sábado, 20 de novembro de 2010

Ibn Arabi - O Discurso da Águia Real

Eu sou a águia.

A mim pertencem a mais elevada estação, a beleza e a luz brilhante mais resplandescente.

Carrego tudo de acordo com sua classe determinada nas fronteiras deste mundo, mas meu poder é mais inacessível.

Sou a efusão sublime dele, a luz de sua existência.

Sou aquele que chama a existência e ela obedece.

Sou aquele que nunca cessa de ser o “punhado” de meu criador,

O instrumento de sua generosidade.


As realidades apressam-se em minha direção para buscar sua suficiência.

Eu dou e retiro de quem quer que eu deseje.


Se me aproximo, a beleza do ser dele me aturde.

Se me afasto, seu esplendor me chama.

A aproximação confere sobre mim uma sabedoria amável

mas rasga o coração do elevado.

A distância investe com um comando partilhado cuja luz ilumina suas fronteiras.

Quando estou distante sou o comandante -

Minha miséria está em meu comando e minha felicidade é quando ele é removido.

O mais prazeroso de meus momentos é quando vejo as essências das novas luas emergindo.


Estava ainda não-existente como uma entidade em um dos níveis da criação quando a solicitude divina surgiu e tornou minha existência o início. Tendo se manisfestado para si mesma, minha existência foi prolongada em minha contemplação. Recebi a classificação suprema através da forma e a parte mais secreta do meu ser tornou-se seu Trono. O nome divino todo-abrangente sentou-se sobre mim. Seus dois vizires, Aquele que dá e Aquele que toma e seu dois camareiros, Aquele que confere o dano e Aquele que confere o bem, montaram em seus dois estribos. Após ter sentado e aparecido e os nomes “poderoso” e “sublime” terem sido dados a mim, a corte ficou completa. A subsistência e a aniquilação apareceram, efusão e profusão seguiram uma a outra em curso alternado e a expansão e a contração foram firmemente estabelecidas. Através do reino o rei foi confirmado, através da mensagem o anjo tornou-se manifesto e através das estrelas a esfera foi posta em movimento.


Sou o conhecimento da criação oculto no manto da inviolabilidade divina. Um bando de filósofos inventou mentiras a meu respeito e uma gangue de nobres tentou capturar-me. Eles armaram a rede de caçar aves de seus pensamentos para caçar-me e usaram contra mim os próprios meios que eu mesmo tinha lhes fornecido para ganhar do meu trabalho. E quando suas aspirações espirituais foram suficientes para me compreender em sua rede de passarinheiro de pensamentos, eles capturaram nela uma águia com minha forma do país da ilusão. Eles disseram: “Esta é a clara verdade!” Mal sabiam que a verdade não estava clara para eles e nunca estará. O conhecimento de mim e de minha existência depende do que é ofertado como um presente ou recompensado por mérito. Satã incitou-os a duvidar e eles imaginaram que tinham aterrizado no cume quando na verdade sua estação era os baixos planos. Eles consideraram enganosamente anterioridade como eternidade, declarando-me eterno e que minha existência não vai de encontro à não-existência. Abandonei-os em sua confusão “assim como carne na tábua do açougueiro.” Aqueles que cometem uma injustiça ao comando divino devem ser oprimidos! Estou livre do que eles atribuem a mim, e não acredito no que colocam. Pois Deus, seja Sua glória magnificada, era de toda a eternidade enquanto eu estava sob o decreto da não -existência. Então Ele trouxe-me à existência da não-existência através de uma precedência pré-eterna e minha essência tornou-se manifesta. Ele iluminou minha existência com seu conhecimento e proveu-me de pobreza e fraqueza, afastando-me do poder e da glória. Sou um humilde que não tem glória e o poderoso que não cessa de ser fraco.