quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Hazrat Inayat Khan - Vibrações (1923)

A vida silenciosa experimenta na superfície em razão da atividade. A vida silenciosa parece como a morte em comparação com a vida de atividade da superfície. Apenas para o sábio a vida eterna parece preferível à natureza momentânea e em constante mudança da vida mortal. A vida na superfície parece ser a vida real porque é nessa vida que toda a alegria é experimentada.
Na vida silenciosa não há alegria, apenas paz. O Ser original da alma é a paz e a natureza dela é a alegria, ambos os quais trabalham um contra o outro. Essa é a causa oculta de toda a tragédia da vida. Originalmente a alma é sem nenhuma experiência; ela experimenta tudo quando abre seus olhos para o plano exterior, e mantém-nos abertos apreciando a vida na superfície até que se satisfaça. A alma então começa a fechar seus olhos para o plano exterior e constantemente busca paz, o estado original de seu Ser.
A parte interna e essencial de todo e qualquer ser é composta de vibrações finas e a parte externa é formada de vibrações grosseiras. A parte mais fina chamamos de espírito e a parte grosseira de matéria, a primeira estando menos sujeita a mudança e destruição e a segunda mais sujeita a elas. Tudo o que vive é espírito e tudo o que morre é matéria; e tudo que morre no espírito é matéria e tudo o que vive na matéria é espírito. Tudo o que é visível e perceptível parece estar vivo, embora esteja sujeito à morte e decadência e resolvendo-se a cada momento em seu elemento mais fino, porém a visão do homem está tão iludida por sua cognição do mundo aparente, que o espírito que realmente vive é coberto sob a vestimenta da matéria e seu verdadeiro ser é escondido.
É o aumento gradual da atividade que faz as vibrações se materializarem, e é sua diminuição gradual o que as transmuta novamente em espírito. Como tem sido dito, as vibrações passam por cinco fases distintas enquanto mudam do sutil para o grosseiro, e os elementos – éter, ar, fogo, água e terra- tem cada um seu sabor, cor e forma peculiares a si próprios. Portanto, os elementos formam uma roda que no devido tempo os traz todos para a superfície. A cada passo na sua atividade eles variam e tornam-se distintos uns dos outros, e é o agrupamento dessas vibrações que causa a variedade no mundo objetivo. A lei que os faz dispersarem-se, o homem chama de destruição.
As vibrações transformam-se em átomos e os átomos geram o que chamamos de vida, então acontece que seu agrupamento através da força de afinidade da natureza, forma uma entidade viva. E na medida em que a respiração manifesta-se através da forma, o corpo torna-se consciente. Em um indivíduo existem muitos seres sutis e pequenos escondidos: no sangue, nas células do cérebro, na sua pele e em todos os planos de sua existência.
Assim como no corpo físico de um indivíduo vários pequenos germes que são seres vivos, nascem e são nutridos, também no plano mental existem muitos seres, denominados muwakkals – ou elementais. Essas são entidades ainda mais sutis nascidas dos próprios pensamentos do homem, e assim como os germes vivem no corpo físico os elementais habitam na esfera mental. O homem frequentemente imagina que os pensamentos são sem vida; ele não imagina que eles são mais vivos do que os germes físicos, e que eles têm nascimento, infância, juventude, velhice e morte. Eles trabalham para o benefício do homem ou para prejudicá-lo, dependendo da natureza deles. O Sufi os cria, molda e controla. Ele os ensina e os governa durante sua vida, os pensamentos formam seu exército e cumprem seus desejos. Assim como os germes constituem o ser físico do homem e os elementais sua vida mental, também os anjos constituem sua vida espiritual. Eles denominam-se farishtas.
Como regra as vibrações têm comprimento e largura, e elas podem durar a menor fração de um momento ou uma grande parte da vida do universo. Elas produzem diferentes formas, figuras e cores conforme surgem, uma vibração criando outra; assim, miríades delas surgem de apenas uma. Dessa maneira existem círculos sob círculos e círculos sobre círculos, todos os quais formando o universo.
Toda vibração após a sua manifestação funde-se novamente na sua fonte original. O alcance das vibrações é determinado pela sutileza do plano do seu ponto de partida. Falando de maneira mais simples, a palavra falada pelos lábios pode atingir apenas o ouvido do ouvinte, mas o pensamento procedente da mente alcança longe, atravessando rapidamente de mente para mente. As vibrações da mente são muito mais fortes do que as das palavras. Os sentimentos sinceros de um coração podem penetrar o coração de outro, eles falam no silêncio, espalham-se na esfera, fazendo com que a própria atmosfera da presença de uma pessoa proclame seus pensamentos e emoções. As vibrações da alma são as mais poderosas e de longo alcance; elas correm como uma corrente elétrica de alma para alma.
Todas as coisas e seres no universo estão conectados uns com os outros – visível ou invisivelmente – e através das vibrações uma comunicação é estabelecida entre eles em todos os planos de existência. Como um exemplo ordinário: se uma pessoa tosse numa assembleia, muitas outras começam a fazer o mesmo, assim como no caso do bocejo. Isso também se aplica à risada, euforia e depressão. Isso mostra que as vibrações transmitem a condição de um ser para o outro. O visionário, portanto, sabe o passado, o presente e o futuro e percebe as condições em todos os planos de existência. As vibrações trabalham através do acorde da simpatia entre o homem e o meio que o cerca e revela as condições presentes, passadas e futuras. Isso explica o porque do uivo dos cães predizer a morte, e o relincho dos cavalos a aproximação do perigo. Não apenas os animais mostram isso, mas mesmo as plantas em tempos de tristeza começam a morrer e as flores a murchar, enquanto que em tempos de alegria elas crescem e florescem.
A razão das plantas e dos animais poderem perceber as vibrações e saberem a chegada dos eventos enquanto o homem é ignorante disso, é porque ele tem cegado a si mesmo com o egoísmo.
A influência das vibrações é deixada na cadeira onde a pessoa senta, na cama onde dorme, na casa onde vive, nas roupas que ela usa, na comida que come e mesmo na rua onde anda.
Cada emoção surge da intensidade das vibrações que, quando ativas em diferentes direções, produzem diferentes emoções; e a causa principal de toda emoção é a atividade apenas. Cada vibração enquanto ativa eleva a consciência à superfície mais externa, e a névoa causada por essa atividade acumula nuvens, as quais chamamos emoções. As nuvens das emoções obscurecem a clara visão da alma. Por isso a paixão é chamada de cega. O excesso de atividade de vibrações não apenas cega, mas enfraquece a vontade e uma vontade fraca enfraquece a mente e o corpo.
É o estado de vibrações ao qual o homem está sintonizado que conta para a nota de sua alma. Os graus diferentes dessas notas formam uma variedade de tons divididos pelos místicos em três categorias distintas. A primeira, é a categoria que produz poder e inteligência e que pode ser retratada como um mar calmo. A segunda, é a categoria de atividade moderada, que mantém todas as coisas em movimento e é um equilíbrio entre poder e fraqueza, a qual pode ser retratada como um mar em movimento. E a terceira, é a categoria de atividade intensa que destrói tudo e causa fraqueza e cegueira, ela pode ser retratada como um mar tempestuoso.
Nas atividades de todas as coisas e seres o tom é reconhecido pelo visionário, assim como um músico reconhece a clave em que determinada musica está escrita. A atmosfera do homem revela a categoria de atividade de suas vibrações.
Se a atividade vibratória é controlada de maneira apropriada o homem pode apreciar toda a alegria da vida e ao mesmo tempo não ser escravizado por ela. É muito difícil controlar a atividade uma vez que ela foi iniciada e durante o desenvolvimento dela, pois é como tentar controlar um cavalo fugitivo. Mas é nesse controle que está tudo o que é chamado de as propriedades de um mestre.
Os santos e os sábios espalham sua paz não apenas no lugar onde sentam, mas até mesmo no bairro onde habitam; a cidade ou o país onde eles moram fica em paz, de acordo com o poder de vibrações que eles emanam de suas almas. Essa é a razão porque a associação com o que é bom ou ruim e com coisas de classe superior ou inferior, tem uma grande influência sobre a vida e o caráter do homem.
A intensidade de atividades produz vibrações fortes que na terminologia Sufi denomina-se jelal, e como já mencionado, trabalham como força e poder, a suavidade de atividades causa vibrações brandas chamadas jemal, que trabalham como beleza e graça. O conflito entre essas duas forças é denominado kemal, que causa destruição.
O padrão de certo e de errado, a concepção de bem e de mal e a idéia de pecado e de virtude são entendidos de maneira diferente por pessoas de diferentes raças, nações e religiões; portanto, é difícil discernir a lei que governa esses opostos. Entretanto, torna-se claro ao entendermos a lei das vibrações. Todas as coisas e seres na superfície da existência parecem estar separados uns dos outros, mas em cada plano sob a superfície, ficam mais próximos uns dos outros, e no plano mais profundo todos se tornam um. Portanto, cada perturbação causada a um pedaço da menor parte da existência na superfície, internamente afeta o todo. Assim, qualquer pensamento, fala ou ação que perturba a paz está errado, é ruim e é um pecado. Se traz paz está correto, é bom e é uma virtude. A vida sendo um domo, tem sua natureza como um domo. Uma perturbação da menor parte da vida perturba o todo e retorna como uma maldição sobre a pessoa que a causou. Toda paz produzida na superfície conforta o todo, e por consequência, retorna como paz ao produtor. Essa é a filosofia da recompensa pelas boas ações e da punição pelas más ações, dada pelas forças superiores.