segunda-feira, 22 de junho de 2009

Nisargadatta Maharaj - 21 de agosto de 1980


Maharaj: Não estou muito interessado em ter pessoas aqui ficando mais do que oito ou dez dias, o que quer que tenham entendido, elas têm de digerir, nenhum discurso adiante irá alcançá-las.
Presumindo que a pessoa seja inteligente, tendo saído daqui e ido para outro lugar, ela não conseguirá ficar sozinha – irá desejar a companhia de alguém de modo que ela possa transmitir os bens da espiritualidade. Ela irá querer a companhia de outras pessoas com quem possa discutir espiritualidade – de outra maneira irá sentir-se muito infeliz. Você se sentirá feliz e satisfeito se não encontrar outros sadhakas?
Pergunta: Ah sim. Isso é um ponto necessário para um buscador sério – passar pelo estágio onde ele gostaria de compartilhar seu conhecimento com os outros?
M: Isso é uma parte, mas também deve chegar a um fim. O estado mais elevado é o estado não nascido no qual não há experiência da mente. Investigue o conceito “eu sou”. No processo de tentar encontrar sua verdadeira identidade você pode até mesmo abandonar o Ser, e ao abandonar o Ser, você é Aquilo.
[Maharaj está olhando para alguns pardais na janela] A consciência vivendo dentro do pardal e a consciência vivendo neste corpo é a mesma. Aqui o instrumento é grande, neles é menor. Os pardais estão planejando por comida, a barriga deles não está cheia. Todas as espécies estão sofrendo; a própria criação em si está sofrendo.

Todos esses conceitos sobre renascimento, etc... A chuva tem renascimento? O fogo? O ar? Em suma, isso é uma mera transformação dos cinco elementos. Você pode chamar de renascimento.
No processo desta busca espiritual, tudo irá acontecer no reino desta consciência. Você finalmente tropeça, ou culmina, no estado absoluto Parabrhaman, o qual é sem desejos.
Eu compreendi e transcendi o 'sentido de ser' (beingness). Suponha que eu viva por mais 100 anos: estado desperto, sono e 'sentido de “eu sou”' (I amness). - qual é a utilidade disso? Estou farto disso.
Não tenho nenhuma identidade exclusiva para mim mesmo. Qualquer identidade que eu tenha é o jogo dos cinco elementos e é universal. Sendo que não há muito que possa ser dito sobre meu estado, não vou manter as pessoas por muito tempo. Apenas repartirei algum conhecimento e falarei para elas irem embora. Com esse conhecimento profundo, neste nível, elas não estão aptas a entender. Que benefício podem obter?


_____________________________________________



Pergunta: O principal obstáculo reside na nossa idéia de tempo, no nosso hábito de antecipar um futuro sob a luz do passado. A soma total do passado torna-se o “eu era”, a esperança pelo futuro torna-se o "eu vou ser"e a vida é um constante esforço de atravessar do “eu era' para o que “eu vou ser”. O momento presente, o "agora" é perdido de vista. Maharaj fala do “Eu sou”. Esse “eu sou” é uma ilusão, como o 'eu era' e “eu vou ser”, ou existe algo real em relação a ele? E se o 'eu sou' é também uma ilusão, como fazemos para nos livrarmos dele? A própria noção de “eu sou” livre de “eu sou” é um absurdo. Existe algo real, algo duradouro a respeito do "eu sou" em distinção com o "eu era", ou "eu vou ser", que muda com o tempo, tal como memórias formadas que criam novas expectativas?

Maharaj: O 'eu sou' atual é tão falso quanto o "eu era” 'e o “eu serei". É apenas uma idéia na mente, uma impressão deixada pela memória, e a identidade separada que ele cria é falsa. Este hábito de se referir a um falso centro deve ser abandonado, o conceito: "eu vejo", "eu sinto”, “eu penso”, “eu faço”, deve desaparecer do campo da consciência, o que sobra quando o falso não está mais, é real.

P: O que é essa grande conversa sobre eliminar o Ser (self)? Como pode o Ser eliminar a si mesmo? Que tipo de acrobacia metafísica pode levar ao desaparecimento do acrobata? No final ele irá reaparecer, poderosamente orgulhoso do seu desaparecimento.
M:Não é necessário perseguir o "eu sou" para matá-lo. Você não pode. Tudo o que você necessita é um sincero anseio pela Realidade. Chamamos isso de atma-bhakti, o amor do Supremo: ou Moksha-sankalpa, a determinação de se livrar do falso. Sem amor, e vontade inspirada pelo amor, nada pode ser feito. Simplesmente falar sobre a Realidade sem fazer nada a esse respeito é auto-derrotador. Deve haver amor na relação entre a pessoa que diz 'Eu sou' e o observador desse 'eu sou'. Enquanto o observador, o Ser interior, o Ser “superior", considerar-se aparte do que é observado, o ser “inferior”, desprezá-lo e condená-lo, a situação é desesperadora. É apenas quando o observador (vyakta) aceita a pessoa (vyakti) como uma projeção ou uma manifestação de si próprio, e, por assim dizer, leva o ser para dentro do Ser, a dualidade do 'Eu' e 'esse' se vai e na identidade do exterior e do interior a Suprema Realidade manifesta-se. Essa união daquele que vê com aquilo que é visto acontece quando o que vê se torna consciente de si mesmo como sendo o que vê, ele não está somente interessado naquilo que é visto, que de qualquer forma é ele, mas também está interessado em estar interessado, dando atenção à atenção, consciente de estar consciente. Consciência afetuosa é o fator crucial que traz a Realidade para dentro do foco.