terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Bhagavan Sri Ramana Maharshi - 7 de janeiro de 1935

Devoto: É necessário um mestre para a realização?
Maharshi: A realização é o resultado da graça do mestre, mais do que os ensinamentos, que os discursos, que a meditação, etc. Essas são apenas ajudas secundárias, enquanto que a graça do mestre é a causa principal e essencial.
D.: Quais são os obstáculos que impedem a realização do ‘Ser’ (Self)?
M.: São os hábitos da mente (Vasanas).
D.: Como vencer os hábitos mentais (Vasanas)?
M.: Realizando o ‘Ser’.
D.: Isso é um círculo vicioso.
M.: É o ego que levanta tais dificuldades, criando obstáculos e depois sofre a perplexidade dos aparentes paradoxos. Encontre quem faz as perguntas e o ‘Ser’ será encontrado.
D.: Quais são os auxílios para a realização?
M.: Os ensinamentos das Escrituras e das almas realizadas.
D.: Podem esses ensinamentos ser debates, discussões e meditações?
M.: Sim, todos esses são apenas auxílios secundários, o essencial é a graça do Mestre.
D.: Quanto tempo leva para se obter isso?
M.: Por que você deseja saber?
D.: Para me dar esperança.
M.: Mesmo tal desejo é um obstáculo. O ‘Ser’ está sempre aqui, não há nada sem ele. Seja o ‘Ser’, e os anseios e as dúvidas desaparecerão. Esse ‘Ser’ é o presenciador nos estados de sono profundo, do sono com sonhos e do estado de vigília. Esses estados pertencem ao ego. O ‘Ser' transcende até mesmo o ego. Você não existia no sono profundo? Naquele estado você sabia que estava dormindo ou que não estava ciente do mundo? É apenas no estado desperto que você descreve a experiência do sono profundo como inconsciência, portanto, a consciência quando você está dormindo é a mesma que quando você está acordado. Se você conhece o que é essa consciência desperta, conhecerá a consciência que presencia os três estados. Essa consciência pode ser encontrada buscando a consciência como ela era no sono profundo.
D.: Nesse caso, eu adormeço.
M.: Não há mal nisso!
D.: É um vazio.
M.: Para quem é o vazio? Descubra. Você não pode negar a si mesmo nunca. O ‘Ser’ está sempre ali e continua em todos os estados.
D.: Devo permanecer como se estivesse no sono profundo e ser vigilante ao mesmo tempo?
M.: Sim. A vigilância é o estado desperto. Portanto, o estado não será de sono, mas de sono sem sono. Se você seguir os passos de seus pensamentos, será extraviado por eles e se encontrará num labirinto sem fim.
D.: Então, devo retornar traçando a origem dos pensamentos.
M.: Exatamente, dessa maneira os pensamentos vão desaparecer e só o ‘Ser’ permanecerá. Na verdade, para o ‘Ser’ não existe nem dentro e nem fora. São projeções do ego também. O ‘Ser’ é puro e absoluto.
D.: Isso se entende apenas intelectualmente. O intelecto não é uma ajuda para a realização?
M.: Sim, até uma determinada fase. Porém, ainda assim, compreenda que o ‘Ser’ transcende o intelecto; o intelecto deve desaparecer para se obter o ‘Ser’.
D.: A minha realização ajuda aos outros?
M.: Sim, certamente. É a melhor ajuda possível. Mas não existe ninguém para ajudar. Pois um ser realizado vê o ‘Ser’ da mesma forma que um ourives aprecia o ouro em diferentes jóias. Apenas enquanto você se identifica com o corpo, as formas e as figuras estão aqui. Porém, quando você transcende seu corpo, os outros desaparecem juntamente com sua consciência do corpo.
D.: Isso também acontece com as plantas, árvores, etc.?
M.: Podem eles existir separados do ‘Ser’? Descubra. Você acha que os vê. O pensamento é projetado a partir do seu ‘Ser’. Descubra de onde eles surgem. Os pensamentos deixarão de surgir e apenas o ‘Ser’ sobrará.
D.: Eu entendo teoricamente. Mas os objetos ainda estão aqui.
M.: Sim. É como um filme no cinema. Há a luz na tela e as sombras que passam rapidamente impressionam a audiência, na forma de uma atuação de alguma peça. Similarmente, será também assim se na mesma representação o público também for mostrado. Aquele que vê e aquilo que é visto estarão então apenas na tela. Aplique isso a você mesmo. Você é a tela, o ‘Ser’ criou o ego, o ego acrescenta os pensamentos que se mostram como o mundo, as árvores, as plantas, etc., sobre os quais você está perguntando. Na realidade, tudo isso não é nada além do ‘Ser’. Se você ver o ‘Ser’, perceberá que ele é tudo em toda a parte e sempre. Nada além do ‘Ser’ existe.
D.: Sim, mas compreendo apenas teoricamente. No entanto, as respostas são simples, bonitas e convincentes.
M.: Mesmo o pensamento, “eu não entendo" é um obstáculo. Na verdade, apenas o ‘Ser’, É.

Kabir (poeta místico e santo indiano - séc.XV) - A luz do sol, da lua e das estrelas brilha claro

A luz do sol, da lua e das estrelas brilha claro:
A melodia de amor se expande, o ritmo do desapego do amor vence o tempo.
Dia e noite, o coro da música enche os céus, e Kabir diz
"Meu amado brilha como o relâmpago no céu."

Você sabe como os momentos realizam sua adoração?
Ondulando sua fileira de lâmpadas, o universo canta em adoração dia e noite,
Existe a bandeira escondida e a abóboda secreta:
Lá é ouvido o som dos sinos invisíveis.
Kabir diz: "Lá a adoração nunca cessa, lá o Senhor do Universo

está sentado em Seu trono."
O mundo todo realiza seus trabalhos e comete seus erros, mas poucos são os amantes que conhecem o Amado.
O buscador devotado é aquele que mescla em seu coração as correntes duplas do amor e do desapego, como a mistura dos fluxos do Ganges e do Jumna;
Em seu coração a água sagrada flui dia e noite, e assim o ciclo de nascimentos e mortes é levado a um fim.


Vê que descanso maravilhoso está no Espírito Supremo! E aprecia esse descanso aquele que se adequar a ele.
Sustentado pelas cordas do amor, o balanço do Oceano da Alegria oscila para lá e para cá e um poderoso som irrompe
em canção.
que um lótus lá floresce sem água! e Kabir diz
"A abelha do meu coração bebe seu néctar."
Que lótus maravilhoso é esse, que floresce no coração da roda de fiar do universo! Apenas poucas almas puras sabem do seu verdadeiro deleite.
Música está toda ao seu redor, e lá o coração participa da alegria do mar infinito.
Kabir diz: "Mergulha dentro desse oceano de doçura: assim deixa todos os erros da vida e da morte fugirem para longe."



Vê como a sede dos cinco sentidos é saciada lá! E as

três formas da miséria não existem mais!
Kabir diz: "Esse é o esporte Daquele inatingível: olha para dentro e contempla como os raios do luar Daquele que está oculto brilham em ti."
Ali se insere a batida rítmica da vida e da morte:
O arrebatamento nasce adiante, e todo espaço está radiante com a luz.
Lá a Música inatingível é soada, é a música do amor dos três mundos.
Lá milhões de luzes de sol e de lua estão queimando;
Lá bate o tambor, e o amante balança brincando.
Lá ressoam as canções de amor e a luz chove em cântaros e o

Adorador está encantado no sabor do néctar celestial.
Olha para a vida e para a morte: não há separação entre elas,
A mão direita e a esquerda são uma e a mesma mão.
Kabir diz: "Lá o homem sábio é mudo; pois esta verdade

nunca poderá ser encontrada nos Vedas ou em livros."


Tenho tido meu lugar naquele que é Auto-equilibrado,
Tenho bebido da taça do Indizível,
Eu encontrei a chave do mistério,
Alcancei a raiz da União.
Viajando por trilha nenhuma, vim para a Terra onde não existe pesares: muito facilmente a misericórdia do grande Senhor caiu sobre mim.
Eles têm cantado sobre Ele como infinito e inatingível, mas em minhas

meditações eu O vi sem a visão.
Essa é, de fato, a terra sem pesares, e ninguém sabe o caminho que conduz até lá:
Apenas aquele que está nesse caminho certamente transcendeu todos os pesares.
Maravilhosa é aquela terra de descanso, a qual mérito nenhum pode ganhar;
É o sábio que a viu, é o sábio que a tem cantado.
Esta é a palavra final: mas é possível alguém expressar seu sabor maravilhoso?
Aquele que a saboreou uma vez, aquele que sabe que alegria ela pode dar.
Kabir diz: "Sabendo disso, o homem ignorante torna-se sábio e o homem sábio torna-se mudo ficando em silêncio,
O adorador fica totalmente inebriado,
Sua sabedoria e seu desapego são tornados perfeitos;
Ele bebe da taça das inspirações e expirações do amor.”

Lá todo o céu está preenchido com som e lá a música é feita

sem dedos e sem cordas;
Lá o jogo de prazer e dor não cessa.
Kabir diz: "Se você submergir sua vida no oceano da vida, você encontrará sua vida estando na Terra Suprema do contentamento".

Que frenesi de êxtase existe em todas as horas! E o adorador está

Espremendo e bebendo a essência das horas: ele vive na vida de Brahma.
Falo a verdade, pois aceitei a verdade na vida, estou agora apegado

à verdade, varri para longe tudo de falso valor.
Kabir diz: "Assim o adorador é libertado do medo, assim, todos os erros da vida e da morte o abandonaram."

Lá o céu está preenchido de música:
Lá chove néctar:
Lá as cordas da harpa soam, e lá os tambores rufam.
Que esplendor secreto está ali, na mansão do céus!
Lá nenhuma menção é feita sobre o nascer e o pôr do sol;
No oceano da manifestação, que é a luz do amor, o dia e a noite

São sentidos como sendo um.
Alegria para sempre, sem tristeza - sem luta!
Lá eu vi alegria cheia até a borda, a perfeição da alegria;
Nenhum espaço para erro existe lá.
Kabir diz: "Lá eu testemunhei o esporte do deleite uno!"

Conheci em meu corpo o esporte do universo: Escapei do erro deste mundo.
O interno e o externo são tornados como um céu, o Infinito e

o finito são unidos: estou embriagado com a visão de tudo isto!
Esta Luz de Ti preenche o Universo: a lâmpada do amor que arde sobre a bandeja do conhecimento.
Kabir diz: "Lá o erro não pode entrar e o conflito da vida e da morte não é mais sentido."