terça-feira, 22 de setembro de 2009

Bhagavan Sri Ramana Maharshi - Meditação


Pergunta: O que é meditação (Dhyana)?
Bhagavan: É permanecer como seu próprio Ser sem desviar-se de maneira nenhuma de sua natureza real e sem sentir que você está meditando.
P: Qual é a diferença entre Dhyana e Samadhi?
B: Dhyana é alcançada através de esforço mental deliberado. Em Samadhi não há tal esforço.
P: Quais são os fatores a serem mantidos em vista na meditação?
B: É importante para aquele que está estabilizado no seu Ser (atmanishtha) observar que ele não se desvie nem um pouquinho de sua absorção. Ao desviar-se de sua natureza real, ele pode ver diante de si refulgências brilhantes, ou escutar sons incomuns, ou considerar como reais visões de Deuses aparecendo dentro e fora de si mesmo. Ele não deveria ser enganado por tais coisas e esquecer de Si.


P: Não encontro meios de ir para dentro através da meditação.
B: Onde mais estamos agora? Nosso próprio Ser é isso.
P: Mesmo assim somos ignorantes.
B: Ignorantes do quê e de quem é a ignorância? Se a ignorância é a respeito do Ser existem dois si mesmos (Selves)?
P: Não há dois. Mas o sentimento de limitação não pode ser negado.
B: As limitações são apenas da mente. Você as sentia no sono profundo? Você existe no sono profundo. Você não nega a sua existência então. O mesmo Ser está aqui e agora no estado desperto. Você está dizendo agora que há limitações. O que aconteceu agora é que existem diferenças entre os dois estados. As diferenças devem-se à mente. Não há mente no sono profundo, enquanto que agora ela está ativa. O Ser existe na ausência da mente também.
P: Embora isso seja entendido, não é percebido.
B: Será pouco a pouco, com meditação.
P: Meditação é com a mente. Como ela pode matar a mente para poder revelar o Ser?
B: Meditação é firmar-se a um pensamento. Aquele único pensamento mantém afastados os outros pensamentos. Distração da mente é um sinal de sua fraqueza. Através de constante meditação ela ganha força, ou seja, a fraqueza dos pensamentos fugitivos dá lugar ao duradouro pano de fundo livre de pensamentos. Essa vastidão desprovida de pensamentos é o Ser. A mente em pureza é o Ser.

P: Como a meditação deve ser praticada?
B: Verdadeiramente falando, meditação é fixar-se no Ser. Mas quando os pensamentos cruzam a mente e fazemos um esforço para eliminá-los, o esforço geralmente é chamado de meditação. Atmanishtha (estar fixado no Ser) é a sua natureza real. Permaneça como você é. Esse é o objetivo.
P: Mas os pensamentos aparecem. Nosso esforço serve apenas para eliminar os pensamentos?
B: Sim. A meditação sendo em um único pensamento, os outros pensamentos são mantidos longe. A meditação apenas é negativa de fato, na medida em que os pensamentos são mantidos afastados.
P: Fala-se em 'fixar a mente no Ser' (atma samstham manah krtva). Mas não é possível pensar no Ser.
B: De qualquer modo, por que você deseja meditar? Porque você deseja meditar, lhe é dito para 'fixar a mente no Ser'. Por que você não permanece como você é sem meditar? O que é esta mente? Quando todos os pensamentos são eliminados ela se torna 'fixada no Ser'.
P: Se uma forma for dada, eu posso meditar nela e os outros pensamentos são eliminados. Mas o Ser é sem forma.
B: A meditação em formas ou objetos concretos é dita ser Dhyana, enquanto que investigação do Ser é Vichara ou a ininterrupta consciência de ser (de existir).
P: Há mais prazer na meditação do que nos prazeres sensuais. Ainda assim a mente se apressa para obter os prazeres sensuais e não busca a meditação. Por que é assim?
B: Prazer e dor são aspectos da mente apenas. Nossa natureza essencial é a felicidade. Mas nós esquecemos de nós mesmos (do Ser) e imaginamos que o corpo ou a mente são o Ser. É essa identidade errada que gera miséria. O que deve ser feito? Essa tendência mental é muito antiga e tem continuado por inúmeros nascimentos passados. Dessa forma ela tem ficado mais forte. Ela tem de ir antes que a natureza essencial, a felicidade, se afirme.

P: A Meditação é praticada com os olhos abertos ou fechados?
B: Pode ser feita de ambos os jeitos. O ponto é que a mente deve estar introvertida e ser mantida ativa na sua busca. Às vezes acontece que quando os olhos estão fechados, os pensamentos latentes se apressam com grande vigor. Pode ser difícil também introverter a mente com os olhos abertos. Requer força da mente para fazer isso. A mente fica contaminada quando ela absorve objetos. Quando não, ela é pura. O principal fator na meditação é manter a mente ativa na sua busca sem absorver impressões externas ou pensar em outros assuntos.

P: Sempre que medito sinto um grande calor na cabeça e, se persisto, meu corpo todo queima. Qual é a solução?
B: Se a concentração é feita com o cérebro, surgem sensações de aquecimento ou mesmo dor de cabeça. A concentração tem que ser feita no Coração, o qual é fresco e refrescante. Relaxe e a sua meditação será fácil. Mantenha sua mente estável gentilmente repelindo todos os pensamentos intrusos mas sem esforço excessivo. Em breve você conseguirá.


P: Como evito cair no sono enquanto medito?
B: Se você tentar evitar o sono isso significará pensar na meditação, o que deve ser evitado. Mas se você adormecer enquanto estiver meditando, a meditação irá continuar mesmo durante e depois do sono. Ainda assim, sendo o sono um pensamento, devemos nos livrar dele, pois o estado natural final tem de ser obtido conscientemente no estado desperto (jagrat) sem o pensamento perturbado. O sono e o estado desperto são meras imagens na tela do estado nativo livre de pensamentos. Deixe-os passarem desapercebidos.

P: Sobre o que devemos meditar?
B: No que você preferir.
P: Shiva, Vishnu e Gayatri são ditos como sendo igualmente eficazes.
B: Qualquer um que você gostar mais. São todos iguais em seu efeito. Mas você deveria se firmar a um.
P: E como eu medito?
B: Concentre-se naquele que você gosta mais. Se um único pensamento prevalece, todos os outros pensamentos são colocados para fora e finalmente são erradicados. Enquanto a diversidade prevalece há maus pensamentos. Quando apenas o objeto de amor prevalece, os bons pensamentos mantém-se no campo. Portanto, segure-se a um pensamento apenas. Dhyana é a prática principal.
Dhyana significa luta. Assim que você começa a meditação, outros pensamentos se aglomeram. Junte força e tente aprofundar o único pensamento com o qual você tenta se manter. O pensamento bom gradualmente deve ganhar força através de repetida prática. Depois de ter ficado forte os outros pensamentos vão ser mandados para longe. Essa é a batalha real que sempre acontece na meditação.
A pessoa quer livrar-se da miséria. Isso requer paz da mente, que significa ausência de perturbação devida a todos os tipos de pensamentos. A paz da mente é trazida pela meditação apenas.
O resultado final da prática de qualquer tipo de meditação é que o objeto no qual o buscador fixa sua mente deixa de existir enquanto separado e distinto do sujeito. Eles, o sujeito e o objeto, tornam-se o Ser uno, e esse é o Coração.
P: Por que Sri Bhagavan não nos diz para praticarmos concentração em algum centro particular ou chakra?
B: O Yoga Sastra diz que o sahasrara (o chakra localizado no cérebro) é o lugar do Ser. O Purusha Suka declara que o coração é o lugar dele. Para permitir que o buscador se livre de qualquer dúvida possível, eu lhes digo para trilhar o caminho ou a pista do 'sentido de eu' (I'ness) ou o 'sentido de eu sou' (I'am-ness) e segui-lo até a sua fonte. Porque, primeiramente, é impossível para alguém levantar qualquer dúvida a respeito dessa noção de 'eu'. Em segundo lugar, qualquer que seja o meio adotado, o objetivo final é a realização da fonte do 'sentido de eu sou' o qual é o dado primário da sua experiência.
Se você praticar portanto a investigação de si, você alcançará o Coração que é o Ser.

P: Qual é a diferença entre meditação (dhyana) e investigação (vichara)?
B: Ambos dão no mesmo. Aqueles que não se adequam à investigação devem praticar meditação. Na meditação o aspirante, esquecendo a si mesmo, medita 'eu sou Brahman' ou 'eu sou Shiva' e através desse método se mantém em Brahman ou Shiva. Isso irá terminar finalmente com a consciência residual de Brahman ou Shiva na forma do Ser (da própria existência). Ele irá então perceber que isso é o puro Ser, ou seja, o Si mesmo real.
Aquele que se engaja na investigação começa mantendo-se em si mesmo, e perguntando a si mesmo 'Quem sou eu?' o Ser (o Si mesmo real) torna-se claro para ele.
A pessoa imaginar mentalmente que ela é a realidade suprema, que brilha como existência-consciência-contentamento, é meditação. Fixar a mente no Ser para que a semente irreal da ilusão morra, é investigação.
Quem quer que medite sobre o Ser em qualquer imagem mental (bhava) atinge-o apenas naquela imagem. Aquelas pessoas pacíficas que permanecem quietas sem nenhuma imagem mental desse tipo atingem o nobre e inqualificável estado de Kaivalya, o estado sem forma do Ser.
P: A meditação é mais direta do que a investigação pois mantém-se na verdade enquanto que a investigação filtra a verdade da irrealidade?
B: Para um iniciante a meditação em uma forma é mais fácil e agradável. A prática dela leva à investigação de si que consiste em peneirar a verdade da irrealidade.
Qual é a utilidade de segurar-se na verdade quando você está cheio de fatores antagônicos?
A investigação de si conduz diretamente à Realização ao remover os obstáculos que fazem você pensar que o Ser ainda não está realizado.
A meditação difere de acordo com o grau de desenvolvimento do buscador. Se a pessoa estiver apta, ela deve se manter no pensador, e o pensador irá automaticamente afundar-se na sua fonte, a pura consciência.
Se a pessoa não pode segurar-se diretamente no pensador ela deve meditar em Deus e no devido tempo esse mesmo indivíduo terá se tornado suficientemente puro para se manter no pensador e afundar-se no Ser absoluto.
A meditação é possível apenas se o Ego for mantido. Existe o ego e o objeto sobre o qual se está meditando. O método é portanto indireto pois o Ser é apenas um. Buscando o ego, ou seja, a fonte dele, o ego desaparece. O que sobra é o Ser. Esse é o método direto.