sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ramesh S. Balsekar - Seja feita a Vossa vontade

Ramesh: As pessoas me perguntam se há algo único em relação ao que estou ensinando. Eu diria que sim. O que é único sobre o que estou falando é que eu começo com o Bhakti e termino com a compreensão. O que é Bhakti? Seja feita a Vossa vontade. O “eu” fala “Você é tudo o que existe – Seja feita Vossa vontade.”
Pergunta: Quando você diz “Seja feita a Vossa vontade”, eu entendo que você quer dizer que a vontade de Deus está, de fato, sendo feita sempre.
Ramesh: Isso está correto. Foi feita, está sendo feita e será feita!
Pergunta:E é impossível que algo além da vontade de Deus seja feito.
Ramesh: Correto. Mas, realmente, essa não é a parte relevante. A parte relevante é, “eu” não sou nada. Essa é a parte relevante. Você (Deus) é tudo o que existe. Sua vontade prevalece o tempo todo. Portanto, pensar, “eu não posso fazer nada, eu posso fazer algo, eu posso alcançar algo” é ridículo. Essa é a parte relevante – o desamparo e a incapacidade do objeto criado. A aceitação, a total aceitação do fato de que um objeto criado é impotente e desamparado, é a parte relevante.
De quem é a vontade que prevalece (e você o chama de Deus) é um conceito que é necessário pois o indivíduo encontra-se muito desamparado. Então, a mente-intelecto cria um objeto que é todo poderoso e diz que tudo acontece de acordo com a Vossa vontade – que significa que não é a “minha” vontade. Desse modo, aceitar que “eu” não sou nada, que “eu” sou meramente um objeto a mercê da vontade de Deus é basicamente nada além de pura devoção, ou Bhakti. Portanto, o que eu digo estritamente começa com Bhakti – Seja feita a Vossa vontade.
Pergunta: Você tem um ensinamento básico?
Ramesh: Sim. Meu ponto básico é que a Consciência é tudo o que há – nenhuma “pessoa” faz nenhuma ação. Nada acontece a menos que seja a vontade de Deus. E quando eu digo “Deus”, eu não quero dizer uma entidade toda poderosa dentro ou fora da manifestação. Por “Deus” eu quero dizer a Fonte, a Consciência refletida, – o Um sem um segundo – dentro do qual a manifestação acontece.
O Buda disse, “Os eventos acontecem. Os feitos são realizados. Portanto, não há um fazedor individual.” Esse é o básico. Ninguém poderia ter colocado isso em termos mais simples ou mais breves. Os eventos acontecem. Os feitos são realizados. Não há realizador individual, portanto. Se não há realizador individual, então “quem” os realiza é irrelevante. Mas se o intelecto faz a pergunta e deve receber uma resposta, então é dito para o intelecto, “De quem são as ações? São as ações de Deus.”
Pergunta:Por que o Ramesh continua falando?
Ramesh: Ó Arthur! O Ramesh não fala. Nem realmente o Arthur escuta. Não existe Ramesh para falar, e não existe Arthur para escutar. Mas enquanto houver um “Arthur” para escutar, o Arthur precisa de conceitos. A consciência provê esses conceitos através deste organismo corpo-mente.
Pergunta: Então fico me perguntando por que Ramesh continua falando com Arthur.
Ramesh: Porque isso é parte do funcionamento da manifestação. Isso é parte daquilo que É no momento. É isso que está suposto a acontecer, e acontece! Nada pode acontecer a menos que esteja suposto a acontecer. Dessa maneira, esta conversa está acontecendo. Que efeito esta conversa tem e em quem, ninguém sabe – apenas a Consciência, Deus, sabe.
Pergunta: Para mim conceitos são conceitos. Já passei por muitas mitologias de diferentes mestres e elas são boas histórias.
Ramesh: Sim! São histórias! Então o que você está perguntando é como você sabe se o que estou dizendo é a verdade. Essa é a sua pergunta, não é?
Pergunta: Exatamente!
Ramesh: Acabei de lhe dar a resposta. Ninguém pode lhe contar a verdade. O que quer que alguém lhe fale é um conceito.
Pergunta:O que está além dos conceitos?
Ramesh: Além dos conceitos está a verdade! A verdade é escondida pelos conceitos e pela conceitualização.

Ramesh: Quando você fala e usa uma analogia, a analogia é baseada apenas em objetos. Portanto, Ramana Maharshi frequentemente dizia, “O único ensinamento é o silêncio”. Qualquer conceito que você utilize, qualquer analogia, qualquer metáfora – todos estarão baseados em objetos.
Pergunta: Existe a transmissão do conhecimento através do silêncio?
Ramesh: Sim. Mas pouquíssimos organismos estão programados para aceitar a verdade através do silêncio. Portanto, compelido pela compaixão por aqueles muitos, muitos que não estão programados para estarem aptos a aceitar a verdade através do silêncio, Ramana Maharshi começou a falar. Ele usava uma analogia como um exemplo para explicar isso: alguns poucos são como pólvora, com uma fagulha eles se vão. Buscadores que são como pólvora, podem não estar aptos a aceitar o silêncio, mas com uma fagulha, uma afirmação – Tudo o que há é a Consciência, nenhuma “pessoa” faz nenhuma coisa, nada acontece a menos que seja a vontade de Deus – e a pólvora é aniquilada. Então, quem está programado para ser pólvora, quem está programado para ser carvão seco e quem está programado para ser carvão molhado é da vontade de Deus. Mas o carvão molhado é que precisa de muito trabalho, Ramana Maharshi novamente deu um consolo – sua cabeça já está na boca do tigre, não há escapatória. Portanto, deixe demorar tantos nascimentos quanto a Fonte quiser.