quarta-feira, 4 de março de 2009

Ibn Arabi (mestre Sufi - 1165-1240) - Discurso da Árvore Universal descrita como a semelhança

Eu sou a árvore Universal da síntese e semelhança. Tenho raízes profundas e meus galhos são sublimes. A mão do Um me plantou no jardim da Eternidade protegido das vicissitudes do tempo. Tenho espírito e corpo. Meu fruto é colhido sem nenhuma mão o tocando. Esses frutos contêm mais ciência e conhecimento que o intelecto profundo e o coração sutil podem suportar. Minhas folhas são divãs suspensos, meus frutos “não estão fora de alcance nem são proibidos". Meu centro é o objectivo pretendido. Meus galhos se aproximam e abaixam perpetuamente. Alguns descem para proporcionar benefícios e auxílios, ao passo que outros se aproximam gradualmente para outorgar favores. Minha constituição é semelhante à constituição da esfera celeste, no seu aspecto redondo, e meus ramos são casas para os espíritos alados. Minhas flores são como as estrelas cujo curso engendra os minerais fluindo em seus corpos.

Eu sou a árvore da luz, da fala e do olho de bálsamo de Moisés, sobre o qual está a paz. Das direções, a minha é a mais excelente destra, dos lugares, o meu é o santo vale. Dos tempos, o meu é o instante. Dos locais de habitação, o meu é o equador e os climas temperados. Tenho perpetuidade, durabilidade eterna e felicidade sem miséria. Os frutos dos meus dois jardins estão perto da mão e meus galhos vacilam majestosamente como que intoxicados. Eles derramam graça e ternura sobre todos os seres vivos. Meus ramos sempre oferecem incenso aos espíritos da Tábua guardada, e minha folhagem é uma proteção para eles contra os raios diurnos. A minha sombra se estende àqueles a quem Deus cobre em sua solicitude e minhas asas se espalham pelo povo de santidade. Os ventos do espírito sopram em mim a partir de muitas direções diferentes e desarranjam a ordem dos meus galhos. Deste emaranhado ouve-se um som tão melodioso! Ele arrebata os intelectos supremos nas alturas mais elevadas e os colocam a correr no curso inscrito no rolo de seu pergaminho.

Eu sou a música da sabedoria que remove os cuidados através da beleza da sua música rítmica. Eu sou a luz luminosa. Meu é o tapete verde e a face redonda mais resplandecente. Assistido pelos poderes e enobrecido por Aquele que está sentado no trono, eu tornei-me como a matéria primordial, recebendo todas as formas do próximo mundo e do mundo presente. Eu não sou demasiado estreito para suportar qualquer coisa! Não estou nunca separado da luz fiel que brilha sobre mim, ela consola aqueles que pendem sobre mim. Eu sou a "vasta sombra", os agrupamentos de frutos, o significado pretendido, a palavra da existência, o mais nobre dos seres originados. Meu poder é inigualável, o meu lugar o mais sagrado, minha lâmpada a mais elevada. Eu sou a fonte da qual emanam as luzes, a síntese das palavras divinas, a mina dos segredos e das sabedorias.

A vasta terra e os céus são meus.

No meu centro estão a equivalência e retitude.

Meus, são a majestade firmemente arraigada, o esplendor,

O segredo dos mundos e a exaltação.

Quando pensamentos recorrem na minha essência

A distância e a nuvem que cega os aturde.

Ninguém no universo conhece minha existência

Salvo O não delimitado pelo elogio.

Ele dispõe sobre nós e nos governa.

A escolha é Dele - Ele faz o que quer.

Siddharameshwar Maharaj (1888-1936) - A Verdade é Imutável e Eterna

A verdade não pode ser evitada. Não pode ser distorcida nem mudada de maneira nenhuma. Tal é o Parabrahman (O Ser Supremo). Oposto a Ele, Maya (a ilusão) e é isso que pode ser manipulado e mudado. Ambas entidades (Brahman e Maya) estão presentes. É por isso que você deve procurá-los por você mesmo. Trate de compreender que todos os objetos externos podem ser movidos ou apartados. A própria Terra gira sobre si mesma e ao mesmo tempo dá voltas. O ar, o fogo e a água são móveis também. Porém, o céu não pode ser movido mesmo se desejarmos fazê-lo. Mas se fecharmos os olhos, até mesmo o céu desaparece. O céu é a mãe de todos os objetos. Todos esses objetos (ou seja, o mundo manifestado) não são verdadeiros. Não há nenhum objeto nesse mundo que não desapareça se ignorarmos sua “existência”. Agora olhe para dentro. O corpo grosseiro desaparece. A mente é apenas os pensamentos e a fala. Se estamos serenos (se a mente está em repouso) então desaparecem todos os sonhos, as dúvidas, o intelecto, os pensamentos, etc. O que sobra, então? Nada. Este nada também pode ser abandonado, Mas, não obstante, permanece aquele que abandona. “Eu” sou o que transcende tudo. Assim, portanto, sobra “eu” como um presenciador. Finalmente, abandone também este “Eu”. Agora sobra apenas a verdade, que está além do conhecimento ou da ignorância. Aquele que esqueceu de tudo, todavia permanece. “Aquele que entra, sairá – não importa ser um rei ou um mendigo”. Aquele que renuncia a tudo já não está na escravidão da mudança. Este há de ser compreendido como Brahman (o Ser, o Si Mesmo).
Tudo está em Brahman e Brahman está em tudo.
Se há pão na boca, então esse pão ocupará um certo espaço na boca. Todavia, se duzentos camelos forem vistos em um espelho, o peso do espelho não mudará porque os camelos vistos no espelho são somente um reflexo. Similarmente, embora o mundo fenomênico esteja em Brahman, isso não afeta e nem distorce Brahman de maneira nenhuma. Consequentemente, uma vez que você reside no seu próprio Ser (self), todos os objetos externos desaparecem. Tudo isto é Maya, somente um engano. O Ser remanesce intocado por Maya. O nascimento de uma pessoa adquire significado verdadeiro somente quando se realiza o Ser. Do Ser surgiram o intelecto, o conhecimento, a ignorância, etc. Por conseguinte, “Você” é o precursor de tudo. O senhor Brahma, Vishnu y Mahesh devem sua existência a “Você”. Durante o sono profundo, todos esses desaparecem; mas “Você” é permanente.