terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Siddharameshwar Maharaj – Bombei, 7 de outubro de 1935


Se você não está certo de si mesmo, qualquer trabalho realizado não é digno de ser chamado de trabalho. O mundo todo é varrido pela corrente da dúvida. Certeza ou convicção, nesse caso, são para serem entendidas em relação a sermos o Ser. Devemos ter certeza de quem somos nós. Senão, todas as coisas são inúteis. Nós somos o Ser, mas sem sermos definidos a esse respeito, qual é a utilidade de falar sobre isso? Devemos estar certos em nossas mentes e então podemos fazer o que quisermos. Só será útil prosseguir os estudos, se o coração do discípulo estiver muito puro em relação a seu Mestre. É aquela confiança no Guru que irá dar para a pessoa o fruto do esforço espiritual. Todas as outras conversas são sem sentido. Claramente sentimos que sem termos certeza, tudo é uma caricatura. Mas qual é o ponto em falar sobre isso? Não haverá benefício em tal discurso. Onde há Conhecimento sem nenhuma dúvida, há Contentamento. Esse “Contentamento” não é dependente de nada. Esse Contentamento não é produto de nenhum ritual ou de ações que a pessoa faça. O contentamento que é dependente de tais coisas não é o Contentamento Real. O Contentamento Independente é possível apenas através da Auto-Realização (a realização do Ser). Quando você estiver convencido a respeito de ser Brahman, isso em si é Contentamento. O Contentamento é uma indicação da conquista da Realidade. A ausência da dúvida deveria ser conhecida como uma indicação de Contentamento.

O ouvinte pede para que lhe seja dito qual é o sinal da convicção e o Guru diz para ele descobrir quem é o Todo-Poderoso Uno Absoluto e para que fique certo a respeito disso. Deus é aquele Poder através do qual este mundo veio a existir. Você tem agora em você “Aquilo” através do qual o mundo todo se move e você está usando isso agora. Através “Disso” apenas, você está experimentando a si mesmo, e o mundo. Veja o que você tem! O mundo é por causa Disso. Através “Disso” esse mundo é alimentado e nutrido. É “Disso” que o sol, a lua, as estrelas e os cinco elementos (terra, água, fogo, vento e céu) são feitos. Tudo isso está acontecendo sem nenhum problema, sem um monte de trabalho duro para construir ou destruir. Tal “Poder” (Chaitanya) está dentro de você. É através desse Poder que você está tendo a experiência do mundo. Entretanto, enquanto você não estiver convencido disso, sua mente não sossegará. Os Deuses feitos de bronze e cobre não são Deuses. O que significam as várias encarnações dos Deuses (Avatares) nos livros mitológicos, como, Brahma, Vishnu e Mahadev (Shiva)? Qual é a extensão da divindade deles? Apenas enquanto o “Poder” os aviva, eles são Deuses.

Qual é o sinal do devoto (Bhakta)? Ele tem de reconhecer Deus, ele tem de Realizar quem ele é. O que somos nós? Nós somos nada. Ao abandonar o apego com o corpo, você deveria permanecer apenas “Aquilo”, Brahman. Onde o “eu” está, há aprisionamento. Quando o ‘eu’ desaparece, o aprisionamento vai embora. A quem deveríamos chamar de devoto? Aquele que está procurando a si mesmo e está descobrindo a si mesmo, é o Devoto. Nós procuramos internamente o nosso Ser, e através da fala dele, meditamos em Deus. Estamos absortos em nossa Auto-busca e através de palavras faladas, estamos ocupados meditando em Deus. Quando encontramos o Ser, nós eliminamos tudo mais e selecionamos aquilo que nós somos. Tornamo-nos convencidos a respeito do nosso Ser e ficamos convictos. Convictos a respeito do que? A respeito da Realidade. Aqui a certeza completa tornou-se possível por causa da palavra falada. Assim, o grande momento da Realização de Deus chegou! O oceano é como é. Apenas as ondas surgem e desaparecem. O que é liberdade? Conhecer o nosso Ser é Liberdade. Os elementos nascem por meio dos elementos, mas também nascem da Energia-Vida, Chaitanya.

As abordagens persuasiva e discriminatória, ambas estão contidas dentro dessa Energia-Vida. A primeira abordagem contém o método da discriminação e eliminação (peneirando o não-essencial do Essencial). Isso é afirmado para provar que tudo o que tem aparência, é falso. No Siddhanta ou na afirmação final, é dito: “Tudo é Brahman”. Os quatro estados básicos da consciência (manas, bhudi, chitta, e aham), os três estados (vigília, sono com sonhos e sono profundo). As três qualidades (Rajas, Tamas e Sattva), e os dez órgãos dos sentidos (e as várias coisas, e as maneiras como essas coisas são apreciadas ou experimentadas) todos tomados juntos, não são nada além de Chaitanya, que é Dnyana, ou Conhecimento. Esse mesmo “Conhecimento Uno” é experimentado como o mundo inteiro, no momento do “conhecer”. O Conhecimento é experimentado, e aparte dele você não pode experimentar ou renunciar isso, nem pode tentar artificialmente anulá-lo. No mesmo momento do conhecer, a experiência é possível apenas por causa do Chaitanya Auto-Existente. Quando através de observação precisa e apurada, há certeza e convicção definida, isso se chama Siddhanta, ou “Verdade Final”. Então, muito serenamente, há certeza a respeito de Deus. Há a Realização de que existe apenas Um, e nada mais. Entretanto, pelo insistente apego ao corpo, essa paz e contentamento são destruídos. Por isso você deveria dizer, “Diga-me quem sou eu!” O demônio da dúvida deveria ser questionado, “Diga-me quem eu sou!” Entretanto, isso o mantém quieto, pois como ele pode mostrar algo além de Brahman?

Nós não deveríamos nos desviar da confiança a respeito da nossa Natureza Real. A consciência-corpo traz algo mais. Ela apenas aumenta a dúvida e as desconfianças e tenta colocá-lo para baixo. Não caia. Os Deuses e todas as várias deidades são todos ilusão. Eles são nossa própria imaginação. Não nutra falsas idéias ou falsas dúvidas.

A história do rei Nala da cidade de Nishadha nos conta que ele não lavou os pés depois de ter ido urinar. Ele entrou em sua casa e por causa dessa falta, o mal ou Kali, entrou no seu corpo e mente. Nessa história, “os pés”, significam a base ou a raiz que deveria ser purificada. Devemos examinar o que está na raiz de todas as coisas. Observe isso. Se você ver claramente na raiz e exterminar a dúvida, só sobrará então a pureza básica, a claridade fundamental. Aquilo que é basicamente limpo, é forte. Então há certeza e convicção e nenhum lugar para a dúvida. Enquanto a pureza fundamental não estiver aí, o mal ou a dúvida certamente entrarão. Tudo é cheio de dúvidas e isso é a tendência da mente de voltar-se na direção da consciência-corpo. Portanto, é dito que os aspirantes não devem se desviar do Ser.

O corpo está assumindo uma forma particular de acordo com seu estado (infância, juventude, velhice, etc.). Ele não pode se segurar a uma forma que desejar. Ele tem essa forma devido ao milagroso poder da Energia da Vida, Chaitanya. A Consciência, embora esteja no corpo, não tem nenhuma forma ou configuração particular. A Consciência tem a qualidade natural de fazer-nos sentir ou perceber algo. Essa qualidade é chamada “Chaitanya na qualidade de Conhecimento”. Essa Energia-Vida na qualidade de Conhecimento assume que ela é este ou aquele corpo e funciona conforme se identifique com alguma forma. Sem pensar que Ela é o Ser, a Consciência considera como verdadeiro tudo o que é visto ou o que quer que pareça estar existindo e funciona com essa confusão. Na verdade, esteja ela governando um corpo ou não, ela é a “Vida” sem limitações ou alguma forma particular.

Ela é sem falhas, mas assume que ela tem uma forma, ou mesmo que ela mesma é a forma do corpo, o que é um engano tolo. Com esse conceito de ser um corpo sendo mantido de maneira muito forte, ela busca propriedades e posses externas que são pertinentes a ela. Desse modo, por tornar-se ignorante de sua realidade, ela se enamora com o corpo que é perecível. Ela dá uma importância extraordinária para o corpo e sofre desnecessariamente muito pesares.

A forma do corpo não é a nossa Existência Original. Ela é apenas um estado momentâneo indesejado. Se você olhar para ela cuidadosamente você pode queimar a rede de desejos e anseios sem fogo. Os Santos nos falam: “Não seja seduzido pela consciência-corpo. Você não precisa de nada”. Portanto, o aspirante não deveria desviar-se de ser o SER. Você não deveria nunca permitir que o seu contentamento fosse perturbado. A sua Auto-Confiança (Confiança no Ser) deveria ser forte assim. Que dia ou hora é propício ou não propício para “ Aquilo” que é Brahman? O Ser é o poder que está acima do tempo. Que momento pode ser ruim para Ele? Ele próprio é o “mérito” no momento meritório. Tal coisa chamada de momento ruim não tem nada a ver com Ele. O Ser é o Deus dos Deuses, é quem dá o “Melhor” para todos. A consciência- corpo faz você esquecer o discernimento da Razão Pura. Portanto, você deve ficar muito alerta. Mesmo quando você dorme na sua cama você deve pensar que você é Brahman, O Deus dos Deuses e ter paz. Nunca esqueça a Verdade Brilhante – que você é sem forma, limpo, puro e sem mácula, você deve ficar estabilizado naquele Contentamento que permanece não movido por coisa alguma. O Deus Vitthala deixa de ser Brahman porque Rukmini está perto dele? (isso refere-se à unificação dos princípios masculino e feminino, da não-forma e a manifestação) Ambos são puros, sem forma, sagrados, são inteiramente apenas a Energia-Vida. Permaneça como Vitthala. Mantenha o conceito de que você é o Ser, Atman. Aqui a palavra Atman significa “Consciência sem forma”, Chaitanya. A convicção constante de que você é o Supremo Ser, é Liberação ou Liberdade. A liberdade está sempre existindo e não precisa ser cultivada. Ser o Ser é ser Livre.

Você não deveria esquecer nunca que você é o Ser. Eu lhe digo isso, mas isso não será impresso na sua mente a menos que você fique na companhia dos Santos. Renda-se aos Santos. Se você está internamente concordando e ficando alerta, mas secretamente está tendo dúvidas, que bem isso poderá trazer? Escute agora um “Grande Princípio” - aquele que não tem absolutamente nenhuma dúvida, é o Siddha, o Mestre. A história de Visoba Khechara conta que ele dormiu com seus pés na pedra de Shiva-Lingham. Quando perguntaram sobre isso para ele, ele disse “Existe algum lugar onde Shiva não esteja? Toda esta terra é um Shiva-Lingham, meus pés também são Shiva, eles não são algo diferente. Este Mundo inteiro é Shiva”. Isso não deve ser esquecido jamais. Essa determinação não deve esmorecer.

No estágio de Siddha, aquele que anteriormente era chamado de “Namya”, não está ali, (o qual tornou-se Santo Namdev, que visitou o sábio Visoba e foi iluminado a respeito do Deus Todo-Permeador). Não há nenhum “outro” ali. Não há nada como um “segundo”, ou alguém mais. O segundo não está lá. O “outro” não é relevante ali. Aquele que entendeu isso é o Siddha. Aquele que tem dúvida ainda é um buscador, um aspirante.

Não faltam pecados e méritos no mundo. Uma vez que você se identifica com o corpo, o oceano de pecados e méritos é preenchido. Todas essas coisas são faladas nos Vedas. Os Vedas nos ensinam como realizar ações enquanto pensamos que somos um corpo físico. Quando a inteligência do homem ultrapassa o limite do corpo, os Vedas não podem dar nenhuma instrução para aquele que é um Bhakta, um Devoto. Quando a pessoa está além do corpo físico, além do perceptível, o que pode ser dito sobre ela? Quais são os seus sinais? Sinais são apenas facetas, qualidades. O Ser é desprovido de qualquer formato. Quando percebemos que somos o Ser, como podemos descrever “Suas” qualidades ou falta de qualidades? Aquele que entende a si mesmo como o Ser, está além do mérito e do pecado e transcendeu as barreiras das formas visíveis. Ele é Vitorioso. Aquele é seu dia da Vitória (Vijaya-Dashmee). Esse dia é o Dia Dourado. Essa é a taça de Néctar Imortal. O nascimento e a morte se vão. O estado de ser um indivíduo, um “Jiva”, acaba. Os próprios Vedas colocaram suas próprias barreiras. Quando você atravessou, então está sem dúvida a respeito do Ser. O 'eu' que estava no corpo, tornou-se Shiva. Ele é Vitorioso. Ele é agora Mestre, com o poder absoluto de Brahman, o Poder do Ser, a Realidade do Si mesmo. Paramatma, o Ser Supremo, Rama, retomou Seu Reino. Essa conquista é o estado de “Vitória”.