sexta-feira, 30 de abril de 2010

Adi Shankaracharya - Vivekachudamani (seleção de alguns versos)


* O resultado do conhecimento deveria ser o afastamento das coisas irreais, ao passo que o apego a essas coisas é o resultado da ignorância. Isso é observado no caso de alguém que conhece a idéia de miragem e coisas assim, e alguém que não conhece. Se não for assim, que outro resultado tangível os conhecedores de Brahman obtêm?
* Se o nó da ignorância do coração é totalmente destruído, que causa natural pode haver para induzir um homem a ações egoístas, uma vez que ele é avesso aos prazeres dos sentidos?
* Quando os objetos dos sentidos não estimulam mais desejos, esse é o auge do desapego. A extrema perfeição do conhecimento é a ausência de qualquer impulso de idéia egoísta. E o limite da auto-revogação é atingido quando as funções da mente, que foram diluídas, não aparecem mais.
* Esse tipo de função mental que reconhece apenas a identidade do Ser com Brahman, purificada de todos os adjuntos, e que está livre da dualidade e que se preocupa apenas com Pura Inteligência, é chamada de iluminação. Aquele que tem isso perfeitamente estabilizado é chamado de um homem de iluminação constante.
* Conhecendo o seu próprio Ser indivisível através de sua própria realização e, assim, tornando-se perfeito, o homem deveria ficar cara a cara com o Atman, com sua mente livre de idéias dualistas.
* O veredito de todas as discussões sobre o Vedanta é que o Jiva (consciência individual) e todo o universo não são nada além de Brahman, e que a Liberação significa residir em Brahman, a Entidade indivisível. Enquanto que as própria escrituras (shrutis) são autoridade para declarar que Brahman é um sem um segundo.
* Realizando, num momento abençoado, a Verdade Suprema através das instruções do Guru, da autoridade das Escrituras e de sua própria razão, com os seus sentidos apaziguados e sua mente concentrada, o discípulo tornou-se imóvel na forma e perfeitamente estabelecido no Atman.
* Ao concentrar a mente por algum tempo no Supremo Brahman, ele levantou-se, e da Graça Suprema ele falou o que se segue:
Minha mente desapareceu, e todas as suas atividades derreteram-se pela realização da identidade do Ser e Brahman, eu não sei nem isto nem aquilo, nem o que ou quanto é a graça sem limites de Samadhi!
A majestade do oceano do Supremo Brahman, repleta com as ondas do néctar de Bem–aventurança do Ser, é impossível de ser expressa em palavras e nem mesmo pode ser concebida pela mente - em uma fração infinitesimal da qual minha mente derreteu-se como um granizo fundindo-se com o oceano, agora está satisfeita com a Essência do Êxtase.
Para onde foi o universo? Quem o removeu? Onde ele diluiu-se? Agora mesmo ele era visto por mim. Ele deixou de existir? Isso é extremamente estranho!
No oceano de Brahman preenchido com o néctar da beatitude absoluta, o que deve ser evitado e o que deve ser aceitado? O que é diferente do Ser?
Eu não vejo, nem ouço e nem sei a respeito de nada nesse sentido. Eu simplesmente existo como o Ser, a bem-aventurança eterna, distinto de todo o resto.
É o Upadhi (o atributo sobreposto) que vem, e é só isso que vai; ele, mais uma vez, realiza ações e experimenta seus frutos, somente ele se deteriora e morre, enquanto eu sempre permaneço firme como o monte Kula.
Para mim, que sou sempre o mesmo e desprovido de partes, não existe nem o empreender um trabalho, nem o seu cessar. Como pode aquele que é Um, concentrado, sem interrupção e infinito como o céu, jamais se esforçar?
Como pode haver méritos e deméritos para mim, que sou sem órgãos, sem mente, imutável e sem forma - que sou a realização da bem-aventurança absoluta? O Shruti também menciona isso na passagem "O Intocado".
Se acontece de o calor ou o frio, o bem ou o mal, tocarem a sombra do corpo de um homem, isso não afeta em nada o próprio homem, o qual é diferente da sombra.
As propriedades das coisas observadas não afetam a Testemunha (imutável e indiferente), que é diferente delas, como as propriedades de um quarto não afetam a lâmpada que o ilumina.
Assim como o sol é uma mera testemunha das ações dos homens, como o fogo queima tudo sem distinção, também sou eu, o Ser imutável, a Inteligência Absoluta.
* Oh nobre alma! Passa o teu tempo contemplando o Ser apenas em todas as circunstâncias, pensando no Ser, o Um sem um segundo, e desfrutando a bem-aventurança do Ser.
* Concepções dualistas no Atman, o Conhecimento Infinito, o Absoluto, são como imaginar castelos no ar. Portanto, identifica-te sempre com a Bem-aventurança Absoluta, o Um sem um segundo, e, atingindo assim a Paz Suprema, permanece em silêncio.
* Para o sábio que realizou Brahman, a mente, que é a causa de fantasias irreais, torna-se perfeitamente tranqüila. Esse é verdadeiramente o seu estado de quietude, no qual, identificado com Brahman, o Um sem um segundo, ele desfruta constantemente da Bem-aventurança Absoluta.
* Para o homem que realizou sua própria natureza, e bebe a Bem-aventurança concentrada do Ser, não há nada mais emocionante do que a quietude que vem de um estado de ausência de desejos.
* O que na verdade pode manifestar Aquele cujo brilho, como o sol, é a causa de todo o universo -insubstancial, irreal e insignificante - a aparecer?
* O que, de fato, pode iluminar o Sujeito Eterno através do qual os Vedas, os Puranas e as outros Escrituras, assim como todos os seres, são dotados de um sentido?
* Aqui, o auto-resplandescente Atman de infinito poder - além dessa cadeia de conhecimento condicionado e apesar da experiência comum de todos - está percebendo que apenas este incomparável conhecedor de Brahman vive sua vida gloriosa, livre da servidão.
* Através da destruição das limitações, o conhecedor perfeito de Brahman funde-se no Brahman Uno sem um segundo – o Qual ele tem sido o tempo todo - torna-se totalmente livre mesmo enquanto vivo, e alcança o objetivo de sua vida.
* A destruição do corpo, dos órgãos, dos Pranas e do Buddhi (intelecto) é como a de uma folha, uma flor ou fruto em relação a uma árvore. Ela não afeta o Atman, a Realidade, a personificação da bem-aventurança - que é nossa verdadeira natureza. Isso sobrevive, assim como a árvore.
* A passagem do Shruti: "Certamente esse Atman é imortal, meu querido”, menciona a imortalidade do Atman no meio de coisas perecíveis e sujeitas a alteração.
* Assim como quando um vaso é quebrado, o espaço que estava contido nele claramente torna-se o espaço ilimitado, assim também quando as limitações aparentes são destruídas, o conhecedor de Brahman, certamente torna-se o próprio Brahman.
* Assim como o leite derramado no leite, o óleo no óleo e a água na água, tornam-se unidos e um com eles, também o sábio que realizou o Atman torna-se um no Atman.
* Pode-se falar de aprisionamento e Liberação quando há a presença ou a ausência de um véu que encobre. Mas não pode haver nenhum véu cobrindo a Brahman, que está sempre descoberto por falta de uma segunda coisa além de si mesmo. Se existisse, a não-dualidade de Brahman seria contrariada, e os Shrutis jamais podem tolerar a dualidade.
* O aprisionamento e a libertação são atributos do Buddhi com o qual as pessoas ignorantes falsamente encobrem a Realidade, assim como o movimento do encobrir do sol por uma nuvem é transferido para o sol. Pois esse Brahman imutável é o Conhecimento Absoluto, o Um sem um segundo e desapegado.