segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Hazrat Inayat Khan - A Eterna Música

Música, a palavra que usamos em nossa língua diária, não é nada menos que o retrato do Amado. É porque a música é o retrato do nosso Amado que amamos música. Mas a pergunta é: O que é nosso Amado, ou onde está nosso Amado? Nosso Amado é aquele que é nossa fonte e nosso objetivo. O que nós vemos do nosso Amado diante dos nossos olhos físicos é a beleza que está diante de nós. Essa parte do nosso Amado que não está manifesta aos nossos olhos é aquela forma interior de beleza da qual nosso Amado nos fala. Se somente escutássemos a voz de toda a beleza que nos atrai em todo o tipo de formas, nós descobriríamos que em cada aspecto Ele nos diz que atrás de toda a manifestação está o Espírito perfeito, o Espírito da sabedoria.
O que vemos como a principal expressão da vida na beleza visível diante de nós? É o movimento. Na linha, na cor, nas mudanças das estações, na formação e na quebra das ondas, no vento, na tempestade, em toda a beleza da natureza há um movimento constante. É esse movimento que causou o dia e a noite, e mudança nas estações. Esse movimento deu-nos a compreensão do que chamamos de tempo. Senão, não haveria nenhum tempo, pois Ele é a eternidade.
Isso nos ensina que tudo que amamos e admiramos, observamos e compreendemos, é a vida escondida por trás, e esta vida é o nosso Ser.
É devido a nossa limitação que não podemos ver todo o ser de Deus, mas tudo o que amamos na cor, na linha e na forma, ou na personalidade - tudo que é amado por nós - pertence à beleza real que é o Amado de tudo.
Quando tentamos descobrir o que nos atrai nesta beleza que vemos em todas as formas, descobrimos que é o movimento da beleza: a música. Todas as formas da natureza, as flores tão perfeitamente formadas e coloridas, os planetas e as estrelas, a terra - todos dão a idéia de harmonia, de música.
O todo da natureza está respirando, não somente as criaturas vivas, mas toda a natureza. É somente nossa tendência de comparar aquilo que parece estar mais vivo com aquilo que nos parece não tão vivo, que nos faz esquecer que todas as coisas e todos os seres estão vivendo uma vida perfeita. E o sinal de vida que essa beleza viva dá é a música. O que faz a alma do poeta dançar? Música. O que faz o pintor pintar lindos quadros, o músico cantar lindas canções? É a inspiração que a beleza dá. Os Sufis chamaram esta beleza de Saqi, o doador divino, que dá o vinho da vida a tudo. O que é o vinho do Sufi? Toda a beleza: na forma, na linha e na cor, na imaginação, no sentimento, nas maneiras – em tudo isso ele vê a beleza única. Todas essas formas diferentes são parte do espírito da beleza que é a vida por trás, abençoando sempre.
Igualmente ao que chamamos de música na linguagem diária, para mim arquitetura é música, jardinagem é música, o cultivo da terra é música, a pintura é música, poesia é música. Em todas as ocupações da vida onde a beleza é a inspiração, onde o vinho divino foi derramado, existe música. Mas entre todas as artes diferentes, a arte da música foi considerada especialmente divina, porque é a miniatura exata da lei que trabalha através do universo inteiro.
Por exemplo, se estudarmos a nós mesmos perceberemos que as batidas do pulso e do coração, a inalação e a exalação da respiração, são todos trabalho do ritmo. A vida depende do funcionamento rítmico do mecanismo inteiro do corpo. A respiração manifestada como a voz, como a palavra, como o som. O som é continuamente audível, o som fora e o som dentro de nós: isso é música. Isso mostra que há uma música fora e dentro de nós. A música inspira não somente a alma do grande músico, mas cada criança, no instante que vem ao mundo, começa a mover seus pequenos braços e pernas com o ritmo da música. Conseqüentemente, não é nenhum exagero dizer que a música é a linguagem da beleza, a linguagem Daquele a quem cada alma viva tem amado. E podemos compreender que, se realizarmos e reconhecermos a perfeição de toda esta beleza como sendo Deus, nosso Amado, então é natural que essa música que vemos na arte e no universo inteiro, deva ser chamada a Arte Divina.