quinta-feira, 19 de março de 2009

Hazrat Inayat Khan - 30 de janeiro de 1924

A crença em Deus é um benefício e esse benefício é adquirido através do desenvolvimento dessa tendência. Conforme formos mais longe na crença de Deus, começaremos a perceber um sentido abrindo uma visão, por assim dizer e que pode apreciar a beleza em todas as suas diferentes formas. Enquanto o coração estiver fechado, esse sentido estará fechado. Quando o coração estiver aberto esse sentido estará aberto e mostrará ao homem a beleza em todas as suas diferentes formas, a beleza de todas as diferentes fés, a beleza de todas as condições. Quando esse sentido é aberto, quer a pessoa esteja em casa ou fora de casa, seja ao ar livre, no campo, seja olhando para cima ou para baixo, quer com os olhos fechados ou abertos, existe sempre alguma coisa para admirar, existe sempre algo bonito para lembrar, para recordar-nos de Deus, o Senhor da beleza.

O acontecer disso, é como uma pessoa que desenvolve apreço pela arte. Pois não é todo mundo que pode apreciar arte. Quem pode apreciar, é aquele cujo sentido da arte se desenvolveu para apreciá-la. E quando a pessoa começa a apreciar arte, é ela que conhece o artista. Virão milhares de pessoas que olharão para a peça de arte, mas haverá talvez uma dentre as milhares, que realmente entende a alma do artista, que compreende a beleza da arte, que compreende o que está por trás daquilo. E é essa pessoa que é o verdadeiro amigo do artista, porque ele conhece a alma do artista; e assim também é aquele que crê em Deus. Quando o crente de Deus, abriu o seu coração, ele está começando a ver a beleza da criação e começando a se comunicar com a beleza, e então, ele vem a conhecer o artista que está por trás dessa beleza. É assim, então, que ele é o verdadeiro amigo de Deus, porque ele não só acredita em Deus, mas vê os sinais Dele com os olhos abertos.
Em cada obra de arte, seja poesia, seja pintura, seja música, você pode ser um amigo do artista (você pode se aproximar do artista) ao entender sua arte; e assim, também chegamos mais perto de Deus ao compreender, ao apreciar mais e mais tudo o que Ele fez. E então o que acontece? A pessoa desenvolve em sua natureza aquela visão que vê Deus em todas as coisas, que o lembra do Artista em sua arte em toda parte. Tomemos como exemplo a natureza humana, que é muitas vezes mais difícil e mais desafiadora para se ter paciência e mais problemática para se lidar. Mesmo assim, ainda há um lado belo nela, que é o mesmo se pudermos abrir nossos olhos para olhar para ele. Há uma beleza na criança, há uma beleza na simplicidade da criança e há uma beleza no jovem. Em cada idade há uma beleza. Existe um certo desenvolvimento da forma, do pensamento e da experiência. Torna-se possível vê-la em todas as idades e em todas as situações.
Se uma vez a pessoa começou a olhar para a beleza, ela vê uma beleza refletida em cada forma e a única coisa na qual falta beleza é na sombra. Ela é não-existente. Quando vemos a beleza, vemos beleza, não olhamos para a sombra. Mas há outros que vão olhar para a sombra. E esses que olham para a sombra dessa ilusão, vêem e não vêem. Seus olhos estão abertos e ainda assim estão fechados.
Mas agora há um passo a mais. Uma pessoa prossegue e vê que: 'Toda esta beleza que eu vejo que está fora e todo esse poder, bondade e sabedoria, sinais que eu vejo em tudo e em todas as coisas, aonde está a fonte disso? Aonde posso encontrar a fonte una onde tudo isto se une e torna-se um?' E isso vem naturalmente, quando a pessoa com o coração aberto, que viu beleza no externo e fechou os olhos e tornou-se um com seu coração, vê tudo isso refletido em seu próprio coração. Ela pode sentar junto ao lago do seu próprio coração e ver nele toda a beleza refletida. E é a partir desse ponto que começa o misticismo. A partir desse ponto um homem começa a perceber que: 'Tudo o que eu vi diante de mim é a manifestação, mas dentro de mim há algo mais maravilhoso escondido e quando meu coração está aberto ele torna-se uma porta para eu olhar dentro de algo que consiste na fonte e na meta de tudo isso.'
A partir desse momento a pessoa começa a meditar e começa a criar um silêncio. Se uma pessoa não está preparada para isso, diga-lhe para sentar-se quieta e ela se sentirá agitada e, se tentasse tornar sua mente serena, sua mente continuria a ir de uma coisa à outra. Mas quando o coração está aberto e preparado, logo que um homem tenha fechado os olhos ele encontra ainda uma outra porta aberta, uma porta que leva para o céu, para uma alegria sublime que pode ser chamada de 'o grande êxtase'. A pessoa vê o que tem de ser encontrado lá. Existe alguma forma? Existe algum nome? É tão difícil de explicar.
O que os profetas disseram, é que quando as pessoas gostam de fadas, fantasmas e espíritos; há tudo isso lá no paraíso, fadas, fantasmas, anjos e deliciosos pratos. Eles alegorizam o paraíso porque não se pode explicar mais do que isso, mas realmente falando é mais do que o paraíso. O paraíso é realmente só para a imaginação dos que querem agradar a si mesmos pensando nas coisas que mais amam. Isso é mais do que o paraíso, é a essência de toda beleza, a essência de toda compreensão, a essência de toda justiça, de todo amor, de toda paz; a essência de tudo o que uma pessoa procura externamente está lá.

Mas você pode perguntar: Essência? A essência não é muito interessante. Eu não gostaria de ter todas as coisas em sua essência. Mas devo responder: A essência é certamente mais interessante, mesmo no sentido comum da palavra. É o vinho, a essência das uvas o que amamos mais do que as uvas, é a essência do leite, que é a manteiga, que é a necessidade de cada pessoa no mundo. A essência é uma coisa que, mesmo nas coisas materiais, tais como a essência das flores, que é o mel, é o mais desejável. A essência em cada aspecto seu deve ser mais valiosa e mais interessante se apenas soubéssemos o que ela é, se apenas a experimentássemos. A essência da sabedoria não é apenas a sabedoria, mas é o resultado da sabedoria, a soma total dela.
Existem cinco coisas que o homem busca: luz, vida, poder, felicidade e paz. E todas essas cinco coisas são para serem atingidas em uma outra coisa, e essa outra coisa é a essência. É essa essência que é chamada em palavras religiosas de vinho. É essa essência que é a perfeição. É essa essência da qual é dito na Bíblia: "Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito no céu."(Mat.5:48) É na direção dessa perfeição que através da ajuda da crença em Deus devemos trilhar nosso caminho, e no final, é essa perfeição que devemos atingir, que é a meta ideal de toda felicidade.