domingo, 22 de novembro de 2009

Philokalia - São Teófanes o Recluso - O trabalho interno



Examine a si mesmo para ver se você tem dentro de si um forte sentimento de sua auto-importância, ou, negativamente, se você falhou em perceber que você é um nada. Esse sentimento de auto-importância está profundamente escondido, mas ele controla a totalidade de nossa vida. Sua primeira demanda é que tudo deveria ser como desejamos e se isso não acontece reclamamos para Deus e nos aborrecemos com as pessoas.
O alto valor que damos a nós mesmos, em consequência desse sentimento de importância, não apenas prejudica nossas relações com as outras pessoas mas também nossa atitude para com Deus. A auto-importância é tão astuciosa quanto o demônio e esconde-se habilmente atrás de palavras humildes, fixando-se firmemente no coração, fazendo com que fiquemos alternando entre a auto-depreciação e a auto-glorificação.

Torne isto uma regra – primeiro de tudo, antecipe os problemas a cada momento e quando eles vierem encare-os como sendo algo esperado. Em segundo lugar, quando algo que conflitue com a sua vontade acontecer, e estiver a ponto de lhe irritar ou lhe chatear, apresse-se em trazer sua atenção para seu coração e lute com toda sua força para impedir tais sentimentos de aparecerem: roube você mesmo deles e reze. Se você conseguir impedir que sentimentos de irritação e perturbação surjam dentro de você, então você acabou com seus problemas, pois esses sentimentos são seu ponto de partida. Mas mesmo se um pequeno sentimento é nascido, resolva, se possível, não fazer ou dizer nada até que tenha conseguido mandá-los embora. Se você achar impossível não dizer ou fazer algo, tente não falar ou agir de acordo com esses sentimentos mas sim de acordo com o mandamento de Deus, da maneira que Ele ordenar, gentil e quietamente, como se nada tivesse acontecido. Em terceiro lugar, tire de sua mente o pensamento de que a natureza das coisas irá mudar e resigne-se a uma fricção duradoura. Não esqueça isso ou subestime a importância disso, pois a menos que você aja dessa forma a paciência não pode ser firmemente estabelecida. Finalmente, com tudo isso, preserve uma expressão bem humorada, um tom de voz afável, um comportamento amigável e acima de tudo evite sempre lembrar as pessoas sobre as ações ou palavras injustas delas. Comporte-se como se elas não tivessem feito nada de errado. Acostume-se a preservar a lembrança de Deus incessantemente.

Até que a alma esteja estabelecida com a mente no coração, ela não vê a si mesma e nem está propriamente ciente de si mesma.

O verdadeiro autoconhecimento é ver nossos próprios defeitos e fraquezas tão claramente que eles preencham toda nossa visão. E marque isto – quanto mais você se ver em falta e merecedor de toda censura, mais você avançará.

Não deixe o olho da mente desviar-se do coração e quando alguma coisa surgir dali, capture-a imediatamente e examine-a. Se for boa coisa, deixe-a ficar, se não for boa, ela deve ser morta imediatamente. Dessa maneira, aprenda a conhecer a si mesmo. Se algum pensamento emerge com mais frequência do que outro, isso significa uma paixão mais forte do que o resto. Significa que você deve combatê-la com maior energia. Ainda assim não ponha nenhuma confiança em você mesmo e não espere alcançar nada através de seus próprios esforços. Todos os meios de cura e todos os remédios são enviados pelo Senhor. Então entregue-se a Ele – e isso em todos os momentos. Lute e continue lutando mas espere todo o bem vir apenas do Senhor.

Existem dois caminhos para se tornar um com Deus: o caminho ativo e o caminho contemplativo. O primeiro é para cristãos que vivem no mundo, o segundo para aqueles que abandonaram todas as coisas mundanas. Mas na prática nenhum dos caminhos pode existir em total isolamento um do outro. Aqueles que vivem no mundo devem também, numa certa medida, manter-se no caminho contemplativo. Como disse antes, você deveria acostumar-se a lembrar do Senhor sempre e caminhar sempre diante da face Dele. Isso é o que se entende por caminho contemplativo.
Surge a questão: como podemos manter o Senhor em nossa atenção enquanto estamos ocupados com várias atividades? É desta maneira que pode ser feito. Qualquer que seja sua ocupação, grande ou pequena, reflita que é o próprio Senhor onipresente que lhe ordena realizá-la e que observa para ver como você a desempenha. Se você mantiver esse pensamento constantemente na sua mente, você cumprirá atentamente todos os deveres delegados a você e ao mesmo tempo lembrará do Senhor. Nisso reside todo o segredo da conduta cristã para alguém na sua posição, se você deseja ter sucesso na sua meta principal. Por favor, pense sobre isso cuidadosamente e ajuste-se a essa prática. Quando você tiver feito isso, seus pensamentos irão parar de vagar aqui e ali.

Por que é que as coisas não vão bem com você agora neste momento? Eu penso que é porque você deseja lembrar do Senhor, esquecendo dos afazeres mundanos. Mas esses afazeres se intrometem na sua consciência e afastam a lembrança do Senhor. O que você deveria fazer é exatamente o reverso: você deveria ocupar-se com os afazeres mundanos, mas pensar neles como sendo uma ordem do Senhor, como algo feito na presença Dele. Como as coisas estão agora, você falha tanto no nível espiritual quanto no material. Mas se você agir como expliquei, as coisas irão bem em ambas as esferas.
O corpo trabalhando mas o pensamento com Deus – assim deveria ser o estado de um verdadeiro Cristão. Deveríamos colocar em ordem nosso estado interno assim que abríssemos nossos olhos de manhã. Nesse mesmo estado de ordem interior deveríamos nos manter o dia todo e de noite aquecê-lo e fortalecê-lo e dessa maneira adormecermos.
Tente manter em ordem seus pensamentos a respeito de assuntos mundanos. Tente chegar num estado no qual seu corpo possa cumprir seu trabalho usual, enquanto deixa você livre para estar sempre com o Senhor em espírito. O piedoso Senhor dar-lhe-á liberdade das ansiedades e onde essa liberdade prevalece, tudo é feito no seu próprio tempo e nada é uma preocupação ou um fardo. Busque, peça – e será dado.
O que quer que lhe seja falado para fazer, faça sem ficar discutindo internamente, com total boa vontade, como se fosse um comando de Deus. Coloque essas palavras que sublinhei fundo em seu coração e aja no espírito delas. Aceite cada ordem como vindo diretamente do próprio Senhor e execute-a com todo zelo e atenção como um trabalho dado por Deus e realizado na presença Dele. Atue como se você estivesse obedecendo não os homens mas o Deus que tudo vê.