sábado, 22 de agosto de 2009

Siddharameshwar Maharaj - O suporte de tudo


Primeiro, o ser humano encontrava-se retorcido num pequeno espaço dentro do útero da mãe. Quando nasceu e veio para este mundo ilimitado, ele abriu ligeiramente os olhos e olhou ao redor. Ao ver um imenso espaço e uma tremenda luz, desviou seus olhos e ficou em choque. “Que lugar é este para o qual eu vim sozinho? Quem me dará suporte? O que vai ser do meu destino?” Esses tipos de medo surgiram na sua mente. Imediatamente após o nascimento, com o primeiro choque, ele começou a chorar. Um pouquinho depois foi-lhe dado uma gotinha de mel para lamber. Com isso ele sentiu-se aliviado pensando que tudo estava bem, e que ele tinha o suporte de alguém. Assim, ele pacificou-se. Entretanto, aquele primeiro choque de medo ficou tão arraigado em sua mente, que ele ficava assustado com o menor som, e novamente aquietava-se quando lhe era dado mel ou o seio de sua mãe. Dessa maneira, arranjando suporte externo a cada passo, esse ser humano tornou-se dependente do suporte de seus pais. Conforme ele foi crescendo, os pais dele, bem como aqueles que cuidavam dele quando criança, começaram a dar-lhe conhecimento a respeito do mundo. Depois disso, seus professores de escola ensinaram-lhe as várias ciências físicas, tais como geografia, geometria, geologia, etc., as quais são tão sem valor quanto poeira.
Quando ele entra na fase da “juventude”, novamente procura por suportes para sua vida. Como é determinado pelo mundo que o suporte para a vida vem do dinheiro, esposa, etc., ele junta riquezas e arruma uma esposa. E toma por garantido que pode ser sustentado por esse suporte mundano apenas e desperdiça a sua vida. Com fama, aprendizagem, poder e autoridade, riqueza e esposa, ele soma prosperidade e fica cada vez mais enroscado. Suas principais posses e todo seu suporte, são sua esposa, riqueza, status, juventude, beleza e autoridade. Ficando com um orgulho especial em tudo isso, e ficando intoxicado com a mundaneidade, o ser humano perde a oportunidade de conhecer a sua “Natureza Real”. O orgulho em relação ao dinheiro, em relação à autoridade, à beleza absorve o homem e ele esquece sua Natureza Real.
Eventualmente, as posses acima mencionadas começam a encolher uma a uma. Quando as posses começam a se esvair de acordo com a lei da natureza, a memória do choque que ele recebeu inicialmente balança-o até suas raízes mais profundas e ele torna-se frustrado. Em pânico ele questiona: “O que farei agora? Estou perdendo suportes de todos os lados. O que acontecerá comigo?” Entretanto, esse homem ignorante não entende que todas essas posses tinham apenas um suporte sólido, que era a própria Existência dele, ou o sentido de “Eu Sou”. É através desse suporte apenas, que o dinheiro tinha o seu valor, que a esposa dele parecia charmosa, que as honras recebidas pareciam valer a pena, que a aprendizagem deu-lhe sabedoria, a sua forma adquiriu beleza e sua autoridade empunhava poder.

Ó pobre homem, você próprio é o suporte de toda a riqueza acima mencionada! Pode haver maior paradoxo do que sentir que a riqueza lhe dava suporte? Se somado à essa riqueza, poder, mulher, juventude, beleza da forma e honra, a pessoa adquirisse fortuna desonestamente, quão estranhas e pervertidas suas ações se tornariam?
Um poeta escreveu certa vez (descrevendo as palhaçadas da mente humana), “Primeiramente é um macaco, somado a isso, fica bêbado e além disso um escorpião o pica”. Mesmo tal poeta largaria sua caneta ao ver os ridículos absurdos desse ser humano e daria adeus aos seus talentos poéticos. O tipo de homem que considera seu corpo como Deus e está absorto em adoração a ele dia e noite, deveria ser considerado como um sapateiro. Há um provérbio apropriado que diz que um Deus chambhar* deveria ser adorado somente de sapatos. Isso nos diz a maneira que esse “Deus” (o corpo) de tal homem tem de ser adorado. A devoção de um ateísta é alimentar o corpo e sua liberação é a morte do corpo. Para tal homem cujo objetivo final da vida é alimentar o corpo e sua liberação é a morte não existe elevação acima do nível do corpo grosseiro. Não é surpresa no seu caso, que se devido a algum infortúnio, ele perdesse toda sua riqueza, ele ainda emprestaria dinheiro para satisfazer os seus hábitos de comida, bebida e diversão. Se os credores fossem atrás dele, ele declararia insolvência para se livrar de toda situação. Quando a morte o atinge, finalmente ele apenas cai morto. Ele morre assim como veio. Poderia haver algo mais trágico ou lamentável do que esse tipo de vida?
Por que deveria a mulher que despeja louvores em seu marido por dar-lhe um lindo brinco para o nariz, pensar no Senhor, que proveu-lhe um nariz para colocá-lo? Da mesma maneira, como podem os animalísticos seres humanos que olham apenas para o corpo como sendo tudo e o final de tudo da vida, ver Deus? Aquele cujo poder dá ao Sol a sua existência como Sol, à Lua sua existência como Lua, aos Deuses sua existência como Deuses, é Deus o Todo Poderoso. É Ele que é o suporte de tudo, que está presente no coração de todos os seres e se tornou invisível ao homem.
Aqueles cujos olhos são treinados em objetos externos vêem apenas aquilo que é externo. A palavra “Aksha” é um sinônimo para “olho” em Marathi. “A” é exatamente a primeira letra do alfabeto, e “ksha” é uma das últimas consoantes. Isso significa que o que os olhos vêem estará contido dentro do âmbito dessas duas letras do alfabeto. Eles trarão apenas informação ou conhecimento dos objetos externos. Os objetos grosseiros serão visualizados pelos olhos grosseiros, e o que é sutil será sentido pelos sentidos que são sutis. Entretanto, uma letra do alfabeto que vem depois de “ksha” em Marathi é “gnya”. A letra “gnya” indica o Conhecimento que não pode ser visto nem pelo olho grosseiro externo, nem pelo olho sutil do intelecto. Portanto, o intelecto e os sentidos indicam o “olho” com o sinônimo “aksha”. Como o olho, os outros órgãos dos sentidos, ouvido, nariz, língua, estão todos apontando para fora e continuam a existir pela força dos objetos externos.
O “Rei do Conhecimento” (“Eu Sou”) influencia todos os sentidos e parece garantir aos sentidos a “senhoria” sobre os objetos dos sentidos. É por causa dessa exteriorização que o fato de Ele estar antes dos sentidos, não atrai a atenção de ninguém. Através de muitos nascimentos, a mente e o intelecto têm adquirido o hábito de apenas olhar para fora. Portanto, “voltar-se para dentro” tornou-se uma tarefa muito difícil. Esse é chamado de “o caminho reverso” o qual os Santos seguem quando voltam-se para a direção oposta e observam a mente completamente, abandonando ver tudo o que é externo. Onde um homem ordinário está adormecido, os Santos estão despertos, e onde um homem ordinário está desperto, os Santos cochilam. Todos os seres encontram-se acordados para os objetos externos e tornaram-se extremamente habilidosos nesse tipo de despertar. Os santos entretanto, fecharam seus olhos para as coisas externas e é o Ser, para o qual os outros seres estão adormecidos, que mantém o Santo totalmente desperto.
*(em Marathi, a palavra chambhar significa “aquele que carrega um couro em suas costas”)