segunda-feira, 24 de maio de 2010

Siddharameshwar Maharaj - Você é "Aquilo"

Mumbai, 26 de outubro de 1935



Parabrahman não é perceptível aos sentidos, mas existe. “Aquilo” que não é perceptível é Parabrahman. “Aquilo” é Real, é o que existe, mas não é visível. Se alguém diz que “Aquilo” não existe, mesmo essa pessoa que diz isso é ela mesma Parabrahman. Se há uma forma, esse corpo, esse formato pode ser conhecido, pode ser percebido e compreendido. Entretanto, o formato ou a forma do Ser, o Qual não é de modo algum formato ou forma, não é perceptível. A pessoa termina a inquirição dizendo que “Aquilo” não é conhecível, mas é sempre Um com ela. A tragédia é que você não admite “Sua” existência e que “Aquilo” existe como seu Ser apenas. O entendimento que “eu sou o Entendimento, eu sou Shiva, eu sou Shiva” (Shivoham, Shivoham) é percebido pelo olho da “Visão-Interior do Entendimento”, que é Shiva.


Entendimento é percepção. A terra está dando suporte a todas a criaturas. Ela é chamada de solo ou Bhoomi. Assim como todas as coisas que aparecem aos nossos sentidos estão no solo, nesta terra, também, tudo o que é visível é percebido na existência invisível de Parabrahman. É por causa “Disso” que tudo começa e termina. Não podemos ir a lugar nenhum além “Disso”. Tudo termina, é destruído, mas “Aquilo” que não pode terminar, permanece, e o que permanece é “Aquilo”. “Aquilo” é o mesmo em todas as situações. “Aquilo” que é indescritível e inimaginável. O que não pode ser capturado pela lógica e por conjecturas - é “Aquilo”. “Isso” de fato existe. Se alguém tentar falar “Aquilo se parece com tal coisa” ou “com aquela coisa”, suas afirmações serão falsas. Não é possível falar sobre “Aquilo”. Deixe qualquer pessoa colocar uma proposição de qualquer tipo sobre “Aquilo” e ainda assim, “Aquilo” não é capturado por essa proposição. Portanto, não importa o quê a pessoa fale, mesmo se ela for muito sábia, “Aquilo” não pode ser descrito. Dessa forma, você deveria se aproximar desse assunto de maneira muito sutil e com determinação. Você tem de nulificar a crença na realidade da existência corpórea e da suposta realidade da existência do universo aparente. Apenas então você entenderá “Aquilo”.


É dito que Brahman é “Todo-Permeador”, mas quando o “todo” não é real, como pode Brahman estar permeando-o? O que vemos não é real, então como pode ser permeado por Brahman? No sono profundo não há “nada” que seja percebido ou permeado. Quando você está desperto e está presente, o que você vê é o “visto”, é a forma. A forma é o que é visto. Dizer que é visto significa dizer que é conhecido ou percebido. Apenas assim dizemos: “Eu vejo isso”. Entretanto, o que quer que seja visto é visto pelos órgãos dos sentidos e os órgãos dos sentidos são conhecidos pelo intelecto, bem como pelo Conhecimento. Agora, por favor, preste bastante atenção. Quem vê o Conhecimento? O estado de “conhecer”, o “Conhecimento”, é ele mesmo visto, mas Aquele “que o vê” não pode ser descrito. "Aquele que vê” não pode ser descrito, ainda assim, referência é feita a “Ele”. Portanto, “ver” significa “conhecer”, “perceber”, e aquilo que é percebido, é percebido por, ou permeado por, Brahman. Apenas aquilo que é assim permeado é conhecido ou percebido. Enquanto aquilo que for conhecido estiver no estado de ser visto (visível), ele é permeado. Entretanto, quando as coisas aparentes desaparecem, o que há para ser permeado? “Ser permeado” por Brahman é apenas ser visto ou conhecido. O “Conhecer” termina e então não resta nada para ser permeado.


O leite e o creme estão juntos no leite. Quando o creme é separado, ele perece separado aos nossos sentidos. Ele é o ingrediente importante do leite. Ele torna-se separado se o separarmos, de outro modo ele é um com o leite. A extensão vazia e a qualidade de permear são termos falsos. Aquele que permanece depois que a imaginação desaparece, é o Ser. Ele não estiver no reino da imaginação. Quando os conceitos, a imaginação, a capacidade de mover, o movimento, a compreensão, a consciência, etc., forem vistos, apenas então nos tornaremos cientes dos princípios masculino e feminino (Purusha e Prakruti). Inerente neles estão os três Gunas, os cinco elementos, os estados de consciência e as várias circunstâncias e numerosas propriedades da matéria. “Aquilo” que está ciente de tudo isso é chamado “A Natureza da Existência. O Objetivo Principal, O Poder Além, O Poder do Conhecer, O Lampejo da Totalidade ou do Ser Cósmico, O Lampejo da Imensidão de Brahman ou O Deus Primordial”, etc. Aquela compreensão que surge desse nome e forma é a experiência simples e mais natural de “Ser” que o Purushottama sente, ainda assim, é o tipo de percepção direta que a imaginação não pode compreender.


O esforço espiritual mais puro e simples é escutar (Shravana), e em seguida vem “pensar”, que é superior a ele. Quando não há “conhecedor” seja como um ser, ou como a qualidade de compreensão, a mente é imergida em seu estado mais elevado. Onde o estado de esforço ou Sadhana termina, há “Conhecimento Espiritual” ou Vidnyana. A vida da pessoa é realizada quando o esforço espiritual culmina na “Façanha Final”. Aquilo que está além das qualidades (Gunas) é permanente, não se move, não é perturbado por nada. Não pode ser destruído, é o sólido mais impenetrável, é sem fim e nunca desaparece. Você é “Aquilo”. Essa compreensão garante que “Aquilo” nunca termine. Então o problema da Ilusão é resolvido, é como se ela não fosse vista de modo algum. A ilusão se vai. Por exemplo, no sonho um homem vê que ele é casado e tem mulher e filhos, mas quando ele desperta, onde estão eles? Onde ele irá procurá-los? Onde eles irão encontrá-lo? Quando o homem desperta, o sonho prova-se falso. A percepção das outras coisas estava acontecendo devido à ignorância e essa ignorância era o sonho. O sonho era aquela ignorância e essa era a vida mundana. O vasto céu estava sendo visto, a vasta terra estava lá, muitos homens estavam vivendo na face daquela terra e eles pareciam estar felizes. Muitas famílias estavam vivendo felizmente e minha própria pequena família estava entre elas. Entretanto, aquela família, um pequeno ponto, não estava lá na perspectiva da Consciência Espiritual, ou Ciência (Awareness). Todo aquele cenário era mostrado pela ignorância. A família geralmente não é entendida em sua “Realidade” por pessoa alguma. Aquele que conhece a realidade é muito raro, uma vez que o “Conhecedor” é Paramatman. Ao “Conhecer” a Realidade, você desperta. O sonho termina. O que isso significa? O que é o despertar? Significa que agora há o “Conhecimento da Realidade”. O Despertar é Conhecimento e Conhecimento significa que você está desperto.


Experimentar a vida mundana é em si mesmo experimentar a Ignorância. O homem pode estar desfrutando uma vida luxuriosa muito feliz, mas ele está mergulhado na Ignorância. Ou, por outro lado pode estar levando uma vida cheia de problemas e trabalho duro, mas ainda o que ele aprecia é a Ignorância. A vida mundana, não importa de que nível seja - é apenas Ignorância o que a pessoa está apreciando. A Ignorância apareceu, o que é evidente é a Ignorância. Então, vem uma mudança: o Conhecimento aparece e com isso vem o despertar. O homem desperta e diz: “Oh, que vida mundana era essa, agora tudo aquilo provou ser falso.” Quando a pessoa desperta ela ainda vê, mas tudo é indescritível, impronunciável.


Isso é para ser sentido suave e sutilmente pela discriminação (Viveka). A experiência do despertar deve reconhecer seus próprios sinais, sua própria natureza. O livro “Dasbodh”* foi completado pela “palavra do Ser”. Aquele que medita em Paramatman, conhece esse “Livro da Vida”.




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“Quando o conhecimento objetivo (dos objetos) chega ao fim, o observador não sobrevive como aquele que vê. Nesse momento, o orgulho do “eu” (ego) é derretido". (Dasbodh, Capítulo 6, Verso 16)



Aquele que vê permanece somente enquanto os objetos são vistos como reais. O ego é conceitual e também é o observador. Se você chama esta cidade de 'Mumbai', então ela aparece como Mumbai; se você a chama de Terra, ela irá parecer como Terra. Tudo depende do conceito de quem está vendo. Se você chama uma coisa de 'uma cadeira', ela é percebida como uma cadeira; se você chamá-la de madeira, ela é percebida como madeira. Se você chamar tudo de Brahman, então tudo é percebido como Brahman. Se você chamar isso de mundo, será percebido como o mundo. A percepção dos objetos depende do conceito de quem está vendo. Mas Brahman está além do conceito. Não pode ser capturado por nenhum conceito.


Há uma mulher que um homem chama de “esposa”, o outro a chama de sua “irmã” e um terceiro chama de sua “filha”. Na verdade ela não é nada além de um pedaço de carne e ossos. O que quer que você diga, acontece. Tudo é conceitual e depende do conceito de quem vê (o vedor). O mundo e o ser são conceituais. O “vedor” que chama a manifestação (o mundo) de verdade, é o “ego”. Esse ego tem de ser erradicado. Se o “ego” se esvai, então apenas Brahman permanece.

O rei Dhrutarashtra do Mahabharata era cego. Ele deu nascimento a uma centena de Kauravas (descendentes) e se orgulhou deles. De fato, aquele que toma posse do corpo como sendo ele mesmo é o cego Dhrutarashtra. Ele também é aquele chamado de Ravana no Ramayana. Todos os objetos são demônios e porque você dá a eles esse status, você é rei deles, Ravana. Ravana não é o rei legítimo, ele não é o Senhor. Porque você considera os objetos serem verdadeiros, você se torna Ravana. Você tem de livrar-se desse Ravana. “Eu” não existe. Livrar-se do “eu” pode ser chamado de morte desejada. No Ramayana, é dito que Ravana era um grande devoto do senhor Shiva e a pedido de Ravana, Shiva deu a ele a dádiva da morte desejada. Esse Ravana governa as quatorze regências, isto é, os quatorze sentidos: cinco de conhecimento e cinco de ação, a mente, o intelecto, a consciência e o ego. Quando os Deuses começam a governar a Terra, os demônios vão para o mundo inferior e quando os demônios governam a Terra, os Deuses se retiram para realizar penitência. Se os objetos são tomados como verdadeiros, significa que os demônios estão governando e Deus está ausente. Não há traço Dele. Mas quando os Deuses tornam-se vitoriosos, ou seja, quando a convicção de que todos os objetos são falsos torna-se firme, então o demônio “eu” também desaparece. Quando o ego é destruído, então tudo é Brahman. A comida, o banco de madeira no qual ele senta para se alimentar, a esposa e a água são todos manifestações de Brahman. Todos são Brahman. Você deveria estudar e praticar isso. Então será o governo de Deus. Brahman é sem atributos: não é cor, não é música, não é amarelo ou preto, etc. O ghee que é líquido e o ghee sólido é o mesmo, assim como a água é o mesmo que o gelo. Quando uma semente encontra a terra, há uma eminência de consciência.


Tudo o que você vê ou percebe não é nada além da Realidade (Brahman). Há apenas consciência qualificada assim como braceletes e braçadeiras são ambos feitos de ouro.Você deveria parar de insistir em que apenas o bem deveria acontecer com este corpo. Você concebe que se tornou o corpo grosseiro porque apenas um corpo é objeto de seu conceito. Os servos e os atendentes deveriam ser considerados como sendo Deus. Não há nenhum outro Brahman. “Com ou sem atributos, tudo é Govinda (Deus).” É porque categorizamos os objetos que há Jiva (ego). Você percebe esposa, filha, cavalo ou cachorro como separados. Todos eles não são nada além de Krishna. Não precisamos mudar a forma dos objetos. Apenas a atitude daquele que vê, deve mudar. Brahman é o mesmo até quando está num estado com atributos. Você deveria ver Brahman em qualquer estado que Ele exista. Mesmo os átomos e as moléculas de uma cadeira são todos o Senhor Krishna. Uma vez que essa atitude é adotada pela pessoa, ela mesma torna-se Brahman. Mesmo que ela durma, acorde ou coma, ela nunca comeu uma refeição. Quando tudo é Brahman, quem está comendo e dormindo? Aquele que é sem qualidades e aquele que fala, ou seja, com qualidades - são ambos Deus. Esteja um rei sentado num trono ou numa caçada, ele é sempre rei. Aquele que é animado é o ídolo da consciência. A pessoa é uma devota quando ela dá nomes diferentes a diferentes objetos e a si mesma. A pessoa é um Sadhu (santo) ou Paramatman, quando olha para toda a criação como sendo Brahman. Esquecer Brahman e comer comida é apenas transformá-la em fezes. Os bichos da seda são melhores do que aqueles que esquecem Brahman, pois a seda de seus casulos é usada por sacerdotes enquanto eles adoram a Deus.


Aqueles que desejam o inferno podem digerir o inferno. Os Deuses e os demônios estão bem aqui. Juntos eles bateram o oceano do mundo e obtiveram néctar e vinho. O Senhor Vishnu deu néctar aos Deuses e vinho aos demônios. 'Vishnu fez isso' significa que a consciência interna do sentido fez isso. O néctar e o vinho estão bem aqui. Está em nossas próprias mãos beber o néctar e nos tornarmos imortais. Aquele que 'despertar' atingirá a Realidade. Tudo é Deus. Que todos sejam felizes. Se você praticar isso e levar isso ao coração, então tudo será Brahman. Temos que regar uma planta até que ela crie raiz, depois ela cresce por si mesma. Você deveria persistir na sua prática até que atinja Brahman.




*Livro do Mestre Perfeito - Shri Samartha Ramdas Maharaj (séc. XVII)

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