segunda-feira, 5 de julho de 2010

Rodney Collin - A Lei de Três

De acordo com vários sistemas antigos de filosofia, todo fenômeno que existe, a partir dos deuses e em ordem decrescente, surge da interação de três forças. Uma delas é descrita como de natureza ativa ou criativa, a segunda como passiva ou material e a terceira como mediadora ou formadora.
Na filosofia cristã, essas três forças estão expressas pelas três pessoas da Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo -, que criam o universo. Na alquimia medieval, todas as coisas eram vistas como mesclas variantes do sal, do enxofre e do mercúrio. No Sankhya indiano, um papel análogo é conferido aos três gunas - Rajas, Tamas e Satva. No hinduísmo, as forças são outra vez personificadas como Shiva, Parvati e Vishnu e, na China, elas adquiriram um aspecto metafísico na interação Yin e Yang supervisionados pelo Tao.
Em todos esses sistemas, a natureza das três forças era universal, isto é, considerava-se que elas penetravam tudo, em todo lugar e em cada escala, do mundo dos micróbios ao mundo das estrelas e do efeito da luz ao do pensamento ou respiração. Na filosofia moderna, não existe tal idéia geral de três forças, ainda que alguns exemplos sejam reconhecidos, como o próton, o neutron e o elétron da física atômica ou os reatores, reagentes e catalisadores de vários processos químicos.
Se considerarmos as três forças do ponto de vista da física, teremos de dizer que a força ativa é a de longitude de onda mais curta e vibração mais rápida e a força passiva a de longitude de onda mais extensa e vibração média. A oitava de cores, por exemplo, estende-se do azul (com uma longitude de onda ao redor de 4000 unidades angström) ao vermelho (cerca de 8000). Mas, como sabemos, as possibilidades do vermelho e do azul são muito limitadas e toda riqueza infinita de cores que vemos depende da presença de uma cor intermediária: o amarelo, bastante diferente e a meio caminho (cerca de 5750 unidades angström) entre as outras duas cores. Esta é a base dos três processos de cor em impressão. No que diz respeito ao fenômeno da cor, podemos chamar o azul de força ativa, o vermelho de passiva e o amarelo de força intermediária. Todas as cores possíveis provêm da combinação dessas três.
O mesmo exemplo demonstra outro aspecto dessa lei, a saber: as características das três forças dependem não dos fenômenos por meio dos quais se manifestam, mas de sua relação umas com as outras. A longitude de onda do vermelho, por exemplo, é passiva em relação ao fenômeno da cor, mas é ativa em relação ao fenômeno do calor que pertence à oitava abaixo. Assim, todos os objetos e energias que existem no mundo estão constantemente mudando de lugar do ponto de vista da lei de três, atuando como instrumentos ora ativos, ora passivos ou intermediários. É exatamente esse fluxo e mudança constante o que torna a lei de três tão evasiva à nossa percepção, fazendo-se necessário tomar cada exemplo separadamente, à parte de todos os outros.
Um exemplo mais geral, todavia, pode explicar melhor a idéia. Pense em comércio, por exemplo. O homem existe no mundo e existem também todos os objetos que ele desenvolve ou manufatura a partir dos materiais que o cercam, seus bens. O homem é ativo e os bens passivos. Mas só com essas duas forças pouco intercâmbio poderia haver e foi necessário que uma terceira força que capacitasse as outras duas fosse inventada para trabalharem todas juntas num número infinito de combinações. Essa terceira força é o dinheiro. A tríade homem, bens e dinheiro dá origem à atividade geral do comércio.
Esse exemplo nos traz outro aspecto muito interessante da lei de três forças. O dinheiro é invisível e, com o crescimento do comércio e o desenvolvimento de transações bancárias, o dinheiro tende a tornar-se ainda mais invisível, mais abstrato e corresponder cada vez menos a qualquer realidade tangível. Isso faz eco às explicações da lei de três dadas por antigas filosofias que sempre enfatizaram que a entrada do terceiro princípio permanece invisível para o homem em seu nível usual de percepção. O terceiro princípio representa o desconhecido, o irreconhecível determinante em cada situação.
Em alguns casos, ele pode ser apenas fisicamente invisível, assim como muitos processos químicos envolvendo a interação do ácido ativo e do alcalóide passivo são possíveis somente com a presença invisível da umidade. Ou, novamente, o método de ação pode ser invisível, assim como o método de ação dos catalisadores em química e das enzimas em fisiologia permanece invisível. Em outros casos, essa invisibilidade é mais sutil. Um homem decide elevar-se a um nível superior de consciência. Sua vontade, desejo e esforços ativos são lançados contra a inércia passiva de sua máquina física com todas as suas tendências congênitas e hábitos adquiridos. Essas duas forças confrontam-se sem resultado até que ele possa atrair a intervenção de uma terceira força decisiva - a ajuda de uma escola esotérica e de um conhecimento de escola. Essa ajuda e esse conhecimento são literalmente invisíveis.
Ainda que dinheiro, ar, catalisadores, enzimas e escola produzam grandes mudanças naquilo com o qual venham a entrar em contato, eles mesmos continuam não afetados e irredutíveis. Não podem perder sua virtude ou serem gastos. É uma característica do terceiro princípio que ele seja sempre imutável, invisível e irreconhecível, não podendo ser comandado ou manipulado pelos outros dois fatores. Em relação a eles, seu papel será sempre misterioso.
A invisibilidade é como que um disfarce desse mistério e ele pode ser de vários tipos diferentes. Algumas coisas são invisíveis para nós porque estão muito distantes, como as galáxias, outras porque estão muito próximas, como o interior de nossa mente, algumas porque são muito grandes, como a Terra, outras por serem muito pequenas, como uma célula, algumas porque são muito rarefeitas, como o ar, outras por serem muito densas, como o interior de uma rocha, algumas por serem muito rápidas, como a bala disparada de um rifle, e outras ainda porque são muito lentas, como a formação de uma civilização.
Ainda assim, esses diferentes tipos de invisibilidade não são acidentais. Eles colocam as coisas às quais se referem numa relação bastante especial com o homem, para quem são particularmente passíveis de atuar como terceira força. Assim, para alcançar o que deseja, ele deve aprender a considerar a terceira força e, para considerá-la, deve aprender a considerar o invisível.