domingo, 5 de abril de 2009

Nisargadatta Maharaj - Entenda que não é o indivíduo que tem consciência, é a consciência que assume inumeráveis formas (1979)

Maharaj: Na natureza (nisarga) tudo está limitado ao tempo (as estações, plantio, colheita etc) mas a natureza em si não está limitada ao tempo. A natureza não é nem masculina nem feminina. Muitos Avatares vêm e vão, mas a natureza não é afetada. A história da natureza está emanando de todas as impressões tomadas em sua mente desde o nascimento. Enquanto você está se apoiando nessas memórias, não haverá conhecimento do Ser. Se você apenas estudar o que aconteceu na natureza, como a história, as vidas grandiosas etc., você não poderá realizar o seu Ser. Você tem que ir para dentro. Quaisquer grandes coisas acontecendo na natureza, não importa o quão poderosas sejam, ainda assim elas desaparecem aqui mesmo. Essas situações aparecem e desaparecem. Elas são, de fato, abstratas, o que é sólido aqui é o conhecimento “eu sou”. O que é visto e a visão, desaparecem. Falo isso apenas para os que estão preparados para ouvir. O que quer que apareça está fadado a desaparecer.
A maior das aparições é o conhecimento “eu sou”. Ele é invisível antes do nascimento e depois da morte do corpo, e enquanto é visível é algo sólido. Muitos grandiosos sábios apareceram e desapareceram por causa da poderosa semente “eu sou”. Quando o prana abandona o corpo, o conhecimento não tem suporte e desaparece, isto é, ele fica invisível.
O que estou expondo é muito profundo. Você pode experimentar até mesmo Brahma, mas essa experiência não vai durar. Todas as experiências devem-se à célula “eu sou”. Tanto a célula quanto a experiência irão desaparecer. Mesmo as melhores de nossas memórias irão se esvair um dia. O conhecimento “eu sou” é limitado ao tempo, todo o seu conhecimento brota do conceito de que você é.
Milhares de sábios vêm e vão. Eles, no momento presente, experimentam o estado de “eu sou”? Eles não tinham autoridade para perpetuar seu sentido de ser (beingness); seu sentido de “eu sou” (I'am-ness), tornou-se não visto. Os sábios não podem fazer a menor mudança no mundo. O que acontece, acontece.
Q: Mas Maharaj tem dito que por causa da existência do Jnani o mundo é beneficiado.
M: Isso é dito para um ignorante, para aquele que se apóia no corpo-mente. Quando não existe o sentido de “eu sou” o que é que você precisa?
Q: Estou perdido.
M:Quem está falando? Para quem?
Q: Para mim.
M: Se você (o conhecimento “eu sou”) estivesse realmente perdido, como você saberia sobre o senso de estar perdido? Você é levado por conceitos. Esta semente infinitesimal contém o universo. Você perde o ponto, você não me compreende apropriadamente. Este princípio “eu sou” é o que eu estou lhe falando de novo e de novo.
Descubra a sua identidade. O que aparecer vai desaparecer. O que podem Roosevelt ou Gandhi fazer agora? Nos próprios locais de onde eles comandavam, mudanças aconteceram. Por que eles não falam? Quando o prana deixa o corpo, mesmo os grandes sábios não podem falar.
Q: No Gita, Sri Krishna diz que onde quer que haja calamidade e que não haja Dharma, ele virá e restaurará.
M: Isso é como a as estações do ano, existe o ciclo. Neste ciclo o significado mais profundo do Ser é para ser entendido. Todas as questões serão resolvidas uma vez que você solucione o enigma do “eu sou”.
Q: As vezes me sinto bem, as vezes mal, as vezes contentado, as vezes deprimido. Sei que isso é a mente; os Vedas dizem que a mente é nascida da Lua e por isso ela muda.
M: Faça-me o favor de antes de vir aqui, deixar sua mente de lado. Bom e ruim estão no reino da mente apenas. Renegue o que quer que você recebe da mente.
Q: Quem é que me fala pra vir aqui e ficar a seus pés?
M: Isso não pode ser dito em palavras, você pode chamar isso de qualquer coisa que quiser. Lua significa mente, a mente é como uma coisa líquida, pois ela flui continuamente. Apenas inocentemente, sem se envolver, observe o fluxo da mente; não tome posse do fluxo da mente. Fique no estado do sentido de “eu sou” (I'amness”) sem palavras. Você atribui sentido às palavras e no final as palavras se vão; no fim o que é perceptível e observável passa para o estado não-perceptível e não-observável. Descubra isso. Você irá entender isso devagar e irá ter paz e descanso. Você não faz nada. Isso acontece. Você fala sobre conhecimento, esse conhecimento é o que você tem lido e escutado dos outros. A menos que você tenha confiança em seu próprio Ser você tem que se apoiar na autoridade dos outros, mas eu lhe falo do meu estado real; conforme experimento isso, conforme vejo isso, eu falo, sem citar a autoridade do Gita ou do Mahabharata. Quando você fala do Gita você deve saber que ele se refere a você, cada palavra dele refere-se ao seu próprio Ser.

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Maharaj: Apenas seja como você é, não imagine ou crie imagens. Seu corpo e sua imagem mudam continuamente durante sua vida toda e nenhuma dessas imagens permanece constante.
Daqui vinte e cinco anos seu corpo irá perder essa imagem e irá ter a forma de uma pessoa mais velha; mais tarde essa imagem também irá se esvair. Se essas imagens fossem reais elas teriam permanecido; elas são irreais. O princípio “eu sou” não tem forma, nem cor, nem desenho. Através desses desenhos nós desfrutamos ou sofremos, mas nada é real; qualquer experiência que você tenha não é real. Esteja você gargalhando ou chorando, essa é uma imagem para aquele momento apenas – no próximo ela estará mudando. Algumas pessoas são muito boas em chorar, lamentar, reclamar, apenas por aquele momento.
Enquanto o corpo estiver aí este show passageiro estará aí, continuamente mudando e finalmente, essa própria consciência através da qual você vê o mundo irá embora. Os dias estão contados para esse corpo e essa consciência.
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Maharaj (no fim de sua vida): O material do qual o corpo é constituído está ficando gasto e fraco, e juntamente com ele, esse conhecimento também está ficando mais fraco. O sentido de presença ainda está comigo porque esse material do qual o corpo é feito ainda tem alguma força. Quando essa pequena força acabar, então a consciência também desaparecerá, então não haverá sentido de presença – mas eu certamente vou ser – sem esse sentido de presença.
Cada um de vocês está tentando se proteger. O que é isso que você está tentando proteger? Não importa o quanto você proteja, quanto tempo irá durar? Vá na raiz e descubra o que é isso que você está tentando proteger e preservar, e quanto tempo isso irá durar.
O único caminho espiritual para compreender sua verdadeira natureza é encontrar a raiz desse conceito “eu sou”. Antes do senso de presença ter chegado eu estava naquele estado no qual o conceito de tempo nunca existiu. Então, o que nasce? É o conceito de tempo e aquele evento que é o nascimento, a vida e a morte juntos constituindo nada além do que o tempo, do que a duração.
Uma vez que você entender isso, tudo se tornará claro; antes de entender isso, nada estará claro. Não é simples e fácil?
Q: As palavras são simples, mas compreender o que essas palavras significam será difícil.
M: O que é isso em cuja ausência você não estaria apto a entender nem mesmo essas palavras? Vá na raiz dessa fonte.
Para compreender o que eu lhe disse esta manhã, o intelecto é totalmente impotente. Deve haver uma compreensão intuitiva disso.
O conhecimento que estou expondo irá dissolver sua identidade como uma personalidade e irá transformar-lo no conhecimento manifesto. O conhecimento manifesto, a consciência, é livre e incondicionada. Não é possível nem capturar nem abandonar esse conhecimento porque você é esse conhecimento, mais sutil do que o espaço.
Este conhecimento de que você é o manifesto, deve ser aberto através da meditação; você não o consegue escutando palavras.
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Não é esta consciência anterior a qualquer outra experiência? Não existe algo sob o qual esta consciência surgiu? Este estado desperto, sono profundo e o sentido de presença, quem é que tem essas experiências senão Aquilo que era anterior à essas experiências?
Isto que está falando com vocês é este estado que é limitado pelo tempo, que surgiu temporariamente sobre meu estado original. Portanto, você e eu não podemos ter senso de medo; é apenas este estado mutável que se identificou com o corpo que tem medo.
O medo da morte é a penalidade por aceitar a identidade do corpo como uma entidade separada no funcionamento total. É apenas o nascimento que teme a morte.
Presença e ausência são dualidades inter-relacionadas, isso foi entendido apenas depois que o sentido de presença surgiu, anteriormente não havia sentido nem de ausência nem de presença.
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Entenda que não é o indivíduo que tem consciência, é a consciência que assume inumeráveis formas. Aquele algo que nasce ou que irá morrer é puramente imaginário. É o filho de uma mulher estéril.
Na ausência do conceito básico “eu sou” não há pensamento, não há consciência.