quarta-feira, 11 de março de 2009

Jetsün Milarepa (mestre tibetano, 1040-1123) - O Canto de transitoriedade e ilusão

Após regressar da Índia, Rechungpa tinha contraído a doença do orgulho e de várias maneiras Milarepa tentou curá-lo. Como seu discípulo havia requerido comida, eles foram pedir esmola, mas foram abordados por uma anciã, que declarou que não tinha comida. Na manhã seguinte, eles encontraram-na morta e Milarepa disse: "Rechungpa, como essa mulher, cada ser senciente está destinado a morrer, mas raramente as pessoas pensam neste fato. Por isso, perdem muitas oportunidades de praticar o Dharma* . Tanto você quanto eu deveríamos lembrar deste incidente e aprender uma lição disso." Então, ele cantou …


Quando a transitoriedade da vida golpeia profundamente o coração de uma pessoa
Seus pensamentos e ações, naturalmente ficarão de acordo com o Dharma.
Se repetida e continuamente pensar sobre a morte,
Ela pode facilmente conquistar os demônios da preguiça.
Ninguém sabe quando a morte vai descer sobre si -
Assim como nessa mulher ontem à noite!

Rechungpa, não seja rude, e ouça seu Guru!
Eis que todas as manifestações no mundo exterior
São efêmeras como um sonho na noite passada!
Sentimo-nos totalmente perdidos na tristeza
Quando pensamos neste sonho passageiro.
Rechungpa, você acordou totalmente
Dessa grande confusão? Ah, quanto mais eu penso nisso,
Mais eu aspiro por Buda e pelo Dharma.

O corpo humano voraz por prazer é um ingrato credor.
Qualquer bem que você fizer a ele,
Ele sempre plantará as sementes da dor.
Uma pessoa viciosa nunca poderá atingir a felicidade.
Pensamentos errantes são a causa de todos os lamentos,
Más disposições são a causa de todas as misérias,
Nunca seja voraz, oh Rechungpa,
Mas ouça o meu canto!
Quando lembro da minha mente apegada,
Ela aparece como um pardal de vida curta na floresta -
Sem abrigo e nenhum lugar para dormir;
Quando penso nisso, meu coração se enche de dor.
Rechungpa, vai deixar-se entregar à má vontade?
Ah, quanto mais eu penso nisso,
Mais eu aspiro por Buda e pelo Dharma!

A vida humana é tão precária
quanto um fino fio de cabelo da cauda de um cavalo
Pendurado à beira da ruptura;
Pode ser arrancada a qualquer momento
Como essa velha mulher foi ontem à noite!
Não se agarre a esta vida, Rechungpa,
Mas ouça meu canto!

Quando observo interiormente minhas respirações
Vejo que são transitórias, como o nevoeiro;
Podem desaparecer no nada a qualquer momento.
Quando penso nisso, meu coração se enche de dor.
Rechungpa, você não deseja conquistar
Essa insegurança agora?
Ah, quanto mais eu penso nisso,
Mais eu aspiro por Buda e pelo Dharma.

Estar perto de seus parentes ímpios só provoca ódio.
O caso desta velha mulher é uma lição muito boa.
Rechungpa, pare o seu pensamento desejoso -
E ouça meu canto!
Quando eu olho para amigos e consortes
Eles parecem como transeuntes no bazar;
Encontrar com eles é apenas temporário,
Mas a separação é para sempre!
Quando penso nisso, o meu coração se enche de dor.
Rechungpa, você não deseja abandonar
Todas as associações mundanas?
Ah, quanto mais eu penso nisso,
Mais eu penso em Buda e no Dharma.

Um homem rico raramente goza
A riqueza que ganhou;
Esta é a zombaria de Karma e Samsara** ,
Dinheiro e jóias adquiridos através de mesquinhez e labuta
São como este saco de comida da velha mulher.
Não seja cobiçoso, Rechungpa,
Mas ouça meu canto!

Quando olho para as fortunas dos ricos,
Parecem-me como mel para as abelhas --
Trabalho árduo, servindo apenas para o gozo dos outros,
É o fruto do seu trabalho.
Quando penso nisso, meu coração se enche de dor.
Rechungpa, você não quer abrir
A tesouraria dentro de sua mente?
Ah, quanto mais eu penso nisso,
Mais eu aspiro ao Buda e seus ensinamentos.
.
.
* Dharma - o ensinamento de Buda
** Samsara - ilusão em movimento