segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Shankara (Santo Indiano - séc. IX) - Aparokshanubhuti (Realização do Ser)

*Assim como não é possível que um objeto seja visto sem o auxílio da luz (embora tenhamos outros auxílios), para chegar ao conhecimento não nos serve nenhum método além do discernimento.

*Quem sou eu? Como foi criado este mundo? Quem foi o Criador? De que matéria é feito o mundo? - Esse é o caminho para analisar.

*Eu não sou o corpo, nem a combinação dos cinco elementos materiais, nem o conjunto dos sentidos. Sou algo diferente disso. - Essa é a maneira de fazer a introspecção.

*Tudo isto é um produto de avidya (a não-verdade), e desaparece completamente com o despertar do conhecimento. Os diversos pensamentos (modificações do Antahkarana, a mente) devem ser o criador. - Essa é a maneira de fazer a introspecção.

*A causa material da ignorância e do pensamento é a existência única, sutil e imutável, da mesma maneira que a argila é a única causa material de várias vasilhas feitas de argila. - Esse é o caminho para a introspecção.

*Como eu também sou aquele único, sutil, conhecedor, testemunha, sempre existente e Imutável, não posso duvidar de que eu sou 'Aquele' (Brahman). - Essa é a forma de fazer a introspecção.
*Atman é na verdade aquele sem componentes, enquanto que o corpo é constituído por várias partes; a maioria das pessoas confundem os dois considerando-os idênticos. A que pode-se chamar de ignorância senão isso?

*Atman é o interior e o governador do corpo, e o corpo é o governado e o exterior. Considerar ambos idênticos é o cúmulo da ignorância.

*Atman é todo consciência e todo santidade, e o corpo é todo carne e impureza. Considerar os dois como sendo idênticos é o cúmulo da ignorância.

*Atman é o iluminador supremo e a própria pureza, e o corpo é dito ser opaco e ter natureza densa e escura. Considerar os dois idênticos é o cúmulo da ignorância.

*Atman é eterno porque é a própria existência, o corpo é transitório, porque é essencialmente inexistente. Considerar ambos idênticos é o cúmulo da ignorância.

*Atman é auto-luminoso (pois não necessita nem de sol nem luz alguma para sua iluminação), sua luminosidade é o conhecimento e se manifesta igualmente através de todos os objetos; e não é o oposto da escuridão. Entretanto, até mesmo o próprio sol, como todos os corpos incandescentes, depende de certas combinações para se iluminar, e enquanto combate a escuridão, não consegue removê-la completamente.

*Que estranho que uma pessoa, sabendo perfeitamente que o seu corpo lhe pertence, como qualquer mobília, ainda prossiga com a idéia de que ela seja o corpo!

*Eu sou, na verdade, Brahman, sendo justo e imperturbável, minha natureza é Existência-Conhecimento-Graça (Sat-Chit-Ananda). Eu não sou o corpo (em nenhuma forma, seja grosseiro, sutil ou causal), que é a própria inexistência. A isso os sábios chamam de Verdadeiro Conhecimento.

*Eu sou invariável, sem forma, imaculado e eterno. Não sou o corpo que é a própria inexistência. A isso os sábios chamam de Verdadeiro Conhecimento.

*Eu sou imune a toda doença, estou além de toda compreensão, livre de todas alternativas e sou aquele que dá sentido a tudo, que penetra tudo. Não sou o corpo que é a própria inexistência. A isso os sábios chamam de Verdadeiro Conhecimento.

*Sem atributos ou atividades, eu sou eterno, sempre livre e imperecível. Eu não sou o corpo que é a própria inexistência. A isso os sábios chamam de Verdadeiro Conhecimento.

*Estou livre de qualquer impureza, sou ilimitado, sagrado, sem velhice e imortal. Não sou o corpo que é a própria inexistência. A isso os sábios chamam de Verdadeiro Conhecimento.

*Oh você, ignorante! Por que afirma que o sempre existente e feliz Atman, que reside em seu próprio corpo, é absolutamente inexistente? E que seu corpo por sua vez, é diferente daquele que os Vedas estabelecem e chamam de idêntico à Brahman?

*Oh você, ignorante! Trata de compreender, com a ajuda das Escrituras Sagradas e do discernimento, que o seu próprio Ser, o Purusha, que é diferente do corpo, não é a inexistência (mesmo que seja vazio), e sim a própria existência, mas é muito difícil de ser percebido por pessoas como você.