domingo, 22 de março de 2009

Sri Ramakrishna Paramahamsa (1836-1886) -- 19 de dezembro 1883

Ramakrishna: Quando a mente se torna pura, a pessoa tem uma outra experiência; reconhece intimamente: “Apenas Deus é o realizador e eu sou Seu instrumento.”
Uma vez um homem perverso golpeou um monge que vivia em um monastério até deixá-lo inconsciente. Quando este recuperou a consciência, seus amigos, enquanto o alimentavam, perguntaram-lhe: “Quem está lhe dando leite?” o monge disse: “Aquele que me golpeou, está me alimentando agora”.
Pergunta: “Sim senhor. Eu conheço essa história.”
Ramakrishna: Não é suficiente conhecê-la; é necessário assimilar seu significado. É o pensamento dos objetos mundanos que impede a mente de entrar em samadhi. A pessoa se estabelece em samadhi quando está completamente livre das coisas do mundo. É possível para mim abandonar meu corpo em samadhi, mas tenho um ligeiro desejo de apreciar o amor de Deus e desfrutar da companhia de Seus devotos. Por isso presto um pouquinho de atenção em meu corpo.
Há uma outra classe de samadhi, chamada únmana samadhi. Alcança-se isso de uma vez, recolhendo a mente dispersa. Você compreende o que é isso, não?
Pergunta: Sim senhor.
Ramakrishna: Sim, é a concentração repentina da mente dispersa no ideal. Mas esse samadhi não dura muito. Os pensamentos mundanos se interpõem e destruindo-no. O Yogi desliza do seu estado de yoga.
Em Kamarpukur eu vi uma mangosta que vivia num buraco no alto de uma parede. Ela se sentia confortável lá. Certa vez as pessoas amarraram um ladrilho na sua cauda para fazê-la sair do seu buraco. Sempre que a mangosta conseguia se acomodar dentro do buraco, tinha de sair por causa do pedaço de ladrilho. Tal é o efeito de pensar nos objetos mundanos que fazem o Yogi desviar-se do caminho do Yoga.
As pessoas do mundo, podem por vezes experimentar o samadhi. O Lótus floresce sem dúvida quando o sol está a pino, mas suas pétalas fecham-se outra vez quando uma nuvem cobre o sol. Os pensamentos mundanos são a nuvem.
Pergunta: É possível desenvolver ambas as coisas, jnana (cohecimento) e bhakti (devoção), pela prática da disciplina espiritual?
Ramakrishna: Pelo caminho do bhakti um homem pode alcançar ambos. Se for necessário Deus lhe dá o conhecimento de Brahman. Mas apenas um aspirante altamente qualificado pode desenvolver o jnana e o bhakti ao mesmo tempo. Assim é o caso dos Ishvarakotis, Chaitania por exemplo. Mas no caso dos devotos comuns é diferente.
Existem cinco classes de luz: a luz de uma lâmpada; a luz das diversas classes de fogo; a luz da lua; a luz do sol e finalmente a luz combinada do sol e da lua. Bhakti é a luz da lua e o jnana é a luz do sol.
Algumas vezes vemos que o sol se pôs apenas quando a lua aparece no céu. Em uma encarnação de Deus vê-se ao mesmo tempo o sol do conhecimento e a lua do amor.
Por acaso, alguém pode, pelo mero desejo, desenvolver o conhecimento e o amor ao mesmo tempo? Depende de que pessoa. Um bambu é mais oco do que outro. É possível a todos compreender a natureza de Deus? Pode uma vasilha de um litro conter cinco litros do leite?