quarta-feira, 14 de julho de 2010

P. D. Ouspensky - O Raio da Criação / A Lei de Três / A Lei de Sete

Falei sobre o estudo do homem e o estudo do mundo em que vive o homem, em primeiro lugar, a fim de encontrar o lugar do homem no universo e, em segundo, para tentar entender por que o homem é o que ele é e por que ele não pode ser diferente, porque ele está nessas circunstâncias. Não podemos encontrar respostas para todas essas questões estudando o homem separado do universo, temos que estudar o homem em paralelo com o universo. Num certo sentido, o homem é análogo ao universo. Se tomarmos o universo como um todo e o homem em relação a ele, então certas leis compreenderemos melhor ao estudar o homem e algumas outras leis compreenderemos melhor ao estudar o universo. Em relação ao estudo do universo, você deve antes de tudo compreender o método que usamos: estudamos o universo baseado no princípio de escala num sentido muito simples. Por exemplo, sua própria casa onde você vive, você a conhece numa escala proporcional ao seu corpo, mas a cidade em que você vive você não conhece na mesma escala, você a conhece numa escala muito menor, conhece apenas as partes dela que você precisa conhecer, lugares onde você tem de ir. Algumas partes você conhece bem, outras não tão bem, e, provavelmente, não há nenhuma parte que você conheça tão bem como a sua casa. E você conhece a Inglaterra numa escala ainda menor. O mesmo princípio é usado em geografia e astronomia. Por exemplo, estudamos a terra numa escala porque vivemos na terra, mas todos os outros planetas do Sistema Solar tomamos juntos, porque não precisamos estudá-los separadamente. De uma maneira ou de outra eles afetam a nossa vida, mas esses são apenas os planetas do Sistema Solar que conhecemos. Planetas de outros sistemas que nós não estudamos, nós consideramos apenas os sóis com tudo o que está incluído na influência desses sóis. Mais tarde você vai se encontrar exemplos desse método como sendo diferente de outros métodos. Normalmente, as pessoas não pensam sobre isso, estudam o universo inteiramente aparte do estudo do homem. Dessa forma, elas acumulam uma certa quantidade de conhecimento, mas é conhecimento desconexo.
Segundo este método, diferentemente dos métodos usuais, estudamos o homem como parte da vida orgânica na terra. A vida orgânica é uma espécie de película sensível que cobre a Terra e serve a um propósito definido. Em geral, podemos dizer que serve o propósito da comunicação, porque sem ela, o sol, os planetas e a lua não poderiam se comunicar com a terra suficientemente, e sem a ajuda da vida orgânica muitas coisas seriam perdidas. A vida orgânica captura as vibrações vindas do exterior e as transfere para a terra. Dessa forma, os homens, os animais, as plantas, cada um deles desempenha seu papel.
Estamos aqui na terra. A vida orgânica, da qual fazemos parte, está sob certas influências de todos os planetas, também estamos sob certas influências do sol, estamos sujeitos a certas influências de todos os sóis e, talvez, sob influências de todos os mundos. É claro, as influências de todos os mundos para o homem individual é muito pequena, mas sabemos que influências vêm do sol. Não sabemos muito sobre as influências da lua, mas ela desempenha um papel muito importante na vida orgânica, e sem entender como tudo está conectado e como a vida orgânica do homem sobre a terra está conectada com os planetas e o sol, não podemos compreender a posição do homem e sua vida presente como ela é. Por exemplo, é impossível compreender uma expressão que é usada em relação ao homem sem entender esse diagrama, a expressão que o homem vive em um lugar muito ruim do universo e que muitas coisas que consideramos injustas, contra as quais lutamos ou tentamos lutar, são realmente o resultado dessa posição da vida orgânica na terra. Se estivéssemos na lua seria ainda pior, não haveria possibilidade de desenvolvimento. Na terra há uma possibilidade de desenvolvimento, isso significa que podemos desenvolver certas partes de nós.
Muito pouco das influências planetárias vem a nós. Geralmente as influências planetárias são apenas sentidas pelas massas de pessoas, assim, as influências planetárias são responsáveis por guerras, revoluções e coisas desse tipo, mas o homem individual está muito pouco sob as influências planetárias, porque a parte que pode ser afetada pelas influências planetárias no homem é pouco desenvolvida. Essa parte não desenvolvida é a essência.
Até certo ponto o homem também está sob a influência do sol e ele pode estar sob influências muito mais elevadas se ele desenvolver os centros superiores* e se tornar conectado a eles. Assim, o desenvolvimento significa passar de um tipo de influências para outro tipo de influências. Atualmente, estamos mais particularmente sob a influência da lua. Podemos vir a estar sob a influência dos planetas, do sol e outras influências se nos desenvolvermos. Temos de nos tornar mais e mais conscientes para ficarmos sob essas influências.
É preciso encontrar analogias na vida cotidiana. Em condições ordinárias há uma grande quantidade de influências maiores e menores, algumas vezes a pessoa está mais livre, outras vezes menos livre. Ao utilizarmos o princípio de escala, o que está mais perto de nós é estudado numa escala maior, o que está mais longe de nós é estudado numa escala menor.
Já a definição do princípio de relatividade em um sentido psicológico é: a lei de acordo com a qual cada fase da experiência é influenciada por todos as fases dela. Assim, cada fase da existência da terra é influenciada por todas as experiências anteriores no Raio da Criação. O homem vive sob um grande número de leis: físicas, fisiológicas, biológicas, leis criadas pelo homem, etc, até chegarmos às leis da vida pessoal e, finalmente, ao 'eu' imaginário que é a lei mais importante que governa a nossa vida e nos faz viver na não-existente sétima dimensão. Numerosas forças atuam sobre nós a qualquer momento. Agora as pessoas são principalmente controladas pela imaginação. Nós nos imaginamos diferentes do que somos e isso cria ilusões. Mas existem leis necessárias. Estamos limitados a certos alimentos e certo ar, a uma certa temperatura, etc. Somos tão condicionados pelas influências que temos muito pouca possibilidade de liberdade. É necessário mudar a nossa atitude interior.

Devemos olhar para o Raio de Criação de muitos lados diferentes. Somente quando essa idéia for entendida será possível resolver as coisas. A idéia do Raio da Criação não usa fatos novos, apenas os dispõe de forma diferente. Certos fatos como o fato de que vivemos na terra, que terra é um dos planetas, que os planetas fazem parte do Sistema Solar e coisas como essas que são óbvias, mas, quando pensamos sobre o mundo em que vivemos, ordinariamente não as colocamos na mesma posição. No entanto, a disposição é necessária para a solução de todo problema comum, na aritmética ordinária, por exemplo, você tem que dispor seu material de uma determinada maneira e a maneira de dispor esse material inclui uma certa compreensão da maneira de resolver este problema. Isso se chama - enunciado do problema, assim, o Raio da Criação é também uma espécie de enunciação do problema de como definir o lugar do homem no mundo. Isso não apenas significa o lugar exato do homem, mas também a relação deste lugar com o maior número de pontos de referência possível. Dessa forma, encontramos o lugar do homem na terra e o estabelecemos, e então o lugar da lua, e, em seguida, dos planetas, do sol e assim por diante. Dessa maneira podemos nos compreender uns aos outros quando falamos sobre o mundo.
A dificuldade aparecerá talvez apenas com relação ao Absoluto, mas começando com todos os mundos não pode haver nenhuma dúvida sobre os fatos. O Raio de Criação deve ser entendido como um instrumento para um pensar novo. O pensamento velho é o nº 1, é principalmente imitação; o nº 2 - é emocional, baseia-se em simpatias e antipatias, o nº 3 – é o pensar lógico, não pode ser aplicado a coisas maiores. O pensar nº. 4 é o início de um pensamento que, pouco a pouco, ordena todas as contradições. O Raio de Criação é um método que elimina as contradições.
Na vida comum uma idéia sempre contradiz a outra. Há sempre duas teorias sobre tudo. Como por exemplo: o universo surgiu ou foi criado? Foi criado de acordo com um plano ou é um caos com ilhas organizadas? Os eventos são acidentais ou predestinados? Em um nível lógico a pessoa aceita uma teoria em um sentido, uma outra teoria num outro sentido, mas não se pode dizer qual é verdadeira. Todas são verdadeiras, mas apenas num certo sentido. A mente humana não pode inventar nada que seja absolutamente falso, há sempre alguma semelhança com a verdade em tudo o que ela inventa. Como por exemplo ao inventar um novo animal. Todas essas teorias: vontade / mecanicidade; acidente / predestinação; evolução / criação por vontade, estão todas corretas, cada uma em seu próprio lugar. O Raio da Criação mostra onde e como cada uma delas está correta. Em primeiro lugar, o Raio da Criação é estudado do ponto de vista da linguagem, mas muitas outras idéias também estão conectadas com o Raio de Criação.

O Raio da Criação pode ser considerado como uma oitava descendente, tomando-a como uma sucessão de eventos. O intervalo Dó-Si é preenchido pela Vontade do Absoluto. Quanto ao intervalo de Fá-Mi, a natureza tem fornecido aqui um instrumento que dá um choque adicional entre os planetas e a terra. Sem esse choque certas vibrações não passariam abaixo dos planetas, elas seriam refletidas pela terra. Para esse fim, uma máquina especial de caráter cósmico foi criada.
Essa máquina é a vida orgânica na terra. A vida orgânica desempenha um papel muito importante no Raio da Criação, ela garante a transmissão de energia e torna possível o crescimento do Raio da Criação. O ponto de crescimento do Raio é a lua. A idéia é que a lua se torna como a terra e a terra se torna como o sol; então, outra lua vai aparecer e assim isso continuará até um certo ponto. Mas isso está um pouco além de nós. A vida orgânica é uma espécie de aparelho receptor para receber influências planetárias vindas dos planetas do Sistema Solar. Ao mesmo tempo, fazendo esse trabalho, serve como um meio de comunicação entre a Terra e os planetas, a vida orgânica alimenta a lua. Tudo o que vive serve aos propósitos da terra, tudo o que morre alimenta a lua. Isso soa estranho a princípio, mas quando entendermos as leis que regem a vida orgânica, as leis sob as quais ela está baseada, vamos entender que toda a vida orgânica está baseada em uma lei muito dura, a lei que uma classe come a outra classe. É um arranjo muito cruel, mas torna a vida biológica não apenas auto-suficiente, mas permite-lhe alimentar a lua e servir para a transmissão de energias. Desta forma, ela serve aos propósitos dos mundos maiores, dos planetas, da terra, e do fim do Raio da Criação, a lua. Assim, a vida orgânica é útil para muitas finalidades.
Toda vida orgânica na terra desempenha um certo papel cósmico e tem um propósito cósmico. A vida orgânica está vinculada ao seu lugar. O homem, sendo tão pequeno, está menos vinculado, é mais livre e pode escapar. Se ele não escapar, enquanto vive, ele é alimento para a terra, e quando ele morre, é alimento para a lua. A lua alimenta-se da vida orgânica, quando ela se desintegra a lua suga tudo o que é importante para ela. Dessa forma a lua cresce. A vida orgânica é organizada em princípios severos: ela come a si mesma. E a lua come tudo. Desta forma, o Raio da Criação mostra como tudo está interconectado, tudo existe não para si mas para diversos propósitos diferentes. Há muitos outros lados da vida orgânica. A vida orgânica começa no Sol (a oitava, sol-lua). O Mi da segunda oitava entra em Mi (terra). Podemos ver como a vida orgânica entra na terra e desempenha um papel importante na estrutura da superfície da terra. A lua tira algo da vida orgânica que constitui a energia da vida: alguma energia elétrica, magnética, química, uma espécie de energia radiante que é chamada de a alma das coisas.
A questão surge: como podemos provar isso? Poderemos encontrar algumas provas mais tarde, por analogia, ao estudar o homem, porque a idéia é que o homem é construído sobre os mesmos princípios que o Raio da Criação. Há muitas coisas que não podemos provar de forma objetiva, mas talvez possamos encontrar provas estudando a nós mesmos.

Certa vez uma pergunta foi feita sobre porque a Vontade do Absoluto não se manifesta em nosso mundo. A Lei do Absoluto é a Sua Vontade. Esse tipo de disposição do material mostra que a Vontade do Absoluto, diferentemente das leis mecânicas deste mundo, não pode ser manifestada neste mundo, porque seria necessário para ela destruir todos os outros mundos que estão entre eles. Tente pensar sobre isso, é muito importante. Até uma certa medida, podemos compreender essa idéia ao encontrar em nós mesmos momentos de "vontade" e momentos de continuação mecânica. Eu quero dizer "vontade" no sentido em que a palavra é usada na vida cotidiana, em conversas comuns, não do ponto de vista da vontade criadora. Em certos momentos na vida você tem que fazer esforços e depois disso as coisas simplesmente acontecem, elas prosseguem, uma após a outra. Por exemplo, você está dormindo e não quer levantar-se, em seguida, você faz o esforço para se levantar, depois, por um longo tempo, as coisas acontecem sem nenhum esforço, seguem naturalmente. Ou, vamos supor que você tem que escrever uma carta e faz um esforço, pega a caneta. Se você olhar a partir desse ponto de vista, você verá que a Vontade do Absoluto não pode vir através da mecanicidade, mas ela inicia o rolar da bola.
O Raio da Criação dá a possibilidade de estudar alguns princípios muito importantes como o princípio da relatividade e o princípio de escala, sem os quais é impossível compreender o mundo. O princípio de escala é uma coisa simples. A idéia é que podemos saber muito mais do que normalmente sabemos se estudarmos as coisas comensuráveis com relação a nós e que têm relação conosco de alguma forma, e as coisas que estão mais distantes de nós e não tem nenhuma relação definida com nossa vida, de uma forma mais abstrata, em menor escala. Desta forma, podemos obter toda a quantidade necessária de conhecimento sem aprender muito, podemos saber tudo o que é necessário e esse conhecimento vai incluir muito poucas coisas inúteis. Somente desta forma você obtém a quantidade necessária de conhecimento, porque se aprender tudo indiscriminadamente, você não saberá as coisas necessárias.
O princípio da relatividade entra quando começamos a compreender que vivemos sob diferentes leis. Não estamos sob um conjunto de leis, mas sob quantidades de leis diferentes.
Um tempo atrás foi colocada a pergunta: "Quais são as 48 leis?" Se tomarmos 48 leis, temos de compreender que cada uma delas é um grande sistema de leis. Um deles são as leis físicas que existem na terra, outro, por exemplo, leis biológicas, e assim por diante. Nós sabemos algo sobre as leis físicas e biológicas, mas existem muitas leis sobre as quais não sabemos nada. Por exemplo, existem as leis cósmicas que não pertencem às três leis da própria Terra, estão relacionadas com alguma esfera maior e governam certas coisas que do nosso ponto de vista parecem triviais e insignificantes. Por exemplo, existe uma lei definida que cada classe de seres vivos só pode comer um certo tipo de alimento (de uma certa densidade até uma certa densidade). O homem pode comer coisas que estão entre determinadas densidades, entre determinadas qualidades e ele não pode mudar isso, assim como ele não pode mudar o ar que respira ou a temperatura na qual ele pode existir. Há muitas coisas como essas, são todas leis sob as quais o homem vive. Mas há muitas coisas a esse respeito não podemos saber, muitas coisas que não sabemos sobre as condições em que vivemos.


Segundo a Lei de Três, nenhum evento pode acontecer sem a concordância de três forças. Existem três ordens de tríades: 1-2-3 / 2-1-3 / 3-1-2 / 1-3-2 / 2-3-1 / 3-2-1
A Lei de Três deve ser entendida de uma forma mais complicada do que parece à primeira vista. É bem verdade que existem três forças. Deve ser entendido que elas não diferem uma da outra como atividade e passividade diferem em nossa idéia comum desses termos. Ativa e passiva são ambas ativas, uma força não pode ser passiva, são todas ativas. Mas há uma certa diferença na sua atividade em um determinado momento e essa diferença cria toda a gama de variedade no mundo. Ao mesmo tempo, cada força, que é agora ativa, no momento seguinte, em outra tríade, pode tornar-se passiva, ou neutralizante, e essa mudança de forças, onde uma torna-se outra, cria todos os fenômenos que observamos. Mas mesmo isso não é suficiente. É necessário compreender que existem combinações definidas de forças. Todos os fenômenos que observamos, nossas próprias ações, as ações das outras pessoas, tudo o que observamos pode ser dividido em classes definidas. Esses diferentes tipos de acontecimentos não têm nada em comum, eles têm resultados diferentes, precisam de esforços diferentes, e assim por diante. Essas divisões são muito difíceis porque as classes são muito grandes, ao mesmo tempo, não vemos a terceira força, vemos apenas os resultados.
Podemos distinguir dois tipos de ação, se algo for dito sobre elas. Por exemplo, em primeiro lugar, algum tipo de ação violenta, como a queima de uma casa com um fósforo. Outra atividade é a construção de uma casa. A ação com a qual a casa é queimada não é suficiente para construir uma casa. O terceiro tipo é mais difícil de ver. As ações pertencentes ao primeiro tipo são as ações violentas ou acontecimentos naturais. Quase todos os eventos biológicos pertencem ao primeiro tipo. Assim, a primeira tríade não significa apenas violência, há muitas coisas simples da vida que pertencem a essa categoria, tais como nascimento, morte e coisas assim. A maior parte da atividade humana pertence ao segundo tipo, embora muito dela pertença ao primeiro tipo. O segundo tipo sempre significa esforço ou sacrifício.
O primeiro tipo são ou fenômenos naturais, ou violência. Quando dizemos que as coisas acontecem naturalmente, isso significa que acontecem pela primeira tríade. Houve uma pergunta uma vez: "Se as coisas acontecem naturalmente, se estamos naturalmente sob 48 leis, devemos tentar mudar?” Mas toda a nossa vida consciente, intencional, significa luta contra o natural. Se quisermos apenas seguir o que é natural nunca passaremos deste ponto morto onde estamos.
Talvez alguém possa encontrar um exemplo do terceiro tipo. No Novo Testamento e provavelmente em outros escritos, talvez você possa encontrar referências do terceiro tipo de tríade. Por exemplo: "Tereis misericórdia e não sacrifício” - isso se refere ao terceiro tipo, essa seria uma ação pela terceira tríade (mas a palavra 'misericórdia' não está correta, ela tem um sentido completamente diferente).
A tríades que começam com a terceira força nós não podemos distinguir. Os fenômenos da vida como o nascimento, a morte, etc seguem na maior parte pela primeira tríade. Determinados fenômenos em nosso organismo acontecem pela segunda tríade. Nós devemos entender que as coisas podem ser de tipos e origens muito diferentes: como construir e queimar - não é a mesma ação. Atualmente, podemos estudar apenas duas tríades. Às vezes, sem saber, podemos usar a terceira tríade. Quando chegarmos a um estado em que pudermos usá-la conscientemente, seremos capazes de "fazer".
Pergunta: É melhor estar sob menos influências?
Sr. Ouspensky: Ou pior. Energia, vontade, entendimento, consciência podem ser criados somente através de esforço.
Pode-se observar as leis ao considerarmos como exemplo homem, animal, vegetal e mineral. O homem é mais livre. Atualmente, é apenas uma liberdade imaginária, mas ele pode adquirir liberdade real.
P: Você usou a palavra "esforço" em conexão com o segundo tipo de tríade?
Sr. O: Sim, esforço e sacrifício. Em certos casos, como mais tarde você vai ver no corpo humano, o trabalho prossegue sem esforço visível, porque é uma matéria e maquinário altamente organizados. Mas mesmo aí esforço é necessário em certos momentos.
P: O senhor poderia dar um exemplo de pessoas que tomam uma oitava descendente por ascendente?
Sr. O: Suponha que encontramos selvagens, pessoas selvagens, pensamos que são primitivos, e desses povos primitivos começa a se desenvolver civilização e cultura. Mas não percebemos que na maioria dos casos, eles são descendentes de pessoas cultas. Muitas vezes tomamos degeneração por evolução.
P: A escala ascendente sempre significa melhoria?
Sr. O: Mais uma vez, pode ser ou não pode. A idéia de evoluções mecânicas é o pior tipo de especulação, nós nunca tivemos quaisquer fatos para defendê-la, ninguém nunca viu um único pequeno exemplo de uma tal evolução. Isso significaria a formação de unidades mais complexas a partir de menos complexas, só por si. Seria o mesmo que esperar uma casa crescer, por si só, a partir de uma pilha de tijolos.
P: Qual é a interação entre a terra e a lua?
Sr. O: A ação da lua em nossa vida é puramente mecânica. Seria mais simples de entender se você assumir que a lua age por si mesma, por puro peso, em nossa vida, e recebe energias mais altas, matérias mais elevadas, que pouco a pouco tornam-a viva. Se lembrarmos os quatro tipos de energias: mecânica, vida, psíquica e consciente, então isso significa que a lua atua por energia mecânica, simplesmente pelo seu peso, como um eletro-ímã.
P: A Lei de Três trabalha em eventos de sucessão?
Sr. O: Sim, o tempo todo, mas as forças mudam o seu valor, o que era ativo torna-se passivo e o que era passivo torna-se neutralizante.
P: Se considerarmos os eventos, poderemos dizer que eles são de um tipo diferente de acordo com a força que opera por meio deles?
Sr. O: Sim, sem dúvida, segundo qual tríade opera, os eventos serão bastante diferentes. É interessante, você sabe, pois todos sabemos, por exemplo, como a mesma frase, as mesmas palavras, podem ter um significado bastante diferente de acordo com quem diz. Se uma pessoa disser, terá um significado, mas se outra pessoa disser, isso terá um significado diferente. Ou até mesmo a mesma pessoa pode dizê-la em momentos diferentes e o significado será diferente.
Tudo isso só parece complicado, mas logo você vai ver que é muito simples. Não há novas informações em todas estas coisas, ou muito pouco, mas com a ajuda dessa linguagem seremos capazes de falar de coisas novas, sem essa linguagem é quase impossível, porque nossas palavras são vagas demais, não são definidas o suficiente.

A Lei de Três significa que existem três forças originais no mundo e que cada evento, cada fenômeno é o resultado de três forças reunidas. Quando as três forças não se encontram, não há nenhum evento, nada acontece. As três forças são chamadas de positiva, negativa e neutralizante. A positiva e a negativa podemos observar em muitas manifestações diferentes. A força neutralizante, não estamos acostumados a ver, embora a sua presença seja muito clara em fenômenos fisiológicos e psicológicos. Se sabemos sobre a existência necessária dessa força, após observação, começamos a percebê-la, mas quando não sabemos não nos damos conta que esse terceiro elemento está lá. É um assunto muito grande, por isso é suficiente se você se lembrar disso e tentar encontrar três forças em cada ação. Às vezes você pode ter sucesso. Isso nos refuta à filosofia indiana na verdade, só que nela isso está tão misturado com comentários que é difícil encontrar sua forma original.

Agora temos de tentar compreender a segunda grande lei cósmica, a Lei de Sete. As tríades referem a eventos, cada evento separado, seja grande ou pequeno, significa alguma reunião das três forças. Ao falar da Lei de Três, falamos sobre a origem dos acontecimentos, agora vamos falar sobre como eles desenvolvem-se um do outro. Uma sucessão de eventos procede de acordo com a Lei de Sete, a Lei das Oitavas.
Nós tomamos o mundo como um mundo de vibrações. De uma maneira bastante elementar, notaremos ao observarmos essas vibrações, que elas não continuam da mesma forma como começaram. Ou as vibrações aumentam ou diminuem, há uma certa irregularidade na sua diminuição ou aumento. Se tomarmos o aumento das vibrações, observaremos que em um período entre um certo número de vibrações e o dobro desse número, há dois lugares ou momentos em que as vibrações desaceleram, e então começam de novo. Em seguida, verificamos que este aumento prossegue com uma certa irregularidade medida. Essa irregularidade medida foi calculada e colocada em uma certa fórmula. Essa fórmula que expressa uma lei cósmica, foi aplicada mais tarde à música na forma de escala maior. Mas, primeiro, existia como uma fórmula de uma determinada lei cósmica.
Todas as coisas no mundo acontecem de acordo com esse esquema. Há um desvio da linha de desenvolvimento, acontece com todas as nossas atividades quando não conhecemos essa lei e não sabemos como usá-la. Mais tarde você vai ver que existem muitas oitavas na nossa máquina. Nós chegamos à conclusão de que não usamos todas as nossas forças. Por que? Num certo ponto da oitava, há um intervalo em que as forças não passam. Se quisermos estar conscientes, temos de encontrar esse lugar e fazer um esforço especial. Como resultado, teremos atividade interna em vez de abrandamento e seguiremos com mais força ainda. Então, temos de encontrar um segundo lugar. Se dermos dois choques em nosso organismo, começamos a desenvolver. O primeiro choque é a lembrança de si.
No estudo dos eventos, se falamos de cada evento separadamente, temos que entender as tríades, a qual tríade cada evento pertence e assim por diante. Se falarmos sobre a sucessão dos eventos, temos de conhecer as oitavas descendentes e ascendentes. Sem saber se é ascendente ou descendente, é impossível entendê-las, e isso é o que acontece no pensamento comum, porque as pessoas estudam as oitavas ascendentes e tomam-nas como descendentes e vice-versa.

Então, se imaginarmos o mundo como um mundo de vibrações indo em direções diferentes, energias diferentes, todas as vibrações indo para cima ou para baixo. Suponha que nós tomamos esta linha aqui como vibrações crescentes de 500-1000:

Na distância entre os dois pontos podemos observar dois fenômenos muito interessantes. Embora as vibrações cresçam e aumentem em freqüência, elas não aumentam regularmente. Elas aumentam por um tempo, então diminuem, em seguida, aumentam novamente e diminuem novamente. Portanto, há dois lugares onde elas diminuem. Essa é a Lei de Sete. Em certo período, foi criada uma fórmula dessa lei, que é uma representação de uma lei cósmica. Foi mostrada como uma escala musical, onde dois semitons faltando mostram exatamente essa desaceleração em dois intervalos entre as sete notas. É mais fácil observar essa Lei de Sete nas ações humanas. Você pode ver que quando as pessoas começam a fazer algo, a estudar, a trabalhar, depois de algum tempo, sem qualquer razão aparente, seus esforços diminuem, o trabalho desacelera e se não houver algum esforço especial em um dado momento ele muda sua direção. Há uma mudança pequena, mas real na força interior. Então, depois de algum tempo, novamente, há um afrouxamento e, novamente, se não houver um esforço especial, uma mudança de direção. Ela pode mudar completamente e ir em uma direção totalmente diferente, ainda que pareça ser a mesma coisa. Há muitas fases da atividade humana que respondem exatamente a essa descrição. Elas começam de uma forma e sem perceber vão para uma direção exatamente oposta. Numa disposição cósmica podemos tomar essa lei assim:

Esta é uma oitava descendente. O intervalo entre Dó e Si é coberto em uma forma especial que não é necessário entrar em detalhes neste esquema. A vida orgânica, a parte em que vivemos, ocupa o segundo intervalo. Então você vê que se esses intervalos são conhecidos e se um método de criar algum esforço ou arranjo especial for utilizado nesses locais, é possível evitar essas quebras na oitava. Tudo acontece em oitavas. Nenhuma vibração, movimento ou atividade acorre de outra forma. As escalas variam de modo que não podemos segui-las, mas podemos ver o resultado delas, o resultado dessa Lei das Oitavas. Mesmo o trabalho físico interno do organismo está sob essa lei. Com certos tipos de esforço podemos produzir esses semitons que faltam e dessa forma mudar o trabalho da nossa máquina. Por exemplo, você se lembra que falamos sobre a lembrança de si, o esforço para se estar consciente, de lembrar de si mesmo? Mais tarde eu vou explicar-lhes como esse esforço para lembrar de si muda muitas coisas no trabalho químico do organismo. Falemos agora mais sobre a matéria a partir da qual o universo é feito. No início, tomamos a definição comum de energia e matéria. Um certo tipo de energia opera num determinado tipo de matéria. Qualquer tipo de matéria se torna um pouco diferente quando a força ativa trabalha através dela, quero dizer, torna-se diferente da mesma matéria que esteja conduzindo força passiva ou neutralizante. Pegue o ferro: quando a força ativa trabalha através ele, é um tipo de ferro, quando a força passiva funciona através dele, o ferro é diferente. Se o mesmo ferro é tomado e nenhuma força estiver operando através dele, é uma quarta espécie de ferro. Todos esses quatro tipos de ferro, quatro tipos de matéria, têm nomes diferentes, eles são chamados de carbono, oxigênio, nitrogênio ou hidrogênio, de acordo com qual força opera através dela. Qualquer matéria que não tem relação com uma tríade pode ser chamada de hidrogênio, em outras palavras, é matéria que não tem nenhuma relação com qualquer outra coisa. Mas em uma tríade qualquer matéria pode ser chamada de carbono, oxigênio ou nitrogênio.
Vou mostrar-lhes uma determinada tabela de Hidrogênios onde será possível, apenas através de figuras, ter definições muito exatas de todas as matérias de acordo com as suas funções em relação ao homem.


Então, se a força ativa opera através da matéria, neste sistema ela é chamada de carbono, se a força passiva trabalha através dela, é chamada de oxigênio, se a força neutralizante trabalha através dela é chamada de nitrogênio e se for tomada sem relação com qualquer força, é chamada de hidrogênio. É necessário lembrar que cada matéria, cada elemento ou composto, pode ser chamado de hidrogênio. Vamos falar separadamente sobre as forças (primeira, segunda e terceira) e as matérias (carbono, oxigênio, nitrogênio e hidrogênio). É necessário lembrar que cada tipo de matéria (madeira, ferro, etc) pode ser de carbono, oxigênio, etc. Agora tomemos o Raio de Criação em três oitavas ou radiações:
Absoluto-sol; terra-sol; terra-lua. Cada nota apresenta uma determinada camada da matéria. Conforme desce de escala, torna-se mais e mais densa. A matéria mais leve está no nível do Dó. As vibrações são também mais rápidas no nível do Dó. Em seguida tornam-se mais lentas.
A primeira tríade da tabela é: -C- 1 1 1 Si -O- 2 3 2 -N- 3 2 3 > H6
As forças se dispõe na relação: 1-2-3 e trabalham no carbono, oxigênio e nitrogênio. Mas o nitrogênio, pela densidade, está entre o carbono e o oxigênio, de modo que quando o triângulo começa a se formar é preciso colocá-las na ordem 1-3-2. Quando as matérias se dispõe nessa ordem, um evento acontece. O total será - H6. A partir da primeira tríade surge uma segunda tríade. A segunda tríade surge da força neutralizante que se torna ativa. Portanto elas devem se colocar novamente na ordem 1-2-3. Essa mudança de local da matéria na tríade é o que produz ação. Esses hidrogênios representam todas as camadas da matéria em relação à máquina humana. A escala é maior do que na química comum e muitas matérias diferentes entram em um hidrogênio. Essa terceira escala nos servirá para o estudo da máquina humana.

A máquina humana deve ser considerada como uma fábrica de produtos químicos de três andares que recebe matérias-primas e as transforma em matéria mais fina. No estado do homem nº 1, 2 e 3*, a fábrica trabalha de forma não econômica e gasta em si mesma tudo o que ela produz. A partir das matérias-primas recebidas em vinte e quatro horas ela produz combustível para seus diferentes motores. Mas em outras vinte e quatro horas tudo o que ela produz é gasto.

A fábrica recebe três tipos de matéria-prima: os alimentos (incluindo a água), o ar e as impressões. As impressões também são matéria ou energia. Com cada impressão, por menor que seja, uma certa quantidade de energia entra em nós. A partir da combinação dos três alimentos a fábrica produz tudo o que é necessário para seu trabalho e desenvolvimento. Mas como se encontra atualmente, tudo é gasto e não resta nada para o desenvolvimento. Se, no entanto, através de treinamento e método, uma certa economia é exercida, algumas determinadas matérias são armazenadas na fábrica. Quando uma quantidade suficiente dessas matérias se acumula, outros processos se iniciam, o que significa desenvolvimento. Para isso, em primeiro lugar, a economia é necessária, e, em segundo, o aumento da produção. Com alguns esforços no momento correto é possível aumentar a produção. Mas o esforço deve ser permanente.

No estudo das três oitavas no organismo humano, temos que contar com três intervalos. A natureza forneceu um choque para apenas um intervalo, mas não para os outros dois. Para os outros dois temos de produzir o choque necessário por nossos próprios esforços. É necessário compreender o significado desses hidrogênios, saber o que eles são. O alimento é H768. Uma grande variedade de matérias está na forma de H768. E ainda assi, na realidade, o leque de matérias que podem servir como alimento para o homem é muito limitado. O H384 é a água, os líquidos. O H192 é o ar que o homem respira. O H96 é muitas coisas. Por exemplo, é o sangue arterial, o ar muito quente ou ar muito rarefeito, etc. Os H48, H24, H12 e H6 são todos impressões.

Mas as impressões acima de H48 não são uma regra e sim uma exceção. O homem nº 1, 2, 3 tem impressões 48 e nem mesmo faz muito uso delas, como veremos. As impressões entram como 48 e param porque neste lugar não há carbono 12 correspondente. O Carbono 12 pode ser trazido para cá através de um esforço especial. Se conhecermos esse momento e pudermos fazer esse esforço, ele trará carbono 12 a este lugar e a oitava poderá desenvolver-se adiante. Ao mesmo tempo, ele toca o Mi 48 da oitava do ar e permite que ela se desenvolva fornecendo o choque necessário. Sem esse esforço apenas uma quantidade infinitesimal do terceiro alimento (Dó 48) passa adiante. É o suficiente para a vida mas não é o suficiente para o desenvolvimento. Assim, podemos dizer que o Dó 48 não se desenvolve além disso. O segundo choque traz as três oitavas para Si 12, Mi 12 e Sol 12.
Si 12 e Mi 12 não podem se desenvolver adiante. Sol 12 desenvolve-se em La 6, mas é um Lá muito pequeno porque vem do ar. Mas Mi e Si, que são muito poderosos, param aqui. Um esforço especial é necessário para transformá-los em Fá 6 e Dó 6. A natureza desses esforços nós começamos a estudar desde o primeiro dia. O primeiro é a lembrança de si e a auto-observação. O segundo é a luta contra as emoções negativas. Essa é a nossa alquimia interior, a transmutação de metais inferiores em metais preciosos. Mas toda essa alquimia está dentro de nós, não fora. Até Fá 96 e Ré 96 o diagrama pode ser acompanhado psicologicamente.
A fisiologia ordinária mostra ainda mais detalhes do que esse diagrama. O alimento que entra na boca encontra-se com a saliva e depois no estômago com os sucos gástricos, então no intestino com os sucos intestinal. Em seguida, ele é absorvido no sangue venoso, é transportado para o fígado, atravessa do coração para os pulmões, é oxidado lá e se torna sangue arterial H96. O estudo dos hidrogênios e sua relação uns com os outros também ajuda a compreender os centros e suas velocidades diferentes. O centro intelectual trabalha com H48, o centro motor com H24, o centro emocional deveria trabalhar com H12, mas ele nunca recebe o combustível correto e nunca funciona como deveria. Se pudéssemos fazê-lo trabalhar mais rápido, isso significaria uma grande diferença nas percepções, etc. Então, até 96, podemos acompanhar o processo e descrevê-lo em detalhe. Além de 96, não podemos acompanhar o processo fisiologicamente. Após 96, podemos estudar o quadro de nutrição apenas psicologicamente.
Psicologicamente podemos estabelecer a diferença entre 48 e 24, 24 e 12. Mas isso precisa de observação. Quando pudermos distinguir a diferença entre certas percepções e sentimentos seremos capazes de compreender qual hidrogênio está operando. Nosso objetivo é voltar de novo para a psicologia, mas com melhor material e com armas melhores de modo a sermos capazes de estabelecer a posição de cada fenômeno em relação a outros fenômenos.


*Para a melhor compreensão de alguns termos utilizados por Ouspensky é recomendada a leitura do livro: "A Pscologia da Evolução Possível ao Homem", que encontra-se no início do blog.