sexta-feira, 31 de julho de 2009

Jalaluddin Rumi - Palavras o bastante?


  • Como pode uma parte do mundo abandonar o mundo?
    Como pode a umidade abandonar a água?
  • Não tente apagar o fogo
    colocando mais fogo nele!
    Não lave uma ferida com sangue!
  • Não importa o quão rápido você correr,
    sua sombra, mais do que acompanhá-lo.
    Algumas vezes, vai estar na frente!
  • Apenas o sol totalmente a pino
    diminui a sua sombra.
  • Mas aquela sombra tem servido você!
    O que lhe machuca, lhe abençoa.
    A escuridão é a sua vela.
    Seus limites são sua busca.
  • Eu poderia explicar, mas isso quebraria
    a casca de vidro do seu coração
    e para isso não há conserto.
  • Você deve ter a fonte de ambas, luz e escuridão.
    Escute e recoste sua cabeça sob a árvore do temor.
    Quando dessa árvore, penas e asas brotarem
    em você, fique mais quieto que um pombo.
    Não abra sua boca nem mesmo para um coooooooo.
  • Quando um sapo desliza para a água, a cobra
    não pode pegá-lo. Então o sapo sobe novamente
    e coaxa e a cobra vai atrás dele de novo.
  • Mesmo se o sapo aprendesse a sibilar, ainda assim a cobra
    escutaria através do sibilo a informação
    que precisava: a voz do sapo por trás.
  • Mas o sapo poderia ficar completamente em silêncio,
    assim a cobra voltaria a dormir
    e o sapo poderia alcançar a cevada.
  • A alma vive ali na respiração silenciosa.
  • E o grão da cevada é tal que,
    quando você o coloca no chão,
    ele germina.
  • Estas palavras são o bastante
    ou devo espremer mais suco delas?
    Quem sou eu, meu amigo?

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Siddharameshwar Maharaj - Trate de fazer um bom uso deste nascimento humano

Chegamos a descobrir quem somos apenas ao pensar sobre isso. Qual é nosso dever quando ganhamos o nascimento como seres humanos? Este nascimento humano não é só para fazer os deveres de casa e as tarefas mundanas, como o touro que trabalha fazendo girar a prensa de azeite (sempre envolvidos mecanicamente em atividades repetitivas). Cumpra suas funções de tal maneira que você se torne imortal. Não viva só para fazer os deveres mundanos, apenas para morrer. "Os ossos serão queimados como um feixe de madeira seca." Não viva assim. Viva para atingir o estado de imortalidade. Um dia você certamente morrerá. O que restará então? Será como Shimga*, uma vida perdida ou nascimentos sem fim?

Se um homem trabalha verdadeiramente, pode tornar-se Narayana, Deus. Um Jiva está condenado a nascimentos em oitenta e quatro espécies diferentes. Ninguém virá para salvá-lo se você optar por permanecer um Jiva (ego). "Quando o anzol com a isca é engolido, tem sabor doce, mas quando a morte chega, a garganta é rasgada". Você verá como é tudo fútil à medida que os dias passarem.
Portanto, trate de fazer um bom uso deste nascimento humano. Não o desperdice. A pele de um animal pode ser utilizada para fazer sapatos, mas a pele humana não tem nenhuma utilidade após a morte. No entanto, se um homem fizer esforços para compreender a realidade, ele se tornará Deus. Este corpo não tem absolutamente nenhuma utilidade após a morte. "Eu vivi só para morrer." Não leve uma vida assim; viva para ser imortal. Seu nascimento será em vão se você não usá-lo para compreender a Realidade. "Deve-se ter um filho cuja bandeira flamule no topo dos três mundos". Você deve pensar sobre o por quê você nasceu. "Ele saiu do útero e entrou no túmulo - desperdiçando desnecessariamente seu nascimento." Que não seja essa a nossa situação!

Os homens comem, excretam e finalmente morrem. Então têm de passar por nascimentos em oitenta e quatro espécies, tornando-se assim muito miseráveis. O propósito do nascimento humano é obter a felicidade última realizando Narayana, Deus. Em vez disso, as pessoas se envolvem em muitas coisas, desperdiçando assim este precioso corpo humano. É preciso compreender que somos Brahman para a obtenção de uma paz final. Isso é chamado Purushartha - o objetivo final do homem.
Somente a bandeira de tais pessoas flamula no topo dos três mundos. Se somos Deus, temos de agir em conformidade. Somos todos onipenetrantes, sem qualidade, sem forma. Como pode então Brahman estar enredado em uma vida mundana? Se o devoto busca Deus, ele O encontra. Na verdade, o próprio devoto é Deus. Quando está buscando Deus, ele descobre que ele mesmo é Deus. Você deve adorar Shiva para tornar-se Shiva e em seguida, você também deve permanecer estável no estado de Shiva. Adquirira o estado de Shiva. O santo Ramdas disse, "Deus está muito perto, no coração, mas o encontro não acontesse por toda uma vida. "

Você deve entender Deus primeiro, isso implica que você deveria tornar sua visão totalmente penetrante. Assim como o céu permeia tudo, assim também Deus permeia tudo. Tenha em mente que Deus está em tudo. A luz do sol e a luz da lua são a luz do Ser. O Deus que permeia o mundo também reside dentro de nós. Assim como o céu (o espaço) invade um frasco, o Ser invadiu-nos. Quando o frasco (o corpo) se quebra, aquela porção de céu se funde com todo o céu, assim também a luz do Ser se funde em Brahman.

*Um festival indiano onde as pessoas vestem-se como diferentes animais e se divertem. Da mesma forma, segundo a mitologia hindu, quando a pessoa morre, tem de sofrer nascimentos como 8.4 milhões de espécies diferentes

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nisargadatta Maharaj - 5 de julho de 1980

Maharaj: O conhecimento “eu sou” é o mesmo em todas as criaturas sencientes, seja num inseto, num verme ou num ser humano, ou mesmo num Avatar - o tipo mais elevado de ser. Eu não considero essa consciência básica em uma forma, como sendo diferente, de maneira alguma, da consciência em outra forma. Mas a fim de manisfestar a si mesma, a consciência precisa de uma base, uma construção particular na qual ela possa aparecer. Essa base pode ser qualquer coisa, pode ser qualquer forma, mas a manifestação pode durar apenas enquanto aquela forma particular durar. E até que aquela consciência apareça, não poderá haver conhecimento de nenhum tipo, Em suma, o conhecimento (a faculdade de conhecer) depende da consciência e a consciência precisa de uma matriz ou uma forma física.


Existem muitos Hatha Yogis que têm muitos poderes. De todos eles eu sou o maior. Mas eu distinguo entre Hatha-yoga e Hatha. Hatha significa “insistência” ou “persistência”. Você vê, eu persisto. E essa persistência é sobre o que? Eu não sabia que eu ia nascer. Como é que eu recebi esse nascimento? Esse é o ponto em que persisto numa resposta. Eu tenho que saber isso. Quando me falaram sobre “Sattva”, então quis saber o que é Satvva? Satvva é a essência dos cinco elementos. Naquela essência, naquele suco, reside o conhecimento “eu sou”. Mas tudo isso ainda é dos cinco elementos. Então como isso veio a surgir? Meu Guru me contou a história toda. E então eu vim a saber que isso é ignorância, e eu sei por experiência que todos estão começando a partir dali. Portanto o que quer que tenha surgido é completa ignorância. E nós não somos nada mais do que isso, isso foi o que meu Guru me falou.
Meu Guru posteriormente apontou para mim que a única coisa que você tem e que você pode utilizar para desvelar o mistério da vida, é o conhecimento “eu sou”. Sem isso, não há absolutamente nada. Portanto eu me apeguei a isso, assim como meu Guru me advertiu, e então eu quis descobrir como o aspecto espiritual de “mim” apareceu sem que eu tivesse conhecimento disso. Isso é novamente o resultado dos cinco elementos. Portanto, eu repito, eu sei por experiência pessoal que se alguém pensa que tem ou que é uma coisa especial, significa completa ignorância.

Mesmo se este corpo durasse mil anos, qualquer experiência com ele que acontecesse durante aquele período estaria necessariamente baseada nesse “sentido de que eu existo” (I-am-ness), o qual está baseado no tempo, o qual é produto dos cinco elementos, dos quais não tenho necessidade nenhuma. Em minha pura “absolutidão”(absolutness), sem lugar, configuração ou forma, esse conhecimento “eu sou” surgiu, o qual não tem configuração ou forma. Dessa maneira, esse conhecimento aparece e é apenas uma ilusão.
Pessoas inteligentes, extremamente inteligentes, vêm aqui e me colocam questões. E eu respondo. E o que acontece? Elas não aceitam minhas respostas. Por que? Porque elas me perguntam do ponto de vista da identificação “corpo-mente”. E eu respondo para elas do ponto de vista sem tais identificações. Então como essas pessoas me entendem? Como podem as respostas se adequarem às perguntas? Quem está fazendo as perguntas? São as pessoas que se vêem existindo no tempo, com o nascimento do corpo físico como seu ponto base, portanto, fazem perguntas daquele ponto de vista. Mas esse ponto de vista é falso, é produto da imaginação deles – puramente um feixe de memórias, hábitos e imaginação. Eles consideram isso como sendo a verdade, embora seja ignorância absoluta, sem base na realidade. O dia ao qual você atribui tanta importância, encontrou você quando o corpo nasceu e daquele dia em diante você tem se considerado como sendo esse corpo.
O que havia antes do corpo vir a existir, apenas aquilo deve permanecer após o desaparecimento do corpo e dos elementos. E antes que o corpo desapareça, naquele dia final, mesmo a memória da existência do período que passou desaparecerá. Portanto, o que quer que apareça entre o aparecimento e o desaparecimento do corpo é apenas um punhado de memórias, o que quer que você tenha acumulado é meramente entretenimento. Tudo isso está na memória e vai desaparecer. Agora, se você tivesse realmente aceitado isso com apropriada compreensão, você não se importaria se este corpo permanecesse ou não.
Quando o princípio mais elevado, esse “sentindo de existir”(beingness) desaparecer no corpo, como é que você poderá falar? Quando esse princípio primal se for, sobrará algum valor? Primeiro “o sentido de eu existo” (beingness) desaparecerá. Então o corpo desaparecerá. Mas “o sentido de eu existo” (beingness) nunca saberá que o corpo está desaparecendo, pois a própria consciência (beingness) terá desaparecido.

O Maharishi Mahesh Yogi tem mais de oito mil discípulos. Mas ele fala desse conhecimento? Eles dependem desse “sentido de existir” (beingness) para almejar a verdade, eles consideram isso como sendo a realidade. E toda consideração está sendo direcionada para esse “beingness”; todas as atividades espirituais estão baseadas no sentimento de que esse “sentido de existência” (beingness) é a verdade. Mas ele também não é produto da essência da comida?
Você não compreende a “capacidade de cognição” (knowingness) naturalmente, sem esforço? Uma vez que você compreender espontaneamente, você perceberá que isso também é uma fase temporária: esse “sentido de que eu existo” (beingness) irá desaparecer. E ao entender isso, você chegará à conclusão de que é irreal. E aquele que entende a irrealidade disso é o eterno.
Agora, continuando a explorar essa veia: você pode se apegar a alguma identidade que seja exclusivamente sua, que não desaparecerá? Sem a ajuda da essência-comida, como pode alguém falar? E pode alguém se encarnar sem a ajuda de um corpo?
Então o próximo ponto é, o que exatamente nasce? O que nasce são os três estados: o estado desperto, o estado de sono e o conhecimento “eu sou”, esta consciência. O corpo e a respiração vital não estariam aptos a funcionar se essa consciência não estivesse presente. Portanto, são esses três estados que nasceram. E esses três estados operam através dos três atributos (gunas). Assim, esse três estados e os três consequentes atributos, esse pacote, nasceu, e o que quer que aconteça, acontece a esse pacote apenas. Eu não estou interessado em nada disso.
Vejo claramente isso que nasceu. E sei também que eu não sou isso que nasceu. E é por isso que sou totalmente desprovido de medo. Estou totalmente sem nenhuma reação em relação a uma doença (câncer) que de outra maneira seria traumática.
Esta consciência que é o que realmente nasce, erroneamente identifica-se com este corpo e pensa que ela é o corpo e trabalha através dos três Gunas, essa é a associação. E é isso o que nasce. Mas eu não tenho nada a ver com isso.
No Gita, o senhor Krishna fala para Arjuna que ele não está matando ninguém e ninguém está sendo morto. A coisa toda é uma ilusão.
A doçura é a qualidade ou a natureza do açúcar, mas essa doçura está lá apenas enquanto o açúcar estiver presente. Uma vez que o açúcar for consumido ou jogado fora, não haverá mais doçura. Assim, esse conhecimento 'eu sou', essa consciência, esse sentimento ou sentido de Ser, é a quintessencia do corpo. E se esse corpo essência se vai, esse sentimento, o sentido de Ser, também irá. Esse sentido de Ser não pode permanecer sem o corpo, assim como a doçura não pode permanecer sem o material, que é o açúcar.
Visitante: O que permanece então?
Maharaj: O que permanece é o Original, que é incondicionado, sem atributos, e sem identidade: aquilo sobre o qual este estado temporário de consciência e os três estados e os três gunas têm ido e vindo. Ele é chamado de Parabrahman, o Absoluto.
Esse é meu ensinamento básico. Vocês têm alguma pergunta sobre isso?
Se alguém perguntar “como é Parabrahman?” a resposta é que Ele é como Mumbai. Não me dê a geografia de Mumbai, não me fale da atmosfera de Mumbai, mas me fale: o que é Mumbai? É possível isso? Você não pode falar. Portanto, não há nada que você possa dizer, isto é Mumbai, ou isto é Parabrahman. Se eu lhe pedir: Dê-me um punhado de Mumbai! Você não poderá fazê-lo. Similarmente não há dar ou receber em Parabrahman: você apenas pode Ser isso. De fato, o próprio conceito ou pensamento 'eu sou' não está lá. A pergunta foi: “É como o sono? Não. O sono como eu disse, é um atributo daquilo que nasceu. Então, descubra o que é isto que nasceu. Antes do nascimento, mesmo o pensamento que eu existo não está lá. Vá para casa, pondere sobre isso. Pois isso é algo que precisa revelar a si mesmo. Vocês não podem usar os seus cérebros ou pensamentos nisso. O absoluto não é fácil de conseguir. Toda a manifestação surge apenas dessa partícula de consciência. Você vai se lembrar do que eu falei?
Visitante: Vou me esforçar.

Maharaj: Lembrar-se de algo, seja o que for, é em si um aspecto dessa consciência que é você. Se você não tem essa consciência, a questão de lembrar ou mesmo pensar não surge. Portanto, o lugar para se começar é essa consciência. E essa consciência não pode estar aí sem o corpo. Esse é o mistério que é para ser revelado.
Esta consciência está enquanto os cinco elementos estão presentes. Agora quando acontece o que é chamado de a grande dissolução do universo, de todos os elementos, a consciência também é terminada. Mas o conhecedor dessa consciência, o estado Absoluto, não é afetado. Portanto, eu estou sempre nesse estado e é por isso que não há medo de nada. Mesmo quando tudo estava queimando totalmente e quando houve a destruição total, eu estava meramente assistindo. Estando apenas num estado de testemunha, não fui tocado por nada. Portando, sendo isso, o que poderia me afetar?
Em segundo lugar, o que quer que apareça, realmente não tem substância. Tem apenas uma existência temporária. E enquanto a aparência estiver lá, a dor também estará presente. E então quando as coisas desaparecerem, a dor novamente estará ausente. Assim, apenas quando a forma está presente e a consciência está lá, você sente a dor ou a miséria. E quando não há forma, não há consciência, nenhum sentimento de dor ou qualquer outra coisa.

Vistante: Existem momentos na sua ciência (awareness), onde você não sinta a dor que está ocorrendo na sua forma física?
Maharaj: Enquanto a consciência estiver aí, a dor é sentida. Mas a consciência é produto do corpo-comida, assim como na lâmpada a óleo, quando o óleo está presente existe a chama. Similarmente, este corpo é como o óleo, e essa chama é o conhecimento 'eu sou'. O que quer que você veja, antes de qualquer coisa que você veja, o conhecimento 'eu sou' tem que estar lá. E ele em si contém a coisa toda, todo o seu mundo de experiência. Então, o maior cenário é o próprio conhecimento 'eu sou'; essa própria consciência é o filme todo no qual tudo está contido.
Portanto, a consciência está lá, a dor é sentida, mas eu a nego como sendo minha identidade real. A maneira como consegui a identidade real foi através do Guru, das palavras do Guru, fé total nas palavras dele e meditando sobre a consciência, esse conhecimento; a seguir, eu vim a saber que esse dito comum, que a pessoa nasce no mundo, está errado. O fato é que minha existência é para sempre. Sempre aí. Eu não sou alguém do mundo, mas sim o mundo está na minha consciência. É suposto que o corpo tenha aparecido, tenha se formado neste mundo. Mas quando a verdade apareceu, foi descoberto que em um certo átomo, o Universo inteiro está contido. E o que é esse átomo? É o 'sentido de existência' (beingness), o conhecimento 'eu sou'. Ele contém o universo todo.
Por causa da sua existência, por que você sabe que você é, você sabe que o mundo é. Portanto, essa consciência, devido à qual você experimenta o mundo, não é sem importância; de fato, ela é muito importante. Assim, por que não se estabilizar ali? Medite nessa própria consciência e descubra como esse 'sentido de eu sou' (I-am-ness) apareceu. Qual é a causa dele? A partir do que essa consciência se desenvolveu? Tente descobrir, vá direto na fonte!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Meher Baba - God Speaks parte II

Para ter consciência do Ser (Self) e ter a experiência da Sobre-Alma (Paramatma), a alma deve perder a consciência dos corpos grosseiro, sutil e mental. Mas enquanto a alma estiver impressionada por impressões grosseiras, sutis ou mentais, a alma, consistente e respectivamente tem consciência do corpo grosseiro, do corpo sutil ou do corpo mental e persistente e necessariamente passa por experiências grosseiras, sutis e mentais. A razão óbvia para isso é que, enquanto a consciência da alma estiver impressionada pelas impressões grosseiras, não há saída, exceto enfrentar essas impressões grosseiras através do corpo grosseiro. Do mesmo modo, enquanto a consciência da alma estiver impressionada com impressões sutis, não há saída, exceto a experiência dessas impressões sutis através do corpo sutil. Do mesmo modo, enquanto a consciência da alma estiver impressionada com impressões mentais, não há saída, senão experimentar essas impressões mentais através do corpo mental. Conforme as impressões grosseiras, sutis e mentais se esvaem ou desaparecem completamente, a consciência da alma é automática e obviamente direcionada e focada para si mesma, e essa alma, então, não tem outra alternativa senão absorver a experiência da Sobre-Alma.

Agora, os corpos grosseiro, sutil e mental não são nada além de sombras da alma. As esferas (mundos) grosseiro, sutil e mental não são nada além de sombras da Sobre-Alma. Os corpos grosseiro, sutil e mental são finitos, têm formas e são mutáveis e destrutíveis. Os mundos grosseiro, sutil e mental são falsos, são zero, imaginação e sonhos vagos. A única realidade é a Sobre-Alma (Paramatma). Portanto, quando a alma com seus corpos grosseiro, sutil e mental experimenta os mundos grosseiro, sutil e mental, a alma experimenta, na realidade, as sombras da Sobre-Alma com a ajuda das suas próprias sombras. Em outras palavras, a alma com suas formas finitas e destrutíveis experimenta falsidade, zero, imaginação e um sonho vago. Apenas quando a alma experimenta a Sobre-Alma com o seu Ser é que experimenta o Real com a realidade. Quando a alma é consciente do seu corpo grosseiro, então essa alma se identifica com o corpo grosseiro e considera-se como sendo o corpo grosseiro. Isso significa que a alma infinita, eterna, sem forma, encontra-se como finita, mortal e com forma. As impressões (sanskaras) são a causa dessa ignorância. No início a alma, que está eternamente na Sobre-Alma, primeiro adquire ignorância através de impressões, em vez de adquirir conhecimento. Quando a alma adquire uma forma particular (um corpo ou sharir), de acordo com impressões particulares, ela sente-se e experimenta-se como sendo aquela forma particular.

A alma na sua forma de pedra experimenta-se como pedra. Assim, no devido tempo, a alma experimenta e considera-se como sendo metal, vegetal, verme, peixe, ave, animal, homem ou mulher. Qualquer que seja o tipo de forma grosseira e qualquer que seja a configuração da forma, a alma espontaneamente associa-se com essa forma, figura e configuração, e experimenta que ela própria é aquela forma, figura e configuração. Quando a alma está consciente do corpo sutil, então essa alma experimenta que ela é o corpo sutil. Quando a alma se torna consciente do corpo mental, então essa alma experimenta que ela é o corpo mental. É apenas por causa das impressões (nuqush-e-Amal ou sanskaras) que a alma, sem forma, a Alma Infinita, experimenta que é genuinamente um corpo grosseiro (sthul sharir), ou um corpo sutil (pran) ou um corpo mental ( mana ou mente). A alma, enquanto experimenta o mundo grosseiro através das formas grosseiras, associa-se e desassocia-se de inumeráveis formas grosseiras. A associação e a dissociação com formas grosseiras denomina-se nascimento e morte, respectivamente.

É só por causa das impressões que a alma eterna, imortal, existindo na realidade, sem nascimentos e sem mortes, tem que experimentar nascimentos e mortes incontáveis vezes. Enquanto a alma tem de se submeter a essa experiência de inúmeros nascimentos e mortes por causa das impressões, ela não só tem de experimentar o mundo grosseiro, que é uma sombra da Sobre-Alma e que é falso, mas juntamente com isso, a alma também tem de experimentar felicidade e miséria, virtude e vício do mundo grosseiro.
É só por causa das impressões que a alma, que está além e é livre da felicidade e miséria, virtude e vício, tem necessariamente de se submeter a experiências de miséria e de felicidade, de vício e de virtude. Portanto, é estabelecido que as experiências de nascimentos e mortes, felicidade e miséria, virtude e vício são sentidos somente pela forma grosseira da alma, enquanto experimenta o mundo grosseiro; mas a forma grosseira da alma é uma sombra da alma e o mundo grosseiro é uma sombra da Sobre-Alma. Assim, todas as experiências de nascimentos e mortes, virtude e vício, felicidade e sofrimento vividas pela alma não são nada além de experiências da sombra. Por isso, tudo o que é assim experimentado é falso.

A fim de clarificar essa relação "atma-Paramatma" (alma com a Sobre-Alma) nós comparamos Paramatma com um infinito oceano, um oceano sem limites, e a atma como uma gota nesse oceano. A atma nunca está fora desse oceano ilimitado (Paramatma). A atma não pode nunca estar fora de Paramatma porque Paramatma é infinita e ilimitada. Como pode a atma sair ou ter um lugar além da ilimitação sem limites? Portanto a atma está em Paramatma.
Após estabelecer o fato principal de que a atma está em Paramatma vamos um passo adiante e dizer que a atma é Paramatma. Como? Por exemplo, vamos imaginar um oceano sem limites. Vamos também imaginar que separamos ou que retiramos uma parcela mínima de oceano da vastidão ilimitada desse oceano. Segue-se então que, essa porção mínima de oceano, enquanto estava dentro do oceano sem limites, antes da separação, é o próprio oceano e não está lá no oceano como uma parcela mínima do oceano, porque cada parcela do oceano, quando não está limitada pelas limitações da gota, é o oceano ilimitado.
É somente quando uma parcela mínima do oceano for separada do oceano ilimitado, ou retirada do oceano ilimitado como uma gota, que essa porção do oceano obterá sua existência separada como uma gota do oceano sem limites, e que essa parcela mínima de oceano começará a ser olhada como uma gota do oceano ilimitado. Em outras palavras, o próprio oceano infinito, ilimitado e sem fronteiras é agora encarado meramente como uma gota daquele oceano infinito, ilimitado e sem fronteiras. E, em comparação com aquele oceano infinito, ilimitado e sem fronteiras essa porção de oceano, ou essa gota de uma parcela mínima de oceano, é muito mais limitada e mais finita com infinitas limitações. Isto é, aquela porção infinitamente livre se encontra infinitamente aprisionada.

Similarmente, a atma, que temos comparado com uma gota do infinito oceano, obtém uma aparente existência separada, embora, na realidade, ela não pode nunca estar fora da ilimitação do ilimitado, infinito Paramatma, o qual temos comparado com o oceano infinito, ilimitado e sem fronteiras. Mas tal como a parcela mínima de oceano adquire sua limitação como uma gota através de estar sob a forma de uma bolha na superfície do oceano, e a bolha confere à parcela mínima de oceano uma existência aparentemente separada do infinito oceano, do mesmo modo, a atma, que está em Paramatma e é Paramatma, aparentemente experimenta existência separada da infinita Paramatma através das limitações de uma bolha (de ignorância), com o qual a atma se encobre. Assim que a bolha da ignorância estoura, a atma não só descobre-se em Paramatma mas experimenta a si mesma como Paramatma. Através dessa limitação formada pela bolha da ignorância auto-criada pela atma, a atma aparentemente herda uma existência separada de Paramatma. E por causa desta separação auto-criada da infinita Paramatma, a atma, que é em si infinita, ilimitada e sem fronteiras, aparentemente experimenta a si mesma como muito finita e com infinitas limitações.

Hafiz - Sem mais partidas

Em

algum momento,

seu relacionamento

com Deus

irá

tornar-se assim:
.

Da próxima vez em que você encontrá-Lo na floresta

ou em uma rua lotada da cidade,

não haverá mais

partida.
.
Isto é,

Deus vai subir em seu bolso.
.
Você simplesmente irá levar
.
a si mesmo
.
junto!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ramesh S. Balsekar - Estágios de compreensão

Pergunta: Existe uma progressão que é comum a todos os aspirantes? Quero dizer, todos passam pelos mesmos estágios?
Ramesh: Os Budistas têm um excelente sumário não apenas de como o iluminado vê o mundo, mas também de como o iluminado veio a ver da maneira como vê. O sumário constitui-se de três estágios de compreensão. O primeiro grau de compreensão é a visão através de um individuo identificado. O segundo grau é quando há uma certa quantidade de compreensão. E finalmente, há a compreensão total.
Primeiro, as montanhas e os rios são vistos como montanhas e rios. O sujeito individual identificado está vendo um objeto. Esse é o envolvimento total. Isso é o que a pessoa ordinária faz.
Segundo, as montanhas e os rios não são mais vistos como montanhas e rios. Os objetos são vistos como sendo a objetivação refletida do sujeito. Eles são percebidos como objetos ilusórios na consciência e, portanto, irreais.
Finalmente, as montanhas e os rios são mais uma vez vistos como montanhas e rios. Isto é, ao ser despertado, eles são conhecidos como sendo a própria consciência manifestando-se como montanhas e como rios. O sujeito e os objetos não são vistos como separados.
Nesse sumário, as montanhas e os rios referem-se ao mundo em geral, incluindo-se a totalidade da população humana. O indivíduo identificado verá os objetos como um sujeito individual vendo objetos. Ele se considera uma entidade separada vendo outros objetos. Ver outros objetos ou eventos cria reações nele, como um individuo. Assim, o organismo individual reage ao que é visto.
No segundo estágio, quando há o entendimento de que tudo isso é um sonho e irreal, a visão muda e ele começa a ver que nenhum evento realmente importa, ele os vê como irreais, pois como o sujeito, ele transcende a aparência. Uma aparência é algo que aparece na consciência.
Quando a compreensão surge nesse nível, há tanta apreciação dessa compreensão que o individuo frequentemente tem grande dificuldade em guardá-la para si. Ele sai por aí falando para o mundo: “tudo isso é irreal!”. Ao tentar falar para os outros que o mundo é irreal, ele quer mudar o mundo, ele vai por aí criando problemas para si mesmo. Esses problemas que esse segundo estágio traz só se resolvem no terceiro estágio.
No terceiro estágio, os objetos são vistos não por um indivíduo, nem por um objeto vendo um objeto, nem um sujeito vendo um objeto. E o percebedor real é realizado como aquilo que criou a aparência e como aquilo que reconhece a aparência. Eles são ambos o mesmo. Nesse estágio, a realização última não é apenas que o mundo é irreal, mas que ao mesmo tempo o mundo é real! O mundo é irreal no sentido de que ele é dependente da Consciência para poder existir. Ele não tem existência dele próprio. O mundo deve sua existência ao fato de ser reconhecido na Consciência. Se todos os seres humanos e todos os animais de repente se tornassem inconscientes, quem diria que existe um mundo? O mundo não só não apareceria como também não existiria.

Pergunta: Você poderia explicar melhor essa idéia de realidade e irrealidade?
Ramesh: A analogia da sombra é frequentemente usada para explicar o “real” e o “irreal”. Uma sombra é irreal no sentido de que ela é dependente do sol para existir. Não obstante, como uma sombra, ela é real o bastante. Então é tanto real quanto irreal ao mesmo tempo. Toda a manifestação é dependente da Consciência para sua existência. A Consciência é inerente em todos os objetos, em toda a manifestação. A Consciência transcende a manifestação e ainda assim é imanente nela. A manifestação está contida dentro da Consciência.
No segundo estágio, antes que a compreensão final surja, todos os tipos de conceitos vêm a tona. É assumido que cabe ao indivíduo fazer esforços para unir-se com Deus. Naquele estágio do sujeito e do objeto, nirvana e samsara são tratados como sendo dois. Portanto, eles falam em termos do oceano de samsara, miséria, que tem que ser atravessado. O jiva tem que cruzar aquele oceano e isso só pode ser feito ao fazer sadhana de um tipo ou de outro. Então, o buscador segue através do sadhana, toda uma série. Por anos ele pratica, por anos ele observa o que está acontecendo e encontra-se num estado de orgulho e auto-engano. Finalmente, quando ele se estabelece em contemplação, ele abandona tudo. Como os Sufis dizem, há uma espécie de cerimonia, uma queima de tudo o que ele aprendeu e tudo o que ele pensa que atingiu.
Então no terceiro estágio, é percebido que o mundo é tanto real quanto irreal. Quando essa compreensão chega, o conhecimento se estabelece e naquele organismo no qual a iluminação aconteceu não há mais nenhum desejo ativo de contar para o mundo sobre isso, de mudar o mundo. No terceiro estágio há uma aceitação do que É, tanto a imanência quanto a transcendência. Nirvana e Samsara não são dois. Samsara é a expressão objetiva do Nirvana.
Na compreensão final, o estado do 'sentido de existência' (beingness) acontece. Não é questão de ver algo. Tudo é aparência e essa aparência está sendo vista através do instrumento do organismo, através dos sentidos. Mas nenhum individuo jamais vê. Embora o individuo diga: 'eu posso ver as montanhas' é apenas porque a consciência está presente que isso pode ser dito. As montanhas realmente estão sendo vistas pela consciência, a qual também é a aparência! A totalidade da manifestação é meramente uma aparência criada na Consciência pela Consciência. A consciência atua e dirige todos os papéis dos bilhões de seres humanos. Cada personagem é atuado pela Consciência.
A questão: 'Por que este lila (jogo de Deus) existe?” é compreendida no estágio final. Portanto, naquele estágio, nenhum problema surge. O buscador não tem um desejo ardente de ensinar o mundo sobre aquilo que ele aprendeu porque a compreensão básica é que ele não aprendeu nada. A compreensão veio por si mesma como um presente de Deus, um presente da Totalidade, da Graça. Todas as palavras vêm depois. Quando a iluminação é aceita, não há a questão de uma “pessoa” considerando a si mesma sortuda. O indivíduo considera-se sortudo por ser iluminado apenas quando a iluminação não aconteceu realmente.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Bhagavan Sri Ramana Maharshi - Você é o Ser

Pergunta: Como posso atingir o Ser (Self)?
Bhagavan: Não existe atingir o Ser. Se o Ser fosse para ser alcançado, significaria que o Ser não está aqui e agora e que ainda está para ser obtido. O que é conseguido de novo também será perdido. Portanto será impermanente. Não vale a pena lutar para obter o que não é permanente. Então, digo que o Ser não é alcançado. Você é o Ser, você já é isso.
O fato é que você é ignorante do seu estado bem-aventurado. A ignorância sobrevém e lança um véu sobre o puro Ser, o qual é bem-aventurança. As tentativas são direcionadas apenas para remover esse véu da ignorância que é meramente conhecimento errôneo. O conhecimento errôneo é a falsa identificação do Ser com o corpo e a mente. Essa falsa identificação tem que ir, e então apenas o Ser permanece.
Portanto, a realização é para todos, a realização não faz diferença entre os aspirantes. Essa própria dúvida, se você pode Realizar, e a noção 'eu-não-Realizei' são os obstáculos em si. Livre-se desses obstáculos também.
P: Quanto tempo leva para atingir a liberação (mukti)?
B: Mukti não é para ser ganhada no futuro. Ela existe para sempre, aqui e agora.
P: Eu concordo, mas não experimento isso.
B: A experiência está aqui e agora. Não se pode negar seu próprio Ser.
P: Isso significa existência e não felicidade.
B: Existência é o mesmo que felicidade e felicidade é o mesmo que Ser. A palavra mukti é muito provocante. Por que deveríamos buscá-la? Acreditamos que há aprisionamento e portanto buscamos isso. Mas o fato é que não há aprisionamento, apenas liberação. Por que chamá-la por um nome e então buscá-la?
P: Verdade, mas nós somos ignorantes.
B: Apenas remova a ignorância. Isso é tudo o que precisa ser feito. Todas as questões relacionadas com mukti são inadmissíveis. Mukti significa livrar-se do aprisionamento, o que implica a presente existência do aprisionamento. Não há aprisionamento e portanto não há liberação também.
P: De que natureza é a realização dos ocidentais que relatam que tiveram flashes de consciência cósmica?
B: Ela veio como um flash e desapareceu da mesma maneira. Aquilo que tem um começo deve também ter um fim. Apenas quando a consciência sempre-presente for realizada ela será permanente. A consciência de fato está sempre conosco. Todos conhecem 'eu sou'. Ninguém pode negar seu próprio Ser. O homem em sono profundo não está ciente, enquanto está acordado ele parece estar ciente. Mas é a mesma pessoa. Não há mudança naquele que dormiu e naquele que está acordado agora. No sono profundo ele não estava ciente de seu corpo, e, portanto, não havia consciência-corpo (ego). No estado desperto ele está ciente de seu corpo e, portanto, há consciência-corpo. Portanto, a diferença está no emergir da consciência-corpo e não em nenhuma mudança na consciência real.
O corpo e a consciência-corpo emergem juntos e submergem juntos. Tudo isso corresponde a dizer que não há limitações no sono profundo, enquanto que há limitações no estado desperto. Essas limitações são o aprisionamento. O sentimento 'o corpo sou eu' é o erro. Esse falso sentido de 'eu' tem que ir embora. O 'Eu' real está sempre aí. Ele está aqui e agora. Ele nunca aparece como algo novo e depois desaparece novamente. Aquilo que É deve persistir para sempre também. Aquilo de novo que aparece também será perdido. Compare o estado desperto com o sono profundo. O corpo aparece em um estado mas no outro não. Portanto o corpo será perdido. A consciência era pré-existente e irá sobreviver ao corpo.
Não há ninguém que não diga 'eu sou'. O conhecimento errôneo 'eu sou o corpo' é a causa de todo prejuízo. Esse conhecimento errôneo deve ir embora. Isso é a realização. A realização não é a aquisição de nada novo nem é uma nova faculdade. É apenas a remoção de toda camuflagem.
A verdade última é tão simples! Não é nada mais do que estar no estado original. Isso é tudo o que precisa ser dito.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

P. D. Ouspensky - O trabalho sobre si mesmo

Pergunta: O senhor poderia dizer mais alguma coisa sobre o que é o "Eu"?
Ouspensky: O "Eu" é apenas suposto; não sabemos o que é o "Eu". Mas "Ouspensky" eu conheço e posso estudar em todas as suas manifestações. Portanto, devo começar com "Ouspensky". O "Eu" é indefinível e muito pequeno; existe apenas como uma potencialidade; se ele não crescer, a falsa personalidade continuará a controlar tudo. Muitas pessoas cometem o erro de pensar que sabem o que é um e o que é o outro. Dizem: "isto sou eu", quando, na verdade, é a falsa personalidade. Isso está de modo geral ligado à nossa capacidade de representar papéis. Trata-se de uma capacidade muito limitada; geralmente temos uns cinco ou seis papéis, quer observemos, quer não. Podemos notar uma certa semelhança, inteiramente ilusória entre esses papéis e, então, consciente ou inconscientemente, poderemos chegar à conclusão de que, por trás deles há uma individualidade permanente. Chamamos isso de “Eu” e pensamos que está por trás de todas as manifestações, quando, de fato, é um retrato imaginário de nós mesmos. Esse retrato deve ser estudado. É impossível ter um conhecimento prático de si mesmo se não conhecermos nossa falsa personalidade. Enquanto pensarmos que somos uma unidade, todas as nossas definições estarão erradas. Só quando o homem souber que todas as suas intensões, desejos, etc. não são verdadeiros, que são a falsa personalidade, é que ele poderá adquirir algo. É esse o único trabalho prático possível, e é muito difícil. A falsa personalidade tem que desaparecer ou pelo menos ser enfraquecida a ponto de não prejudicar o nosso trabalho. Ela, no entanto, se defenderá e não se entregará facilmente. O trabalho é uma luta contra a falsa personalidade, que se oporá, sobretudo através da mentira, pois essa é a sua arma mais poderosa.
P: O senhor diz que o que chamamos de”Eu” é imaginário, o que quer dizer para o senhor, “consciência de si mesmo”? Que “eu” pode ser consciente?
O: O Ser é diferente do não-Ser. “Eu” é diferente desta mesa. Quando disse que o “Eu” era imaginário, era no sentido de uma imagem mental que temos de nós mesmos, daquilo que pensamos de nós mesmos. Quando digo "Ouspensky ', é um 'Ouspensky' embelezado, feito para parecer o que ele não é. Atribuo a ele muitas coisas que não possui, não conheço suas fraquezas. A condição para o crescimento do 'Eu' real é se livrar de 'Ouspensky', não estar identificado com ele.
P: O 'Eu' nunca é real, exceto se estiver conectado com esforço?
O: O 'Eu' só pode existir no estado de consciência de si, e cada momento no trabalho de criação de consciência de si significa esforço. Nada pode "acontecer" por si só. Se mudarmos o nosso ser, as coisas serão diferentes, mas neste estado nada pode ser diferente.
P: Como podemos lidar com a presunção da falsa personalidade?
O: Você deve primeiro conhecer todas as características dela e, em seguida, deve pensar corretamente. Quando você pensar corretamente, vai encontrar maneiras de lidar com ela. Você não deve justificá-la, ela vive de justificação, e até mesmo da glorificação de todas as suas características.
A qualquer momento da nossa vida, mesmo em momentos de tranquilidade, estamos sempre justificando-a, considerando-a legítima e encontrando todas as possíveis desculpas para ela. Isto é o que eu chamo de pensar errado. Estudando a falsa personalidade, começamos a ver cada vez mais a mecanicidade. Paralelo com a realização de nossa mecanicidade, estudamos como sair dela por meio da criação de algo que não seja mecânico. Como podemos fazer isso? Primeiro temos de pensar sobre aquilo que queremos, separar o importante do trivial. O trabalho sobre si mesmo, o desejo de se conhecer e as idéias do trabalho, a luta para criar consciência, não são mecânicos, podemos ter certeza disso. E se olharmos desse ponto de vista, vamos ver muitas coisas imaginárias em nós mesmos. Essas coisas imaginárias são a falsa personalidade - emoções imaginárias, interesses imaginários, idéias imaginárias sobre nós mesmos. A falsa personalidade é totalmente mecânica, assim, trata-se novamente da divisão entre o consciente e o mecânico. Essa parte mecânica de nós está principalmente baseada na imaginação, em idéias errôneas sobre todas as coisas, e acima de tudo, em uma visão equivocada de nós mesmos. Temos de perceber o quanto estamos em poder desta falsa personalidade e de coisas inventadas que não têm existência real, e temos que separar aquilo de que realmente podemos depender do que não é confiável em nós mesmos. Isso pode servir de começo. Quando nós nos conhecermos melhor, isso irá nos ajudar a despertar.
P: Quer dizer que temos que estudar a nossa falsa personalidade, reunindo dados, observações?
O: Ao dividir a si mesmo, ao não dizer 'eu' para tudo. Você pode realmente usar a palavra "eu" apenas em relação à parte mais consciente de si mesmo, o desejo de trabalhar, o desejo de compreender, a realização da não-compreensão, a realização da mecanicidade; que você pode chamar de 'Eu'. O 'Eu' começa a crescer apenas em relação ao estudo, ao trabalho sobre si mesmo, senão ele não pode crescer e não há nenhuma mudança. Um 'Eu' permanente não vem de uma vez. Todos os 'eus' ilusórios desaparecem pouco a pouco e o 'Eu' real torna-se gradualmente mais forte, principalmente, através da lembrança de si mesmo. A lembrança de si, no sentido de apenas estar ciente é muito boa, mas pouco a pouco, quando você prossegue com ela, vai ficando ligada a outros interesses, com o que se pretende obter. No presente, num momento você se lembra dela, e depois por um dia ou uma semana você a esquece, mas é necessário lembrar dela o tempo todo.
P: O objetivo da lembrança de si é a descoberta progressiva do 'eu' permanente?
O: Não a descoberta, é preparar o terreno para ele. O 'Eu' permanente não está lá. Ele precisa crescer, mas não pode crescer, quando está todo coberto com as emoções negativas, com a identificação e outras coisas. Então você começa por preparar o terreno para Ele. Mas, antes de tudo, como eu disse antes, é necessário compreender o que é lembrança de si, porque é melhor lembrar de si, que efeito que ela irá produzir e assim por diante.

G. I. Gurdjieff - 10 de maio de 1945

Pergunta: Como deveríamos entender o que significa reparar o passado? É através do remorso?
Gurdjieff: Você é muito complicado. É muito mais simples. O presente é o resultado do passado. Se você adquiriu um mau hábito no passado, você deve pará-lo. Vejo que eu tenho o hábito de virar meus polegares sempre na mesma posição. Pare. Isso é reparar. Não cometa o mesmo erro novamente e prepare para o futuro, prepare para o futuro. Pratique, pratique como se praticasse para tocar piano. Você deve desenvolver a força dos seus dedos. Repita, repita.
Pergunta: Vejo como passo horas por dia ocupado com sentimentos muito pequenos, insignificantes, muito indignos. Eu deveria me propor uma tarefa de remediar isso, ou existe algo para ser feito a esse respeito?
Gurdjieff: É o mesmo para todo mundo. Sempre foi assim. Para você, é apenas agora que você vê isso. É isso que queremos mudar. Faça tudo o que você faz, bem. Até ao comer. Se você come bem, você reza bem. Seja sincero e dê o melhor de si em tudo o que você faz. Deve-se trabalhar precisamente em algo preciso. O trabalho não deveria ser um desejo, mas uma necessidade, uma necessidade. Quando ele se tornar uma necessidade, você terá uma resposta. Você não tem o direito de ter um desejo apenas. Isso não é o bastante. Não lhe dará nada. Crie uma necessidade em si mesmo. Repita, repita, repita. Você nunca repete o bastante. Tudo que vem facilmente para você, não dura, é destruído. Escolha alguma coisa que lhe custe algo, que seja um esforço. Aquilo que é fácil é ruim para a sua vida interior.
A META. Tenha sempre uma meta imediata. Esse é o seu objetivo. Você deve atingir isso. Existem muitos ziguezagues no caminho. Não atrase. Sempre veja a meta. Saiba para onde você está indo e você encontrará os meios de chegar lá. Depois eu indicarei uma outra meta. Você deve atingir a primeira antes; a meta deveria ser clara e estar sempre diante de você.
Pergunta: Quando eu tento trabalhar com o remorso, há sempre uma parte de mim que se recusa, que me diz que isso é inútil, que isso não irá me levar a lugar nenhum ou a nada. Eu gostaria de entender melhor o uso do remorso, a necessidade dele, para permitir que eu convença a mim mesmo e que lute contra essa recusa.
Gurdjieff: É muito simples. Olhe isto (ele pega um gomo de uma tangerina de seu prato). Isto está destinado a se tornar geléia, tem que se tornar geléia, foi feito para isso. Mas está cheio de sal. O que deveria ser feito? Ele deve ser lavado, colocado de molho, limpo para tirar o sal. Posteriormente ele pode virar geléia. Com o sal é impossível. O remorso é o que remove o sal. É o que purifica. Você entende?

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Siddharameshwar Maharaj - Deveríamos agir de acordo com o ensinamento

Sábios como Shuka, Valkami e Narada atingiram a realização espiritual com o conhecimento do Ser. Essa posição elevada é atingida ao escutarmos as instruções espirituais e meditarmos sobre elas. A pessoa deve praticar de acordo com o que ouviu. Apenas então o autoconhecimento é possível. Apenas aquele que não é atraído pelos objetos do mundo pode ter o autoconhecimento através do escutar e meditar. Simplesmente o descrever verbalmente um prato saboroso não torna aquela comida cozida. Você deve cozinhá-la e então comê-la. Apenas assim obtemos benefício. O estudo do Ser é permanecer com uma atitude de unidade com o Ser, ou nossa verdadeira natureza (swaroopa).
Ninguém se torna um sábio apenas ao vestir as roupas laranja de um renunciado. Sua mente deveria aceitar aquilo que ela escuta. A mente deveria estar sintonizada com o que ela escuta. A atenção da mente deveria ser tão constante e firme quanto o fluxo estável de um fino fio de óleo passado uniformemente de um recipiente para outro. Você deve ler repetidamente o que está escrito porque não se lembra. Esse esquecimento dá-se porque você não experimenta sua unidade com o Ser. Todos constroem suas casas no vento. Constroem castelos no ar.
No mundo tudo está acontecendo por causa da “palavra”. Primeiro o conceito de um prédio alto é falado em muitas palavras e depois o prédio é erguido. Alguém que é ignorante torna-se sábio apenas através das palavras. Se você não escuta as palavras, como pode então acontecer a ação de escutar? Tentar ensinar a você é como derramar água sobre um búfalo. Toda a água é desperdiçada. Isso é por causa da sua atenção que está focada nos objetos, você não diminui seu interesse neles. Se a atenção se liberta, então o trabalho está feito, você se tornou Brahman. Seu Ser deveria permanecer constantemente como Brahman.
Todos os cinco elementos estão finamente misturados uns com os outros. O Ser (Atman) também reside neles, mas está separado. Todas as casas são construídas apenas com terra, mas seu formato e seus donos são diferentes. Similarmente, embora as pessoas sejam muitas em número, o Ser interior, Deus, e o ar em todas, são Um. Entretanto existe um fator que chama a si mesmo de “eu”. Esse fator é falso. Ele não deveria estar lá. Se você separa a si mesmo e se torna orgulhoso dessa separação, então sofre inúmeros pesares. Assim, escutar torna-se fútil pois a mente está atraída pelos objetos dos sentidos e identificada com os pensamentos.
Atingir o “conhecimento de Brahman” (Brahmavidya) é difícil porque sua atenção está voltada para os objetos dos sentidos. Se a pessoa tem uma apreciação por escutar ensinamentos espirituais, algo parece estar faltando se ela não tiver a experiência de fato. O humor da mente muda se você se cerca continuamente de boa companhia. Deveria haver dia e noite constantes pensamentos e meditações sobre as instruções espirituais que recebemos. Fale sobre elas e escute-as, mas colocar em prática o bom conselho recebido é ainda de maior valor. Apenas o ato de meramente escutar o ensinamento não é tão importante, devemos ter a experiência real e sentirmo-nos unidos com ele. Se podemos fazer isso, então atingimos todos os poderes espirituais (Siddhis).

terça-feira, 14 de julho de 2009

Jalaluddin Rumi (Discursos ) - Sobre as palavras dos profetas e dos santos paira um perfume de esperança e felicidade

Todos que se preparam para uma viagem têm uma idéia particular em mente: "Quando chegar vou ganhar vantagens e melhorar minha situação. Meus negócios serão colocados em ordem, meus amigos ficarão deleitados e vencerei meus inimigos". Essas são as idéias que temos em mente, mas o objetivo de Deus é algo diferente. Nós fazemos tantos planos e pensamos em tantas idéias e nem ao menos uma sucede-se de acordo com nosso desejo. Contudo, mesmo assim, nós continuamos a confiar em nossos próprios planos e escolhas.
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Ignorando o Destino, as pessoas fazem seus pequenos planos.
A vontade de Deus não se consulta com os planos do homem.
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Isso é ilustrado por uma mulher que num sonho vê que enveredou-se por uma cidade estranha onde não conhecia ninguém. Ela ficou perplexa e deprimida, dizendo a si mesma: "Porque é que eu venho a esta cidade onde não tenho nenhum amigo ou conhecido que me cumprimente com um aperto de mão ou com um beijo?" Ao despertar, essa cidade e seu povo desaparecem e ela sabe que toda a sua angústia e tristeza eram absolutamente nada. Então, ela ignora o estado em que se encontrava e conclui que suas preocupações foram completamente em vão. No entanto, da próxima vez que dorme, ela se vê exatamente na tal cidade novamente e começa a sentir a mesma solidão e tristeza. Ela lamenta ter ido a essa cidade e não se lembra de que quando estava acordada, podia ver o quão tolo era se preocupar, pois era apenas um sonho e nada havia para se lamentar a respeito.
É exatamente assim que as pessoas são. Elas têm visto seus desejos darem em nada cem mil vezes. Nada prossegue de acordo com seus planos intrincados. Mas Deus designa que um esquecimento cubra os seus olhos, para que esqueçam tudo o que aconteceu, e assim mais uma vez eles planejam as suas próprias idéias e vontades.
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"Deus permanece entre as pessoas e seus corações."
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Uma vez, quando Ibrahim, filho de Adão, era rei, ele galopava no rastro de um cervo que estava caçando, até que se distanciou totalmente de seus soldados, deixando-os muito para trás. Seu cavalo estava cansado e coberto de suor, mas ainda assim ele continuava a perseguição.
Depois de adentrar bastante na vastidão do deserto, o cervo parou de repente, virou-se e disse, "Você não foi criado para isso. Sua existência não foi trazida da não-existência para que você me caçasse. Mesmo se você me apanhar, o que terá conseguido?"
Quando Ibrahim ouviu estas palavras, ele chorou em voz alta e desceu de seu cavalo. Não havia ninguém naquele deserto, exceto um pastor. Ibrahim disse-lhe: "Leve as minhas vestes reais incrustadas com jóias, minhas armas e meu cavalo e dê-me a sua roupa de pano grosso. E por favor não informe ninguém, não dê nem mesmo uma pista para ninguém daquilo que sucedeu-se comigo." Ele colocou as vestes do pastor e tomou seu caminho.
Agora considere qual foi a intenção dele e ainda o que seu verdadeiro objetivo veio a se tornar! Ele queria pegar um cervo mas Deus capturou-lhe por meio daquele cervo. Portanto, perceba que neste mundo as coisas acontecem conforme Deus deseja. Dele é o plano e todos os propósitos vêm Dele.
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Antes de se tornar um muçulmano, Umar entrou na casa de sua irmã. Ela estava cantando em voz alta uma passagem do Alcorão:
"TA HA: Nós não enviamos ..." Quando ela viu o seu irmão, imediatamente escondeu o Alcorão e ficou silenciosa. Umar sacou sua espada e disse: "Diga-me o que você estava lendo e por que você escondeu isso ou vou cortar sua cabeça neste instante!" Sua irmã o temia, conhecendo seu temperamento quando zangado e aterrorizada por sua vida confessou: "Eu estava lendo essas palavras que Deus revelou a Maomé."
"Leia, para que eu as possa ouvir", disse Umar, e ela recitou toda a Sura do Ta Ha. Umar ficou furioso, e com raiva balançou sua espada, dizendo: "Se eu lhe matasse neste instante, seria como matar uma indefesa. Primeiro vou cortar a cabeça de Maomé e então cuidarei de você."
Em sua raiva, com a espada em mãos, Umar partiu para a mesquita do Profeta. Os chefes dos Coraixitas, vendo-o ir exclamaram: "Maravilhoso! Umar está atrás de Maomé. Certamente, se há alguém que pode parar esta nova religião, é Umar." Pois Umar era um homem forte e poderoso. Qualquer exército contra o qual ele marchasse, era vencido. De fato, o Profeta tinha declarado muitas vezes: "Deus, socorre minha religião através de Umar ou Abu Jahl”.-
Pois esses dois eram famosos naquele tempo por sua força e heroísmo. Posteriormente, quando Umar se tornou um muçulmano, ele costumava clamar e dizer: "Ó Mensageiro de Deus, ai de mim se tivesses falado o nome Abu Jahl antes do meu. O que teria sido de mim, então? Eu teria continuado errando."
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Em suma, Umar estava com a espada em mãos a caminho da mesquita do Profeta. Entretanto, Gabriel revelou a Maomé: "Ó Mensageiro de Deus, Umar está vindo para ser convertido ao Islã. Conduza-o para a sua alma.” Assim que Umar entrou pela porta da mesquita, viu claramente uma flecha de luz voar de Maomé e perfurar seu coração. Umar proferiu um forte grito e caiu inconsciente. Amor e desejo apaixonado preencheram-no, ele quis dissolver-se em Maomé naquela extrema afeição, e, tornou-se o nada. Ele disse: "Profeta de Deus, ofereça-me sua fé e fale sua palavra abençoada, para que eu possa ouvir." Tendo se tornado um muçulmano, ele disse: "Agora, para corrigir minhas ações, reparar ter vindo contra você com uma espada em mãos, para limpar esse ato, de agora em diante não terei pena de quem eu ouvir falando mal de você. Com essa espada arrancarei suas cabeças de seus corpos."
Saindo da mesquita, subitamente ele encontrou seu pai. O pai de Umar disse: "Você mudou de religião." Imediatamente ele cortou a cabeça de seu pai e caminhou segurando a espada suja de sangue. Os chefes dos coraixitas, vendo o sangue, disseram a Umar: "Você prometeu trazer a cabeça de Maomé. Onde está a cabeça dele?" Umar disse: "Eu a carrego comigo!" Um deles disse: "Você trouxe a cabeça dele?" Ele respondeu, "Não, não aquela cabeça. A cabeça que trago é a do outro lado."
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Agora vejam o que Umar planejou e no que Deus tornou tais planos. Saibam que todas as coisas desenrolam-se como Deus deseja.
Abraão disse: "Ó Deus, já que me escolhestes e me honrastes com o manto de Vossa aprovação, concedei essa distinção a meus filhos também." Deus declarou: "Meu compromisso não atingirá os pecadores." Quando Abraão percebeu que Deus não estende Seu amoroso cuidado aos pecadores e aos insolentes, ele tentou barganhar. E disse: "Ó Deus, aqueles que crêem e não são malfeitores - dai-lhes uma porção de vossa provisão." Deus declarou: "A minha provisão é comum a todos os homens e mulheres e todos devem ter uma parte dela. Todas as criaturas desfrutam sua parcela dos benefícios desta morada. Mas o manto da minha aprovação e a honra da nobilização e da distinção, são um dom especial para os eleitos e escolhidos."
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"Fizemos a Casa ser
Um local de visitação para o povo,
E um santuário.
"Tomem para vocês a estação de Abraão
Como um local de oração."
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O literalistas dizem que o que se quer dizer por esta "Casa" é a Kaaba, pois na Kaaba é proibido caçar e nenhuma maldade é permitida contra ninguém. Deus escolheu aquela casa para Si. Tudo isso é perfeitamente válido e correto, mas essa é a interpretação literal do Alcorão. No entanto, os Sufis dizem que a "Casa" é a parte interior de nosso Ser. Em outras palavras: "Deus, livrou meu Ser interior da tentação e dos planos mundanos. Purificai-o das paixões e dos pensamentos ociosos, para que nenhum medo possa entrar e a segurança prevalecerá. Deixai-o tornar-se completamente o centro de vossa revelação".

É dito que Deus designou meteoros para vigiar o céu e impedir que o amaldiçoado Satã escutasse os segredos dos anjos. O significado disso, de acordo com esoteristas, é: "Ó Deus, nomeai o guardião de vosso cuidado amoroso para vigiar a nossa casa interior, para afastar de nós as tentações de Satã e os truques dos desejos carnais."
Todos começam esse caminho a partir de sua própria posição. O Alcorão é uma tapeçaria de dupla face. Alguns desfrutam de um lado dele e alguns do outro. Ambos são verdadeiros, uma vez que Deus deseja que todos se beneficiem dele.
Do mesmo modo, uma mulher tem um marido e uma criança. Cada um desfruta dela de uma forma diferente. O prazer da criança está no seu seio e seu leite. O prazer do marido está nas relações sexuais com ela.
Algumas pessoas são crianças do Caminho - derivam prazer do sentido literal do Alcorão e bebem aquele leite. Mas aqueles que atingiram anos de plena discrição têm outro desfrute e uma compreensão diferente dos significados interiores do Alcorão.
A estação e local de oração de Abraão é um certo local na Kaaba onde os literalistas dizem que duas prostrações de oração devem ser realizadas.
Isso é de fato excelente, por Deus. Mas de acordo com os Sufis, a estação de Abraão é aquele estado interno onde você se atiraria no fogo pelo Amor de Deus, chegando a este lugar através de trabalho e esforço em nome de Deus. Ali, as pessoas podem sacrificar a si mesmas pelo amor de Deus, o seu próprio Ser não tem lugar em seus olhos, e elas deixam de tremer por si mesmas. Realizar duas prostrações de oração na estação de Abraão é excelente, mas faça com que esse colocar-se de pé seja realizado neste mundo e o prostrar-se ser no outro mundo.
A verdadeira Kaaba é o coração dos profetas e dos santos, o locus da revelação de Deus. A Kaaba física é um ramo disso. Se não fosse para o coração, qual seria a utilidade da Kaaba? Os profetas e os santos abandonam seus próprios desejos e seguem a vontade de Deus. O que quer que Deus mande, eles fazem. Para aqueles a quem Deus nega a graça, os santos são indiferentes – na verdade em seus olhos tais pessoas são inimigas.
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Em Tuas mãos colocamos as rédeas do nosso coração.
O que quer que declares cozido, nós declaramos queimado!
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Tudo que eu digo é uma comparação. Comparação é uma coisa, e equivalência é outra. Nós assemelhamos Deus a uma lâmpada para efeito de comparação e os santos são equiparados ao vidro dessa lâmpada. A luz de Deus não é contida por nenhum ser ou espaço, portanto, como poderia ser contida pelo vidro da lâmpada? Como pode a abrangência de Sua Luz ser contida em um coração? Ainda assim, procurando no coração você a encontra. Não como numa caixa que contém Aquela luz, mas do coração você encontra essa Luz radiando. Assim como quando você encontra sua imagem num espelho, mas sua imagem não está no espelho em si. Ainda assim, quando você olha no espelho vê a si mesmo.
Por meio da comparação todas as sutilezas se tornam inteligíveis e, uma vez inteligíveis, os sentidos podem compreendê-las. Assim, eles dizem que no outro mundo os livros irão voar, alguns para a mão direita e alguns para a esquerda. Existem também os anjos, o trono, o céu e o inferno, a balança, a conta a ser acertada e o livro: nada disso fica claro até que uma analogia seja feita. Não existe nenhuma semelhança com qualquer dessas coisas neste mundo, mas através de comparação elas podem ser conhecidas.
Por exemplo, de noite, todas as pessoas dormem, igualmente o sapateiro e o rei, o juiz e o alfaiate. Uma vez adormecidos, seus pensamentos tomam asas e nenhum pensamento permanece para qualquer um deles. Então, ao amanhecer, é como se o sopro da trombeta de Israfil trouxesse vida para os átomos de seus corpos e os pensamentos de cada um, como pergaminhos do próximo mundo, voam precipitadamente para cada pessoa, sem qualquer erro, os pensamentos do alfaiate para o alfaiate, os pensamentos do advogado para o advogado, os pensamentos do ferreiro para o ferreiro, os pensamentos do oprimido para o oprimido, os pensamentos dos justos para os justos.
Alguém vai dormir como um alfaiate e acorda no dia seguinte como um sapateiro? Não, pois aquele ofício pertence a ele, e, dessa forma, ele assume a mesma ocupação de antes. A partir disso você pode ver que a afinidade de cada pessoa continua no outro mundo. Isso faz sentido, porque neste mundo vemos a mesma coisa.
Se continuarmos com a comparação até chegarmos ao final da presente discussão, iremos assistir a todos os Estados do outro mundo neste mundo. Deste mundo iremos farejar todas as circunstâncias que correspondem ao outro mundo, e veremos que todas as coisas estão contidas na onipotência de Deus. Muitos são os ossos apodrecendo em suas sepulturas, mas gozando o doce repouso e o sono embriagado daquele gozo e intoxicação. Estas não são palavras ociosas, como diz o ditado: "Que a poeira repouse doce sobre eles!" Se a poeira não tinha consciência da doçura, porque é que alguém diria uma coisa dessas?
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Rezo para que o ídolo de face redonda
possa viver uma centena de anos,
Meu coração fiel seja um recipiente
Para as poças das lágrimas dela.
Na poeira de sua porta meu coração
Tão feliz, morreu feliz, Orando:
“Senhor, possa a poeira dela
Permanecer alegremente para sempre!"
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Um casal está dormindo num colchão. A mulher vê-se em meio a um banquete, num jardim de rosas e no Paraíso, o homem se vê no meio de cobras, dos guardiões do inferno e de escorpiões. Se você investigar, não verá nem Paraíso nem Inferno. Por que, então, deveria ser uma surpresa que os restos mortais de alguns, mesmo no túmulo, experimentem prazer, descanso e intoxicação, enquanto alguns estão em dor, tormento e agonia, e ainda você não pode ver nem prazer nem dor? Portanto, o invisível torna-se sensível através da utilização de comparação.
Comparação é uma coisa, equivalência é outra. O Gnósticos dão o nome de "Primavera", para relaxamento, felicidade e expansão.
Chamam de "Outono", contração e tristeza. Qual é a real semelhança entre a felicidade e a Primavera, a tristeza e o Outono? Porém, sem esta comparação o intelecto não pode conceber e compreender o significado. Portanto, o Alcorão declara:
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"Não são iguais, os cegos e aqueles com visão,
As sombras e a luz,
O lugar abrigado do sol e o calor tórrido."
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Aqui, a fé é comparada à luz e a incredulidade às sombras, mas a fé poderia estar relacionada com uma deliciosa sombra e a incredulidade a um impiedoso sol queimante, fervendo o cérebro. Qual é a semelhança entre a brilhante sutileza da fé e a luz deste mundo ou entre as trevas sórdidas da incredulidade e da escuridão que conhecemos durante a noite?
Você vê este homem que adormeceu enquanto nós estávamos falando? Este sono não é um sinal de desatenção, mas de segurança e proteção. Assim como numa caravana viajando ao longo de uma difícil e perigosa estrada numa noite escura, as pessoas dirigem com medo, pensando que algum dano possa ocorrer. Mas logo que a voz de um cão, ou um galo, atinge seus ouvidos e que encontram uma aldeia, eles ficam despreocupados, estendem suas pernas e dormem docemente. Na estrada, onde não havia nenhum som ou murmúrio que os perturbasse, eles não podiam dormir por causa do medo. Mas na aldeia encontram segurança e com todo o latido de cães e o canto dos galos, ainda assim ficam felizes e caem no sono.
As nossas palavras também derivam da comunidade e segurança, são as palavras dos profetas e dos santos. Quando a alma ouve as palavras daqueles amigos familiares, ela se sente segura e é livrada de qualquer receio, pois sobre essas palavras paira um perfume de esperança e felicidade.
Assim como aqueles viajantes naquela noite escura pensavam que a cada momento ladrões estavam misturando-se com sua caravana, e assim, desejavam ouvir as palavras dos seus companheiros viajantes para reconhecê-los por suas palavras, assim que ouviam seus amigos falarem, sentiam-se seguros. O mesmo acontece com você. Porque sua essência é sutil, olhares não são suficientes para nós, mas se você falar ouviremos então aquele amigo familiar de nossos espíritos e nos sentiremos seguros e em paz. Então fale!
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Um certo rato habitando um milharal, sendo tão pequeno, é invisível, mas uma vez que ele faça um som, é possível reconhecê-lo por meio de seu som. Da mesma maneira, as pessoas estão totalmente imersas no milharal deste mundo e sua essência, sendo extremamente sutil, é invisível. Portanto, fale, para que eles possam reconhecer você.
Quando queremos ir a um determinado local, nosso coração vai lá primeiro para experimentar as condições dali. Então nosso coração retorna e chama nosso corpo para ir junto. Agora todos os homens e mulheres deste mundo são como corpos em relação aos santos e aos profetas, que são o coração deste mundo. Estes seres do coração percorrem primeiro o outro mundo, deixando os seus atributos humanos de carne e pele. Examinam as profundezas e as alturas daquele mundo e percorrem todos os estágios, até que conheçam o caminho. Então, voltam e convocam a humanidade, dizendo: "Venham para o mundo original! Pois este mundo é uma ruína vazia e desoladora em comparação com o jardim que descobrimos."
A partir disso, você deveria perceber que o coração está sempre acompanhando o seu amado e não tem qualquer necessidade de atravessar os estágios, não há necessidade de temer os ladrões da estrada, nem de prender a bagagem na mula. É o corpo miserável que está ligado a estas coisas.
Eu disse para meu coração:

"Como é que você está impedido do serviço
Daquele cujo nome você abençoa? "
Meu coração respondeu:
"Você interpreta mal os sinais.
Estou constantemente a serviço Dele,
Você é quem está perdido."

Onde quer que você esteja, não importa o que possa acontecer, esforce-se sempre para ser um amante, um amante apaixonado. Quando o amor se tornar sua propriedade você será eternamente um amante , na sepultura, na ressurreição ou no Paraíso, para sempre e sempre. Quando você semeou trigo, certamente o trigo vai crescer, estoques de trigo vão encher os galpões, pães de trigo vão encher o forno.
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Quando Majnun quis escrever uma carta para Laila, ele tomou uma caneta em sua mão e escreveu:
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Seu nome está em minha língua,
Sua imagem está dentro de minha visão,
Sua memória enche o meu coração,
Onde posso escrever, então?
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Sua imagem habita a minha visão, o seu nome nunca deixa a minha língua, sua memória ocupa as profundezas da minha alma, por isso, onde vou escrever, vendo que Você está aqui em todos esses lugares? A caneta quebrou e a folha foi rasgada.
Muitos são aqueles cujo coração está repleto de tal realidade, mas que não podem expressá-la por meio de discurso e de palavras. Isso não é surpreendente e não representa um limite para aquele amor. Pelo contrário, a raiz da questão é o coração, o anseio e a paixão. A criança está apaixonada pelo leite e do leite ela deriva socorro e força, ainda assim a criança não pode explicar o leite ou descrevê-lo, dizendo: "Que prazer encontro ao beber leite e quão fraco e angustiado eu ficaria sem ele." A criança não tem palavras para o leite, ainda assim deseja o leite. A maioria das pessoas crescidas, por outro lado, embora possa descrever o leite de mil maneiras, ainda assim não encontra no leite tal prazer ou deleite como encontrava quando era criança.

domingo, 12 de julho de 2009

Hazrat Inayat Khan - 17 de maio de 1924


A Doutrina do Karma

Na teologia hindu, a doutrina do karma é muito mais enfatizada do que nas religiões dos Beni Israel (filhos de Israel). Por teologia hindu não me refiro apenas à Vedântica ou Bramânica, mas me refiro também à Budista. Por religião dos Beni Israel eu não queria dizer a judaica apenas, mas também a cristã e a muçulmana. Toda a teoria da filosofia hindu baseia-se na doutrina do karma. A moral dos Beni Israel é também baseada no karma. A única diferença é que de um lado a moral é baseada no karma e do outro lado a filosofia é baseada no karma. E agora, qual é o significado da palavra karma? O significado da palavra karma é ação. É bem evidente que nós colhemos aquilo que semeamos. O presente é o eco do passado, o futuro é a reflexão do presente, e, portanto, é lógico que o passado faz o presente e o presente faz o futuro. No entanto, na escola Sufi pouco é falado sobre este assunto. E muitas vezes as pessoas interessadas na doutrina do karma começam a se perguntar: "Porque é que o Sufismo não fala sobre o assunto? Ele se opõe a ele?" E a resposta é que de maneira nenhuma ele faz oposição à doutrina do karma. Mas a maneira como um Sufi olha para isso, faz com que ele não possa fazer nada senão fechar os lábios.
Em primeiro lugar, o que uma pessoa chama de certo ou errado, está de acordo com o próprio conhecimento dela. Ela chama de certa uma coisa que conhece como sendo correta, o que aprendeu a chamar de certo. Chama de errado o que aprendeu a chamar de errado. E desta forma, havendo diferentes nações, comunidades, raças, suas concepções de certo e errado podem diferir. Uma pessoa acusa a outra de estar errada apenas fundamentada naquilo que conhece como errado. E como é que ela sabe que aquilo está errado? É porque ela aprendeu isso, leu num livro ou lhe foi falado. As pessoas têm olhado com horror, com ódio, com preconceito para as ações umas das outras, para ações de indivíduos, comunidades, nações e raças. E ainda não existe um rótulo, não há qualquer carimbo, não há selo sobre as ações que lhes aponte estarem certas ou erradas. Esse é um aspecto da questão.

Agora, a outra maneira de olhar para isso é: A cada etapa da evolução, a concepção do homem sobre o bem e o mal, o certo e o errado, muda. E você pode me perguntar: "Como é que muda? Será que ele vê muitos erros, ou menos erros conforme ele evolui?" Poderíamos naturalmente pensar que em virtude de nossa evolução deveríamos ver mais erros. Mas não é esse o caso. Quanto mais a pessoa evolui menos erros ela vê. Então não é sempre a ação, é o motivo por trás dela.
Às vezes uma ação aparentemente errada, pode estar certa, tendo em conta a motivação por trás dela. Por isso, o ignorante está pronto para formar uma opinião a respeito da ação da outra pessoa, mas para o sábio, é muito mais difícil formar uma opinião a respeito da ação do outro.
Agora vindo para a idéia religiosa. Se um homem evolui espiritualmente, ele vê cada vez menos erros em cada momento de sua evolução. Como pode Deus estar contando as pequenas falhas dos seres humanos, que sabem tão pouco sobre a vida? Lemos na Bíblia: "Deus é amor." O que significa o amor? Amor significa perdão, amor significa não julgar. Quando as pessoas fazem de Deus um juiz cruel, sentado no trono da justiça, pegando cada pessoa e perguntando-lhe das suas falhas, julgando-a pelas suas ações, sentenciando-a, depois mandado-a embora do céu, aonde está o Deus do amor aí?
Agora, deixando a idéia religiosa de lado e chegando na filosofia: o homem é uma máquina ou é um engenheiro? Se é uma máquina, então ele tem de continuar por anos e anos e anos sobre um tipo de ação mecânica de suas más ações, e se ele é uma máquina, então ele não é responsável pelos seus atos. Se é um engenheiro, então, é responsável pelos seus atos. Mas se ele é responsável por suas ações, então é o comandante de suas ações, o comandante do seu destino. Se ele é um engenheiro, então, é o mestre do seu destino; ele cria seu destino como deseja. Tomando esse ponto de vista, o Sufi diz: "É verdade, se as coisas estão erradas comigo, é efeito das minhas ações. Mas isso não significa que eu deveria submeter-me ao destino, que eu deveria resignar-me a ele porque ele é resultado das minhas ações passadas. Mas sim, que devo fazer o meu destino, porque eu sou o engenheiro."
A diferença é a seguinte: eu vi uma pessoa dizer: "Tenho estado doente durante tantos anos mas tenho sido resignado a isso. Tenho aceitado bem, pois é o meu karma, estou pagando de volta." Assim, ele pode prolongar para a vida toda o pagamento que talvez fosse de dez anos. O Sufi, neste caso, não age apenas como um paciente mas como um médico para si próprio ao mesmo tempo. Ele diz: "A minha condição é ruim? É o efeito do passado? Vou curar isso. O passado trouxe o presente mas neste meu presente farei o futuro." Significa apenas que ele não permite que as influências do passado dominem a sua vida, ele quer justamente agora produzir a influência para tornar sua vida melhor.
Mas além disso, existe um assunto ainda mais essencial relacionado a isso. Antes de uma pessoa assumir para si a responsabilidade de pagar pelo passado, ela se pergunta: "O que eu era no passado?" Se ela não sabe, por que deve manter-se responsável por isso? Você só pode ser responsável por algo com que sua consciência esteja tingida. E é bastante suficiente carregar seu fardo na vida. Por que acrescentar a esse fardo uma carga do passado desconhecido? Mas, além disso, quando você olha para si mesmo filosoficamente, o que você encontra? Quanto mais aguçada a sua visão se torna, menos você pode encontrar fragmentos de si mesmo. Quanto mais consciente da realidade você se torna, menos consciente você fica de seu ser pequeno. E todo esse fardo das ações passadas é assumido pelo homem sem que ele o convidasse. Ele poderia muito bem ter apenas ignorado. Isso não lhe dá nenhum benefício, só lhe dá um momento de satisfação, pensar que: "É justo eu estar neste problema", e essa justiça fortalece o seu problema. A dor que poderia ter terminado, continua porque ele fortaleceu a dor. O principal objetivo do trabalho esotérico é colocar de lado aquele pensamento de si mesmo - O que eu era? O que eu sou? E o que irei ser? Ponha-o de lado por um momento. Podemos nos ocupar o bastante se pensarmos sobre a vida como um todo, o que é ela? O que deveria ter sido? O que será? É essa idéia que produz uma espécie de ponto de vista sintético e que une em vez de dispersar. É construtiva e o segredo da libertação espiritual é para ser encontrado nela. Os Brahmins, os Vedantistas, os Budistas, que mantêm a idéia do karma como a principal doutrina, assim que tocam a idéia da meta que deve ser atingida pela espiritualidade, a qual chamam de Mukti ou Nirvana, elevam-se acima da idéia do karma. Pois a condição é que a menos que uma pessoa tenha ido acima dessa idéia, ela não toca o nirvana. O significado verbal de Nirvana é -Vana é cor, e nir significa não, sem - sem rótulo, sem cor, sem divisão. É ver a vida toda como Una, realizando isso. É ai que está o segredo do Nirvana.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Hafiz - Uma sede danada

Primeiro
o peixe precisa dizer:
"Algo não está certo neste
passeio de camelo.
Estou
sentindo
uma sede tão danada!"

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Meher Baba - God Speaks - A Criação e seu Propósito

Todas as almas (atmas) estiveram, estão e estarão, na Sobre-Alma (Paramatma). As almas (atmas) são todas Uma. Todas as almas são infinitas e eternas. Elas são sem forma. Todas as almas são Uma, não há diferença nas almas ou em seu ser e existência como almas. Existe uma diferença na consciência das almas, existe uma diferença nos planos de consciência das almas, existe uma diferença na experiência de almas e, portanto, há uma diferença no estado das almas. A maioria das almas está conscientes do corpo grosseiro (sthul sharir); algumas almas estão conscientes do corpo sutil (pran); poucas almas estão conscientes do corpo mental (mente ou mana); e muito poucas almas estão conscientes do Ser (Self). A maioria das almas tem experiência da esfera grosseira (mundo grosseiro); algumas almas têm experiência da esfera sutil (mundo sutil); poucas almas têm experiência da esfera mental (mundo mental), e muito poucas almas têm a experiência da Sobre-Alma. A maioria das almas se encontra no plano grosseiro (anna bhumika); algumas almas estão no plano sutil (pran bhumika); algumas almas estão no plano mental (mano bhumika) e muito poucas almas estão no plano além do plano mental (vidnyan).
A maioria das almas tem grandes limitações; algumas almas têm poucas limitações; poucas almas têm muito poucas limitações e muito poucas almas têm absolutamente nenhuma limitação. Todas estas almas (atmas) de consciência diferente, de experiências diferentes, de estados diferentes estão na Sobre-Alma (Paramatma). Se, agora, todas as almas estão na Sobre-Alma e são todas uma, então por que razão há qualquer diferença na consciência, nos planos, nas experiências e nos estados? A causa dessa diferença é que as almas têm diferentes e diversas impressões (sanskaras).* A maioria das almas têm impressões grosseiras; algumas almas têm impressões sutis; poucas almas têm impressões mentais, e muito poucas almas não têm impressões alguma. Almas com impressões grosseiras, almas com impressões sutis, almas que têm impressões mentais e as almas que não têm impressões, são todas as almas na Sobre-Alma e são todas Uma. Almas com impressões grosseiras têm consciência do corpo grosseiro (sthul sharir) e têm experiência da esfera grosseira. Almas com impressões sutis têm consciência do corpo sutil (pran) e têm a experiência da esfera sutil. Almas com impressões mentais têm consciência do corpo mental (mana ou mente) e têm a experiência da esfera mental. Almas sem impressões têm consciência do Ser (alma, atma) e têm a experiência da Sobre-Alma (Paramatma).
* Para explicação mais detalhada sobre os Sanskaras, utilize a ferramenta 'Pesquizar Blog' no topo da página, escrevendo a palavra Sanskaras.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Tukaram (poeta e santo indiano, 1608-1649)

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Menor que o menor átomo,

Abrangindo tudo como os céus.

Tuka vê o mundo objetivo.

(Vê os nomes e as formas como ilusões)

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Realiza sua verdadeira natureza.

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Como a serpente, abandona seu invólucro.

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A fileira tripla que a alma acaba de atravessar,

é deixada longe para trás.

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A luz ilumina o jarro de barro!

Brilhando nessa luz Tuka age,

Vivendo na terra para servir a humanidade.