o conhecimento está,


pode a ignorância durar?
Se há ignorância, o conhecimento deve morrer.
Se há luxúria, como o amor pode estar presente?


Onde há amor, não há luxúria.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

São Teófanes o Recluso - O Trabalho Interno (parte 2)


“E tudo o que fizerdes de palavra ou de ação, fazei-o em nome do senhor Jesus, por ele dando graças a Deus, o Pai.” (Col.iii.17)


Aqui São Paulo fala da terceira maneira pela qual nós provamos que nossa morada oculta é em Deus – e é ao fazermos tudo em nome do Senhor. Quanto aos outros dois métodos, através do primeiro – a leitura das Escrituras e a assimilação das verdades reveladas que elas contêm – nós banimos as imaginações vãs e impuras e preenchemos a nossa mente com bons pensamentos, totalmente concernidos com as coisas divinas; e por meio do segundo – a oração – nós estabelecemos em nós mesmos o hábito de lembrar de Deus sempre e de caminhar continuamente em Sua presença. Ambos os métodos mantêm nossa atenção e nossos sentimentos absorvidos em Deus. Parece, talvez, que isso deveria ser o bastante? Parece que sim mas não é. Se apenas esses dois métodos forem usados eles não nos levarão ao objetivo que desejamos. O homem não é apenas pensamento e sentimento, mas acima de tudo ele é ação. Ele está sempre se movendo, constantemente ativo. Mas toda a ação envolve atenção e sentimento. O homem que age fica totalmente envolvido em sua ação. Consequentemente, o homem que busca a Deus descobrirá que por causa de certas coisas ele não pode evitar de fazer, ele inevitavelmente irá desviar-se de Deus em seu pensamento e depois do pensamento em seu sentimento. As ocupações baixam-no do céu para a terra, ou levam-no de sua reclusão em Deus para os relacionamentos externos com outros seres humanos. Pois nossas ocupações são quase todas visíveis, uma vez que são desempenhadas entre nossos semelhantes e entre as coisas dos sentidos. Segue-se disso que se as ocupações de um homem não são dirigidas de maneira que permitam-no manter sua vida reclusa em Deus, os dois primeiros métodos permanecerão infrutíferos e se tornará até mesmo impossível para ele praticá-los como deveria. As ocupações continuam nos distraindo – mesmo a prática de estudar as Escrituras Sagradas e a prática da oração. E assim o Apóstolo, na passagem que foi citada, nos ensina como transformar todas as nossas ações num meio de preservar nossa vida secreta em Deus: isso pode ser alcançado ao “fazer tudo em nome do Senhor”. Se conseguirmos nos sintonizar dessa maneira, não nos afastaremos do Senhor nem em pensamento nem em sentimento. Pois fazer tudo em nome do Senhor significa fazer todas as coisas em Sua glória, desejando agradá-Lo, tendo entendido a Sua vontade corretamente até mesmo em algum assunto trivial. Nisso os membros do corpo, como ferramentas, irão fazer o trabalho e os pensamentos e sentimentos serão voltados na direção do Senhor, ansiosos para executar sua tarefa de uma maneira que agrade a Deus e que seja obediente à Sua glória.

Esse método é mais efetivo do que os outros dois para assegurar nosso propósito, o sucesso nos dois primeiros depende do sucesso no último. Pois os dois primeiros são mentais em caráter e o que é da mente entra em nosso ser todo através da ação. Quando nossa ação é santificada por sua dedicação a Deus, então no processo de desempenhá-la, um certo elemento divino entra em todos os órgãos e poderes que participam do trabalho. Quanto maior o número de tais ações, mais serão os elementos divinos entrando no ser de um homem. E, posteriormente, eles preenchem-no completamente de modo que toda sua natureza é imersa no divino e passa a habitar em Deus. Gradualmente, conforme essa orientação vinda de Deus é estabelecida, a oração e a adoração de Deus, acompanhadas por pensamentos do que é bom, tornam-se mais firmemente estabelecidos também. A oração e a adoração influenciam o trabalho sendo feito pela glória de Deus e por estarmos residindo no divino, como recompensa nossas próprias ações são adornadas com maior força e efetividade.

São Paulo abarcou todas as nossas atividades em dois termos: palavra e ação. As palavras são proferidas pela boca, as ações são realizadas por outros membros. Desde o momento que acordamos até o momento que adormecemos estamos continuamente engajados em ambos. Nossa fala prossegue quase sem parar, enquanto que os vários movimentos do corpo continuam incessantemente. Que oferenda rica para Deus seria se tudo isso pudesse ser dirigido à Sua glória! Ao fazermos nossa fala servir a glória de Deus, não apenas o falar maligno é banido mas também o falar desnecessário e a conversa fiada; apenas um tipo de fala permanece – aquele que serve para edificar nossos irmãos ou que pelo menos não lhes traz nenhum dano. Deveríamos também consagrar nosso discurso a Deus ao recitar orações. Ademais, ao voltar nossas ações para a glória de Deus, não apenas podemos nos livrar das más ações provenientes da luxúria ou da irritação, mas também somos capacitados a ver em que espírito deveríamos realizar tais ações conforme sejam permissíveis, necessárias e úteis. Isso livra nossas ações de toda aliciação do ser para fins desonestos e de toda servidão ao mundo e seus maus caminhos.

Fazer tudo em nome do Senhor significa voltar tudo para Sua glória, tentar realizar tudo de tal maneira a agradá-Lo, consciente de que é Sua vontade. Significa também circundar toda a ação de orações a Ele, começar a ação com oração e terminá-la com oração; quando começarmos, pedir Sua bênção, conforme prosseguirmos, rogar por Sua ajuda e quando terminarmos, dar graças a Ele por completar Seu trabalho em nós e através de nós.


Aprenda a desempenhar tudo o que você faz de tal maneira que isso aqueça o coração em vez de esfriá-lo. Seja lendo ou orando, trabalhando ou falando com os outros, você deveria firmar-se à esta meta – não deixar o seu coração esfriar. Mantenha o seu forno interno sempre quente recitando uma prece curta e vigie seus sentimentos caso eles dissipem esse calor. As impressões externas muito raramente estão em harmonia com o trabalho interno.


Algumas vezes as paixões são destruídas dentro de nós através de nossos próprios esforços mentais e ativos, algumas vezes por nosso diretor espiritual e às vezes pelo próprio Senhor. Já foi dito que sem a luta mental interna nossos esforços externos não podem ter êxito. O mesmo é verdade com relação aos esforços que fazemos sob a orientação de um diretor e também da purificação operada pela Providência. A luta interna deveria portanto ser contínua e incessante. Por si mesma ela não é muito forte, mas quando está ausente, todos os outros meios são ineficazes e sem utilidade. Aqueles que trabalham ativamente e aqueles que sofrem, aqueles que choram e aqueles que obedecem as regras imposta a eles – em todos os grupos igualmente, muitos pereceram e estão perecendo agora porque não se engajaram na batalha interna, guardando suas mentes e corações.

Lembre-se do que dissemos sobre o valor positivo do trabalho interno – que é o trabalho interno que dá a todas as nossas atividades externas o seu propósito e sua eficácia. Isso nos mostra o quanto o trabalho interno é importante: tornar-se-á claro para todos que ele constitui o ponto de partida, a base e a meta de todos os tipos de esforços espirituais e ascéticos.

Toda a nossa tarefa pode ser reduzida à regra seguinte: coletando a si mesmo em seu interior, recobre sua consciência de si espiritual, ponha-se a trabalhar internamente, e, preparado dessa maneira, pratique as tarefas externas impostas a você seja pelo seu diretor espiritual ou pela Providência. Mas enquanto fizer isso você deve observar e notar com uma atenção rigorosa e inabalável tudo o que surgir dentro de você. Assim que alguma paixão for despertada, cace-a e golpeie-a, tanto mental como ativamente, não esquecendo de reacender dentro de si e aumentar o calor do espírito da contrição e do pesar por seus pecados.

É sobre isso que toda a atenção do gladiador espiritual deveria ser dirigida. Dessa forma, através de contínua concentração ele irá impedir-se de ser distraído e irá como que montar no lombo de sua mente. Conforme seguir esse caminho interno sempre vigilante com relação a si mesmo, ele aprenderá a virtude da sobriedade.

Agora você pode entender por que os gladiadores espirituais sempre consideraram a sobriedade como a principal virtude em todo o trabalho espiritual e por que eles consideram aqueles que carecem dela como estéreis.


Cada homem, portanto, deve treinar a si mesmo e instilar em si mesmo as verdades contidas nas palavras de Cristo, de modo que elas possam entrar e habitar dentro dele. Com esse propósito em vista ele deveria ler e refletir sobre elas e consigná-las à memória, ele deveria aprender a estar internamente em simpatia com elas, sentindo um profundo amor por elas e então deveria colocá-las em prática. Essa última ação é toda a meta da auto-educação. Enquanto isso estiver faltando não podemos dizer de um homem que ele instruiu-se, mesmo que ele saiba as palavras de Cristo de cor e tenha um bom raciocínio. É precisamente por carecerem disso que São Paulo censurou os Judeus em sua Epístola aos Romanos: “ora tu, que ensinais aos outros, não ensinas a ti mesmo?” (Rom.ii.21). Se um homem prega Cristo mas não vive ele mesmo Nele, então a palavra de Cristo não entrou nele.


É claro que qualquer tipo de educação vinda dos outros apenas traz frutos quando é combinada com o ensinamento do próprio homem a si mesmo. Cada um deve fazer-se perceber o sentido daquilo que lhe é ensinado, de modo que após ouvir ou ler algo ele se persuada não apenas a pensar exatamente daquela maneira, mas também a sentir e a agir. Pois a palavra de Cristo entra num homem para habitar nele apenas se ele tem êxito em persuadir-se a acreditar e a viver de acordo com ela.


De fato, um homem é insensato se ele lê diligentemente as palavras de Deus mas falha em ponderar sobre elas, não fazendo-se sentir o seu significado e não praticando-nas em sua própria vida. Pois assim a palavra de Deus flui por ele como a água numa sarjeta, sem entrar nele e não deixando nenhuma marca. Podemos conhecer todo o Evangelho e todas as Epístolas de cor e ainda assim não ter a palavra de Deus habitando internamente, porque não as estudamos da maneira correta. Portanto, um homem age tolamente se alimenta apenas a sua mente com a palavra de Cristo e não se preocupa em trazer seu coração e sua vida em correspondência com ela. Então ela fica nele como areia jogada em sua cabeça e memória, que fica lá morta em vez de viva. A palavra de Cristo vive apenas quando passa para o sentimento e para a vida, mas em tal homem isso não ocorre e portanto não podemos dizer que a palavra de Cristo habita nele.


Apenas Deus e a alma: isso é ser verdadeiramente um monge. Mas como podemos atingir isso? Através de qualquer maneira que você prefira, contanto que você de fato alcance isso, pois enquanto um homem não atingiu esse estado, ele ainda não é um monge.


O que realmente significa ser um recluso? Significa que a sua mente, encerrada no coração, coloca-se diante de Deus com reverência e não sente nenhum desejo de deixar o coração ou de ocupar-se com qualquer outra coisa. Busque esse tipo de reclusão e não se preocupe com o outro. Mesmo atrás de portas fechadas podemos vagar pelo mundo ou deixar o mundo inteiro invadir nosso aposento.


Como você poderia ordenar-se internamente de modo a desfrutar da paz da alma? Assegure para si mesmo a solidão interior. Mas tal solidão não é um mero vácuo, nem pode ser adquirida simplesmente ao criarmos um vazio completo em nós mesmos. Quando você se retirar para dentro de si mesmo, você deveria ficar diante do Senhor e permanecer em Sua presença, não deixando os olhos da mente se desviarem do Senhor. Essa é a verdadeira solidão – ficar face a face com o Senhor. Esse estado de estar diante do Senhor é algo que dá suporte e que mantém a si mesmo. Estar com o Senhor é a meta de nossa existência e quando estamos com Ele não podemos deixar de experimentar um sentimento de bem estar, esse sentimento naturalmente atrai a nossa atenção para si e através disso para o Senhor, de quem o sentimento vem.


O residir de nossa alma com o Senhor, que é toda a essência do trabalho interno, não é algo que depende de nós. O Senhor visita a alma e a alma habita com Ele. A alma regozija-se com Ele e Ele preenche-na com calor espiritual. Então o Senhor se afasta e de imediato a alma fica vazia, não está de modo algum em seu poder fazer o Bom Visitante das almas retornar. O Senhor se afasta para colocar a alma em teste, ou algumas vezes para puni-la, não tanto pelas transgressões externas mas por algum mal interior ao qual a alma garantiu admissão. Quando o Senhor se afasta para colocar a alma em teste, Ele prontamente retorna outra vez quando ela começa a chamar por Ele. Mas quando se afasta como uma punição, Ele não retorna logo – não até que a alma tenha percebido o pecado que cometeu, tenha se arrependido, tenha chorado por isso e feito penitência.