quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Kabir - Cinco Poemas


Amigo, diga-me por favor o que posso fazer

com relação a este mundo ao qual me seguro

e que continua rodando.


Eu abandonei as roupas costuradas e vesti um roupão,

mas notei um dia que o tecido dele era bem costurado.

Então comprei um pano grosseiro,

mas ainda assim joguei-o elegantemente sobre meu ombro esquerdo.

Eu refreei meus desejos sexuais

e agora descobri que fico nervoso com muita frequência.


Abandonei a raiva e agora noto

em mim a avidez o dia todo.


Lutei duro para dissolver a avidez

e agora estou orgulhoso de mim mesmo.


Quando a mente quer quebrar seu elo com o mundo

ela ainda se agarra a uma outra coisa.


Kabir diz: Ouça meu amigo,

existem muito poucos que encontram o caminho!


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Não sei que tipo de Deus temos falado a respeito.

O chamador chama em voz alta o Sagrado ao entardecer.

Por que? Certamente o Sagrado não é surdo.

Ele escuta as delicadas tornozeleiras que badalam nos pés de um inseto quando ele caminha.


Siga incessantemnte as contas em seu cordão,

pinte desenhos estranhos em sua testa,

use seu cabelo emaranhado, longo e ostentoso

mas quando há fundo dentro de você uma arma carregada,

como você pode ter Deus?


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A mulher que está separada de seu amante

gira na roda de fiar.


A bagdá do corpo eleva-se com suas torres e portões.

Dentro dela o palácio da inteligência foi construido.


A roda do amor extático gira no céu

e a cadeira giratória é feita das safiras do trabalho e do estudo.


Essa mulher tece fios que são sutís

e a intensidade de seu louvor torna-os finos!


Kabir diz: Sou essa mulher.

Estou tecendo o linho do dia e da noite.


Quando meu Amante vier e eu sentir seus pés,

o presente que terei para Ele são lágrimas.


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Um certo pássaro senta nesta árvore.

O deleite da vida está onde ele dança.

Ninguém sabe onde o pássaro está,

nem o que toda esta música significa.

Ele faz um ninho onde os galhos criam maior escuridão.

Aparece no crepúsculo e desaparece na alvorada

e ele nunca dá nenhuma pista do que tudo isso significa.


Ninguém fala comigo sobre esse pássaro cantor.

Ele não tem cor nenhuma e ao mesmo tempo não é livre de cor.

Não tem forma, desenho, nem margens.

Ele senta na sombra projetada pelo amor.

Vive no que não pode ser atingido, onde o tempo não termina,

onde coisas mortais não existem.

E ninguém presta atenção às suas chegadas e partidas.

Kabir diz: Você se preocupa, buscador, isso tudo é um grande mistério.

Diga a todos os homens sábios que

seria uma boa coisa saber aonde esse pássaro passa a noite.


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Dentro deste jarro de barro há desfiladeiros e montanhas de pinheiros

e o construtor dos desfiladeiros e das montanhas!

Todos os sete mares estão dentro e centenas de milhares de estrelas.

O ácido que testa ouro está lá e o avaliador das jóias também.

E a música das cordas que ninguém toca e a fonte de toda a água.


Se você quer a verdade, lhe falarei a verdade:

Amigo, escute: o Deus que amo está dentro.