segunda-feira, 29 de junho de 2009

Farid ud-Din Attar - História sobre um rico mercador

Um comerciante rico em mercadorias e capitais tinha uma escrava doce como o açúcar. Decidiu um dia vendê-la, porém ficou desconsolado bem depressa; arrependeu-se de seu ato e ficou confuso e agitado. Em seu desespero, foi procurar o novo senhor daquela escrava, oferecendo-lhe mil peças de ouro para tê-la de volta. Seu coração ardia de anseio, porém o novo dono não quis vendê-la. Em consequência disso, o mercador andava sem descanso pelas ruas, atirando pó sobre a cabeça. Gemia e falava para si mesmo: “Mereço a dolorosa pena que experimento, de fato é a justa retribuição de minha falta, pois, por loucura, depois de ter costurado meu olho e minha razão, vendi minha senhora por uma cabeça de ouro. Pensar que eu mesmo causei-me este prejuízo num dia de bazar, depois de tê-la adornado para vendê-la com bom lucro”.

Cada uma das respirações que medem tua existência é uma pérola, e cada um de teus átomos é um guia para levar-te a Deus. Os favores desse Amigo cobrem-te da cabeça aos pés; manifestam-se visivelmente em ti. Se conhecesses o Ser do qual estás afastado, como poderia suportar essa separação? Deus cuidou de ti com centenas de olhares e atenções, e tu, por ignorância, negligenciaste a companhia Dele.

sábado, 27 de junho de 2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

G. I. Gurdjieff - Quinta-feira, 30 de setembro de 1943


Pergunta: Eu careço de impulso para meu trabalho. Não tenho sucesso em me aproximar do trabalho de maneira satisfatória a menos que eu sinta um certo impulso que pode vir para mim apenas através de uma realização clara da minha situação e da minha nulidade atual. Eu tenho entendido isso muito claramente. E isso fez-me compreender que devo ter remorso de consciência por essa nulidade. Mas eu não consigo ir além dessa afirmação. O que devo fazer para ter remorso de consciência?

Gurdjieff: Essa questão carrega com ela sete aspectos; não um, mas sete. Um eu vou lhe falar: Todo homem quando vem a este mundo, vem por certas razões. Existem causas, isto é, forças externas o criaram. Essas forças talvez não fossem obrigadas a lhe dar a vida. Você está contente em estar vivo? A vida vale algo para você? Bem, então se você está vivo e feliz por isso, você deveria pagar algo em troca. Por exemplo, eu vejo sua mãe aqui. Se não fosse por ela, você nunca teria vindo a este mundo. É a ela que você deve sua vida. Se você está feliz por estar vivo, você deve reembolsá-la. Você já está velho, chegou a hora de você liquidar suas dívidas. Uma das principais causas de você estar vivo é a sua mãe. É por causa dela que você tem seus prazeres e e possibilidades de se desenvolver. Uma das razões, um dos aspectos da sua vinda a esse mundo é, portanto, sua mãe. E eu lhe pergunto, você já começou a pagar seus débitos com ela?
Pergunta: Não.
Gurdjieff: Existem ainda seis outros aspectos. Mas eu falo para você de um aspecto. Comece, então, por esse primeiro aspecto: sua mãe. Restitua sua mãe.
Mesmo se ela for objetivamente má, ela é sua mãe. E como você pode pagar a ela? Você deveria unificar a vida dela. Mas em vez disso, o que você faz? Você torna a vida dela mais difícil. Você a chateia, a irrita. Inconscientemente, remorso de consciência poderia fluir disso. Tome o ano que acabou de passar, lembre: frequentemente você tem sido muito mau. Você é um merda. Você não cumpre com suas obrigações. Se você entendeu isso, o remorso pode começar a atuar em você. Esse é apenas um aspecto. Eu poderia explicar para você outros seis, mas esqueça-os. Antes de saber deles, comece por esse. Pelos últimos dois anos, quantas vezes você foi mau, muito mau, para ela? Lembre-se disso e tente reparar o passado com seu futuro no presente. É uma coisa muito difícil. Se você esquece, se você não faz isso, é culpa sua e duplamente sua culpa; primeiro você é culpado pelo passado; e você é culpado pela segunda vez por não reparar isso hoje. Uma boa resposta, não é? Todo mundo aqui está contente. Exceto uma pessoa – você sabe quem? A sua mãe. Madame, é pelo benefício do seu filho que eu digo isso.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Nisargadatta Maharaj - 21 de agosto de 1980


Maharaj: Não estou muito interessado em ter pessoas aqui ficando mais do que oito ou dez dias, o que quer que tenham entendido, elas têm de digerir, nenhum discurso adiante irá alcançá-las.
Presumindo que a pessoa seja inteligente, tendo saído daqui e ido para outro lugar, ela não conseguirá ficar sozinha – irá desejar a companhia de alguém de modo que ela possa transmitir os bens da espiritualidade. Ela irá querer a companhia de outras pessoas com quem possa discutir espiritualidade – de outra maneira irá sentir-se muito infeliz. Você se sentirá feliz e satisfeito se não encontrar outros sadhakas?
Pergunta: Ah sim. Isso é um ponto necessário para um buscador sério – passar pelo estágio onde ele gostaria de compartilhar seu conhecimento com os outros?
M: Isso é uma parte, mas também deve chegar a um fim. O estado mais elevado é o estado não nascido no qual não há experiência da mente. Investigue o conceito “eu sou”. No processo de tentar encontrar sua verdadeira identidade você pode até mesmo abandonar o Ser, e ao abandonar o Ser, você é Aquilo.
[Maharaj está olhando para alguns pardais na janela] A consciência vivendo dentro do pardal e a consciência vivendo neste corpo é a mesma. Aqui o instrumento é grande, neles é menor. Os pardais estão planejando por comida, a barriga deles não está cheia. Todas as espécies estão sofrendo; a própria criação em si está sofrendo.

Todos esses conceitos sobre renascimento, etc... A chuva tem renascimento? O fogo? O ar? Em suma, isso é uma mera transformação dos cinco elementos. Você pode chamar de renascimento.
No processo desta busca espiritual, tudo irá acontecer no reino desta consciência. Você finalmente tropeça, ou culmina, no estado absoluto Parabrhaman, o qual é sem desejos.
Eu compreendi e transcendi o 'sentido de ser' (beingness). Suponha que eu viva por mais 100 anos: estado desperto, sono e 'sentido de “eu sou”' (I amness). - qual é a utilidade disso? Estou farto disso.
Não tenho nenhuma identidade exclusiva para mim mesmo. Qualquer identidade que eu tenha é o jogo dos cinco elementos e é universal. Sendo que não há muito que possa ser dito sobre meu estado, não vou manter as pessoas por muito tempo. Apenas repartirei algum conhecimento e falarei para elas irem embora. Com esse conhecimento profundo, neste nível, elas não estão aptas a entender. Que benefício podem obter?


_____________________________________________



Pergunta: O principal obstáculo reside na nossa idéia de tempo, no nosso hábito de antecipar um futuro sob a luz do passado. A soma total do passado torna-se o “eu era”, a esperança pelo futuro torna-se o "eu vou ser"e a vida é um constante esforço de atravessar do “eu era' para o que “eu vou ser”. O momento presente, o "agora" é perdido de vista. Maharaj fala do “Eu sou”. Esse “eu sou” é uma ilusão, como o 'eu era' e “eu vou ser”, ou existe algo real em relação a ele? E se o 'eu sou' é também uma ilusão, como fazemos para nos livrarmos dele? A própria noção de “eu sou” livre de “eu sou” é um absurdo. Existe algo real, algo duradouro a respeito do "eu sou" em distinção com o "eu era", ou "eu vou ser", que muda com o tempo, tal como memórias formadas que criam novas expectativas?

Maharaj: O 'eu sou' atual é tão falso quanto o "eu era” 'e o “eu serei". É apenas uma idéia na mente, uma impressão deixada pela memória, e a identidade separada que ele cria é falsa. Este hábito de se referir a um falso centro deve ser abandonado, o conceito: "eu vejo", "eu sinto”, “eu penso”, “eu faço”, deve desaparecer do campo da consciência, o que sobra quando o falso não está mais, é real.

P: O que é essa grande conversa sobre eliminar o Ser (self)? Como pode o Ser eliminar a si mesmo? Que tipo de acrobacia metafísica pode levar ao desaparecimento do acrobata? No final ele irá reaparecer, poderosamente orgulhoso do seu desaparecimento.
M:Não é necessário perseguir o "eu sou" para matá-lo. Você não pode. Tudo o que você necessita é um sincero anseio pela Realidade. Chamamos isso de atma-bhakti, o amor do Supremo: ou Moksha-sankalpa, a determinação de se livrar do falso. Sem amor, e vontade inspirada pelo amor, nada pode ser feito. Simplesmente falar sobre a Realidade sem fazer nada a esse respeito é auto-derrotador. Deve haver amor na relação entre a pessoa que diz 'Eu sou' e o observador desse 'eu sou'. Enquanto o observador, o Ser interior, o Ser “superior", considerar-se aparte do que é observado, o ser “inferior”, desprezá-lo e condená-lo, a situação é desesperadora. É apenas quando o observador (vyakta) aceita a pessoa (vyakti) como uma projeção ou uma manifestação de si próprio, e, por assim dizer, leva o ser para dentro do Ser, a dualidade do 'Eu' e 'esse' se vai e na identidade do exterior e do interior a Suprema Realidade manifesta-se. Essa união daquele que vê com aquilo que é visto acontece quando o que vê se torna consciente de si mesmo como sendo o que vê, ele não está somente interessado naquilo que é visto, que de qualquer forma é ele, mas também está interessado em estar interessado, dando atenção à atenção, consciente de estar consciente. Consciência afetuosa é o fator crucial que traz a Realidade para dentro do foco.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Lao Tzu - Tao te Ching - Praticar a Eternidade

No princípio era o Tao.
Todas as coisas derivam dele;
todas as coisas retornam a ele.


Para encontrar a origem,
rastreie as manifestações.
Quando você reconhecer a criança
e encontrar a mãe, estará livre dos pesares.


Se você fecha sua mente em julgamentos
e trafega com os desejos,
seu coração será perturbado.
Se você evitar sua mente de julgar
e não for levado pelos sentidos,
seu coração encontrará paz.


Ver na escuridão é claridade.
Saber como render-se é força.
Use sua própria luz
e retorne para a fonte da luz.
Isso é chamado de - praticar a Eternidade.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Jalaluddin Rumi - Com você aqui no meio

Os amantes trabalham para que quando o corpo e a alma
não estiverem mais juntos,
seu amor seja livre.

Lave-se na água da sabedoria para que você não tenha arrependimentos
sobre o tempo aqui.

O amor é o âmago vital da alma,
e de tudo o que você vê, apenas o amor é infinito.
Sua não-existência antes de você nascer
é o céu no oriente.

Sua morte é o horizonte no ocidente,
com você aqui no meio.
O caminho não conduz nem ao oriente nem ao ocidente,
mas internamente.

Teste suas asas do amor e torne-as fortes.
Esqueça a idéia de escada religiosa.
O amor é o telhado. Seus sentidos são as calhas.
Beba a chuva diretamente do telhado.

A calhas danificam-se facilmente
e frequentemente tem de ser substituídas.
Diga este poema em seu peito.
Não se preocupe em como ele soa
saindo de sua boca.

O corpo humano é um arco.
A respiração e a fala são flechas.
Quando a aljava e as flechas são usadas ou se perdem,
não há nada mais para o arco fazer.

Bhagavan Ramana Maharshi - O Propósito

Devoto: Qual é o propósito da autorealização?
Bhagavan: A autorealização é a meta final e é em si mesma o propósito.
D.: Eu quero dizer, qual é a utilidade disso?
B: Por que você pergunta sobre autorealização? Por que você não descansa contente com o seu estado atual? É evidente que você está descontente e seu descontentamento chegará ao fim se você realizar a si mesmo (realizar o Ser).
D: Qual é o objetivo deste processo?
B: Perceber o Real.
D: Qual é a natureza da realidade?
B: (a) Existência sem começo ou fim – eterna. (b) Existência em toda parte, interminável - infinita. (c) Existência sublinhando todas as formas, todas as mudanças, todas as forças, toda matéria e todo espírito. Os muitos mudam e morrem, enquanto que o Um sempre perdura . (d) O Um desloca as tríades, tais como – o conhecedor, o conhecimento e o conhecido. As tríades são apenas aparências no tempo e no espaço, ao passo que a Realidade situa-se além e por trás delas. Elas são como uma miragem sobre a realidade. São resultado de uma ilusão.
D: Se eu também sou uma ilusão, quem abandona a ilusão?
B: O 'Eu' abandona a ilusão de "eu" e ainda assim continua 'Eu'. Tal é o paradoxo da autorealização (ou realização do Ser). O Realizado não vê qualquer contradição nisso.
Algumas pessoas vêm aqui e não me perguntam sobre si mesmas, mas sim sobre o Jivanmukta (aquele que foi liberado enquanto ainda estava encarnado). Elas perguntam: 'O realizado vê o mundo?' 'Ele está sujeito ao destino?' 'Podemos ser liberados apenas após deixarmos o corpo ou é possível enquanto ainda estivermos vivos?' 'O corpo de um Sábio dissolve-se na luz ou desaparece de uma maneira milagrosa?' Suas perguntas são infinitas. Por que se preocupar com todas essas coisas? A Liberação consiste em saber a resposta para essas perguntas? Então eu lhes digo: 'Não se preocupem a respeito da Liberação. Em primeiro lugar, descubram se existe algo como a escravidão. Examine a si mesmo primeiro.' Em certo sentido, falar da autorealização é uma ilusão. É só porque as pessoas têm estado sob a ilusão de que o não-ser é o Ser e o irreal é o Real, que elas têm que ser tiradas disso por meio de outra ilusão chamada autorealização; porque, na realidade, o Ser é sempre o Ser e não existe tal coisa como realizar o Ser. Quem é para realizar o que, e como, quando tudo o que existe é o Ser e nada mais que o Ser (Self)?

D: Nós vamos para Svarga (o céu), pelo resultado de nossas ações aqui?
B: O céu é tão real quanto a sua vida presente. Mas se nos perguntarmos quem somos nós, e descobrirmos o Ser, qual é a necessidade de pensar sobre o céu?
D: O Vaikunta (céu), está no Ser Supremo?
B: Onde está o Ser Supremo ou o céu, senão em você?
D: Mas o céu pode aparecer para a pessoa involuntariamente.
B: O mundo aparece voluntariamente?
D: Deve haver fase após fase de progresso antes de se atingir o Absoluto. Existem diferentes níveis de realidade?
B: Não existem níveis de Realidade, existem apenas níveis de experiência para o indivíduo, não de Realidade. Se alguma coisa pode ser adquirida, que não estava lá antes, também pode ser perdida; enquanto que o Absoluto é eterno, aqui e agora.
Pode um homem tornar-se um oficial de alto escalão apenas ao ver um deles passar? Ele pode se tornar um, somente esforçando-se e equipando-se para a posição. Do mesmo modo, pode o ego, que está em cativeiro sendo a mente, tornar-se o Divino Ser simplesmente porque uma vez teve um vislumbre de que ele é o Ser? Isso não é impossível sem a destruição da mente? Pode um mendigo tornar-se um rei por apenas visitar um rei, e declarar-se como sendo um?

D: A autorealização pode ser perdida novamente após ter sido atingida?
B: A Realização leva tempo para estabilizar a si mesma. O Ser certamente está dentro da experiência direta de todos, mas não da forma como as pessoas imaginam. Só se pode dizer que ele é como é. Assim como os encantos ou outros dispositivos podem evitar que o fogo queime um homem enquanto que de outro modo o queimaria, também os vasanas (tendências inerentes que nos impelem a desejar uma coisa e repelir outra), podem velar o Ser enquanto de outro modo Ele seria evidente. Devido às flutuações dos vasanas, a Realização leva tempo para estabilizar-se. A Realização espasmódica não é suficiente para impedir o renascimento e não pode tornar-se permanente enquanto existirem os vasanas. Na presença de um grande mestre, os vasanas deixam de ser ativos e a mente torna-se quieta para que resulte o samadhi (a absorção na Realização). Assim como na presença de vários dispositivos de incêndio o fogo não queima, também assim o discípulo ganha conhecimento verdadeiro e experiência direta na presença de um mestre. Mas se o objetivo é se estabelecer, esforço adicional é necessário. E então, o conhecerá como sendo seu verdadeiro Ser e, portanto, será liberado enquanto ainda vivo. Você é o Ser mesmo agora, mas você confunde sua atual consciência ou o seu ego com a Consciência Absoluta ou, o Ser (Self). Essa falsa identificação é devida à ignorância e a ignorância desaparece juntamente com o ego. Matar o ego é a única coisa a ser feita. A Realização já existe, nenhuma tentativa precisa ser feita para tentarmos alcançá-la. Porque ela não é em nada novo ou externo a ser adquirido. É sempre e em toda parte - aqui e agora, também.
D: Esse método parece ser mais rápido do que aquele habitual, o da pessoa cultivar as virtudes que são alegadas como sendo necessárias para a Realização.
B: Sim. Todos os vícios estão ao redor do ego. Quando o ego se vai a Realização resulta naturalmente.

D: Um Iogue pode saber sobre suas vidas passadas?
B: Você conhece a vida presente tão bem que você deseja saber a passada? Descubra a presente, depois o resto se seguirá. Mesmo com o seu atual conhecimento limitado, você sofre muito. Por que deveria você sobrecarregar-se com mais conhecimento? É para sofrer mais?
D: Bhagavan utiliza poderes ocultos para fazer com que os outros realizem o Ser ou o simples fato da Realização de Bhagavan é o suficiente para isso?
B: A força da Realização espiritual é muito mais poderosa do que a utilização de todos os poderes ocultos. Na medida em que não há ego no Sábio, não há "outros" para ele. Qual é o maior benefício que pode ser atribuído a você? É a felicidade e a felicidade é nascida da paz. A paz só pode reinar onde não haja perturbação e a perturbação deve-se aos pensamentos que surgem na mente. Quando a própria mente estiver ausente, haverá perfeita paz. A menos que a pessoa tenha aniquilado a mente, ela não poderá ganhar a paz e ser feliz. E a menos que ela própria seja feliz, ela não poderá outorgar felicidade aos 'outros'. Dado que, no entanto, não há "outros" para o Sábio, que não tem mente, o mero fato de sua autorealização é por si só suficiente para tornar os "outros" felizes também.

domingo, 14 de junho de 2009

Siddharameshwar Maharaj - "Conhecimento Puro"


Para entender melhor como exatamente o “puro conhecimento uno” está atuando, você tem apenas que sair de casa e olhar imediatamente para a lua. Com que velocidade, de dentro da janela da mente, a pura consciência se apressa até a lua? Veja como ela permeia o céu inteiro numa fração de segundo. Tente isso. A mente tem essa mesma velocidade? A mente recebeu essa velocidade de ciência da lua, apenas através da ajuda desse “Conhecimento”. Onde quer que a mente vá, a Consciência já está lá. Que admirável então, que o movimento da mente pereça emperrado nessa consciência! Você tem apenas que abrir as pálpebras e o "Conhecimento” (consciência) simultaneamente permeiará o céu inteiro e a vastidão que contém uma multitude de estrelas e a lua.
Em vez de dizer que ela permeia, é melhor dizer que ela já permeou tudo o que agora é experimentado. Quando a Consciência viaja do olho até a lua e a pessoa a reconhece como sendo a lua, tal é o conhecimento 'objetivo'. Nesse exemplo a lua é o objeto e a consciência assume a sua forma assim que ela sabe que aquilo é a lua. Se há uma nuvem na frente da lua, a Consciência assume o formato da nuvem e é vista como aquele objeto. Assim também, a consciência permeia a nuvem e sabe que a nuvem é um objeto.
Agora, tente notar a “camada” de consciência sem um objeto, o “Conhecimento Puro” sem a mistura de nenhum objeto. Aquele espaço ou vácuo, que existe entre os olhos e a lua, não foi notado por você, ainda assim, ele estava lá, permeando, existindo em sua própria natureza. Aquela é a forma pura do 'Conhecimento'. Quando um vácuo ou espaço vazio, que foi notado anteriormente, é propositalmente tornado o objeto da atenção, ele pode tornar-se o objeto da atenção como 'espaço'. O que é notado é Maya, e o que não pode ser visto é “Brahman”.
Enquanto olhamos para a lua, o vácuo ou o espaço intermediário, não vem à nossa atenção. Portanto, é consciência sem um objeto. Se esse espaço, ou vácuo, é separado e é tornado um objeto da visão, esse Conhecimento Puro é transformado num zero, porque se o espaço é visto separadamente, a modificação da mente torna-se um vácuo. Se existe alguma diferença entre o céu e o Puro Conhecimento, é essa: Olhar separadamente para nossa própria natureza é o céu e quando o ato de 'olhar' é abandonado, ele é “conhecimento puro”. Uma vez que o conhecimento puro é reconhecido apropriadamente dessa forma, mesmo quando misturado a qualquer objeto, ele pode ser selecionado e reconhecido. Uma vez que a água pura é conhecida, mesmo quando misturada com alguma outra coisa, sua porção pode ser reconhecida dentro da mistura.
A água é um fluído que pode ser condensado em gelo. Mesmo quando a água abandona sua fluidez e assume a densidade do gelo, ela ainda é reconhecida como água em forma de gelo. Não é difícil reconhecer a umidade da lama como sendo água. Similarmente, uma vez que o Conhecimento Puro é conhecido, sua existência estável nesse mundo móvel pode também ser reconhecida, na forma de Sat-chit-ananda (existência-consciência-graça).
A água pura é desprovida de qualquer cor, forma, gosto ou cheiro. Uma vez que isso é propriamente entendido, mesmo quando a água é condensada, assumindo uma forma densa, ou quando fica apimentada ao adicionarmos pimenta, ou doce ao adicionarmos açúcar, ou cheirosa, colorida em tom de rosa, ou usada como água na tinta, ainda assim é inconfundivelmente reconhecida como água pura, ou água menos a forma, gosto, cheiro e cor.
Assim, pelo mesmo método de eliminação, mesmo quando esse Conhecimento Puro está condicionado, ao subtrairmos o condicionamento e dividirmos a forma em seus respectivos elementos, ele será reconhecido absolutamente como sendo “Conhecimento Puro” apenas, que preenche todas as formas até à borda, em toda parte. Entretanto, antes de alcançar esse “Conhecimento Puro” pelo método da eliminação, se a pessoa aceita o método da enumeração (escutando as qualidades de Deus), e segue discursando como é que somente Deus permeia todos os seres e todas as formas, e que não existe nada além de Rama, e que “o mundo e o senhor do mundo, são apenas um” etc, etc, então tal balbuciação jamais poderia ser útil. Em contraste com esse tipo de fala, se a pessoa fala apenas palavras vazias sem ter a experiência por trás delas, tal como “Eu sou Brahman”, “os sentidos fazem seu trabalho, contudo eu não sou o fazedor”, e “ não há virtude ou pecado na soleira de minha porta”, etc, em vez de ganhar o Ser, ele apenas irá enganar seu Ser. Dessa forma, esses chamados “Auto-descobridores” perdem alegria no mundo, bem como no outro mundo . O santo Kabir disse “Ele foi embora como veio”. Isso significa que essas pessoas morrem no mesmo estado de consciência com o qual elas nasceram. Não obtêm nenhum benefício além disso.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ramakrishna - Deus com forma e Deus sem forma

Devoto: Deus tem forma ou é sem forma?

Ramakrishna: Espere, espere! Primeiro de tudo você tem que ir para Calcutá, só então você saberá onde estão localizados o Maidan, a Sociedade Asiática e o Banco de Bengala. Se quer ir para o bairro dos brâmanes de Khardaha, primeiro tem que ir para Khardaha. Por que não seria possível a prática da disciplina de Deus sem forma? É muito difícil seguir esse caminho. Não podemos segui-lo sem renunciar “mulher e ouro" (luxúria e cobiça). Deve haver completa renúncia, tanto interna como externamente. Você não pode ter êxito neste caminho se você tiver o menor vestígio de mundanidade. É fácil adorar a Deus com forma. No entanto, não é tão fácil como parece. Com um Bhakta (aspirante no caminho devocional), não devemos discutir a disciplina do Deus impessoal ou o caminho do Conhecimento (Jnana). Através de muitos esforços, talvez ele esteja nesse momento cultivando um pouco de devoção. Seria danoso dizer a um Bhakta que tudo é um mero sonho.

Kabir era um adorador do Deus impessoal. Ele não acreditava em Shiva, Kali ou Krishna. Costumava brincar com eles e dizia que Kali vivia de ofertas de arroz e banana e Krishna dançava como um macaco enquanto as gopis batiam palmas. Aquele que adora Deus sem forma, talvez no início veja uma deidade com dez braços, em seguida, com quatro braços e, em seguida, Krishna criança com dois braços. Finalmente vê a a Luz Indivisível e submerge nela. Diz-se que os sábios como Dattátreia e Yadabharata não retornaram ao plano relativo depois de terem tido a visão de Brahman. Segundo alguns relatos, Shukadeva provou apenas uma gota do Oceano da Consciência de Brahman. Ele viu e ouviu o rugido das ondas desse Oceano mas não submergiu nele. Uma vez um Brahmachari me disse: "Aquele que vai além de Kedar, não pode manter o seu corpo vivo". Assim, depois de atingir Brahmajnana um homem não pode preservar o seu corpo mais do que vinte e um dias.
Para além do muro elevado havia um campo infinito. Quatro amigos tentaram saber o que havia lá. Três deles, um após outro, escalaram o muro, viram o campo, deram uma gargalhada e saltaram para o outro lado. Estes três não puderam dar qualquer informação sobre o campo. Apenas o quarto homem voltou e disse para as pessoas como era. Ele é como aqueles que detêm o seu corpo, mesmo depois de atingir Brahmajnana, para ensinar aos outros. As encarnações Divinas pertencem a esta classe.

Parvati nasceu como a filha do Rei Himalaya. Após o seu nascimento, ela revelou ao rei Suas diversas formas divinas. O pai disse: 'Bem, filha, você me mostrou todas estas formas, isto é bom, mas você tem um outro aspecto, que é Brahman. Rogo-lhe para que me ensine. “Pai, disse Parvati, se buscas o conhecimento de Brahman, então renuncia o mundo e viva na companhia dos santos". Mas o rei Himalaia insistiu. Por conseguinte, Parvati revelou-lhe Sua forma de Brahman e imediatamente o rei caiu inconsciente no chão. Mas tudo o que acabei de dizer, pertence ao reino do raciocínio. Apenas Brahman é real e o mundo é ilusório - isso é raciocinar. E tudo, exceto Brahman, é como um sonho. Mas é um caminho muito difícil. Para aqueles que o seguem, até o jogo divino no mundo torna-se um sonho e é irreal, o seu 'eu' também desaparece. Os seguidores desse caminho não aceitam a Encarnação Divina. É um caminho muito difícil. Os amantes de Deus não deveriam ouvir muito de tal raciocínio. É por isso que Deus encarna-se como ser humano, para ensinar às pessoas o caminho da devoção. Exorta as pessoas a cultivarem a entrega a Deus. Seguindo o caminho da devoção, realizamos tudo através de Sua graça, Conhecimento e Sabedoria Suprema.

Deus atua neste mundo. Ele está sob o domínio dos Seus devotos. Shyama, a Mãe Divina, está atada pelas cordas do amor de Seu devoto. Às vezes Deus torna-se o ímã e o devoto a agulha, outras vezes, o devoto torna-se o ímã e Deus a agulha. O devoto atrai Deus até ele. Deus é o Amado de Seu devoto e está sob seu domínio. De acordo com uma escola, as gopis de Vrindavan, como Yashoda, em suas vidas anteriores acreditavam em Deus sem forma, mas não receberam nenhuma satisfação a partir dessa crença. É por isso que mais tarde gozaram de tanta felicidade na companhia de Sri Krishna no episódio da sua vida em Vrindavan. Um dia Krishna disse às gopis: 'Venham comigo. Vou mostrar-lhes a morada do Eterno. Nós vamos para o Yamuna para nadarmos.' Logo que eles imergiram na água, viram Goloka e, em seguida, viram a luz indivisível. Naquele instante Yashoda exclamou: "Ó Krishna, essas coisas já não nos importam. Gostaríamos de vê-lo em Sua forma humana. Quero tomar-lhe em meus braços e alimentar-lo".

Portanto, a maior manifestação de Deus é através de Suas encarnações. O devoto deveria servir e adorar uma encarnação de Deus enquanto ela viva em um corpo humano. “Ao amanhecer, ele desaparece na câmara secreta de sua morada." De maneira nenhuma podem todos reconhecer uma encarnação de Deus. Ao assumir um corpo humano, a encarnação cai vítima de doença, tristeza, fome, sede e outras dores, como qualquer mortal. Rama chorou por Sita. "Brahman chora, capturado na armadilha dos cinco elementos." Diz-se nos Puranas que Deus em Sua encarnação como um Marrana (porco) viveu feliz com Sua ninhada, mesmo depois de terem destruído Hiraniaksha. Como Marrana, ele os alimentou e cuidou e esqueceu tudo sobre a sua morada no céu. Finalmente Shiva matou o corpo do porco com o seu tridente e Deus, rindo, voltou para sua própria casa.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Upasni Maharaj* - O Templo de Khandoba


Vocês me chamam de Deus, mas deixem-me adverti-los: Eu sou do templo de Khandoba. Talvez devido ao meu destino ou devido à vontade do Sadguru ou de quem quer que esteja acima de mim, tive que passar pela punição de ser um Khandoba e portanto fui mantido no templo de Khandoba. Khandoba significa eunuco, um eunuco é aquele que é incapaz de desfrutar de uma mulher de maneira mundana. Antigamente aqueles que eram incapazes de desfrutar de uma mulher eram chamados Shandas, entretanto eles não eram os verdadeiros Shandas, o verdadeiro Shanda é aquele que se tornou completamente sem desejos, e esse estado sem desejos traz o estado de Khandoba.

Por Khandoba ser único, garotas são oferecidas para ele, essas garotas são chamadas de Muralis. O que é Murali? Murali é a flauta nas mãos do Senhor Krishna. As Muralis, portanto, atingem então o estado que as leva ‘além do mundo’. Há um costume de oferecer garotas a Khandoba. Khandoba sendo Parabrhaman, as garotas oferecidas para ele, portanto, tornam-se o mesmo. Khandoba significa Shandoba e o mesmo é Vhitoba. Vhitoba é livre, nu, não afetado em todos os aspectos. Nestes dias de Kali Yuga, Vhitoba é considerado ser de importância, é ele que conduz à bênção infinita.

Já falei sobre isto, aquele cuja mente e sentidos não são de nenhuma utilidade do ponto de vista mundano, nem são de utilidade para atingir nenhum dos prazeres do mundo, tornar-se Shanda, o Shanda real é o Brhaman real, o Parabrahman, ele é Vhitoba, ele é o Khandoba. Você deveria lembrar-se bem disso; eu não sabia desses arranjos secretos, se eu soubesse não teria parado naquele templo. Naquele tempo eu comecei a pensar que estava sentando num vale em chamas. Mas sabe que as palavras que Sai Baba disse vieram a se tornar verdade, as de que eu seria a esposa de Khandoba.



*Upasni Maharaj - Mestre perfeito indiano que foi discípulo de Sai Baba de Shirdi (1838-1918), teve uma vida de renúncia extrema. Permaneceu de 1912 à 1914 em jejum de comida e água no templo de Khandoba, que na época era abandonado e infestado por cobras e escorpiões.

domingo, 7 de junho de 2009

Philokalia - São Teófanes o Recluso - Pobre, Nu, Cego e Sem Valor


Não há necessidade de ter medo da ilusão. Ela sobrepuja aqueles que se tornam vãos, que pensam que assim que um aquecimento venha ao coração já significa o cume da perfeição. De fato, esse aquecimento é apenas o começo e pode provar ser instável. Esse aquecimento e paz no coração podem ser apenas algo natural, fruto da atenção concentrada. Temos de labutar e labutar, esperar e esperar, até que o natural seja substituído pela graça ofertada.
É melhor nunca pensar de si mesmo como tendo atingido algo, mas sempre ver-se como pobre, nu, cego e sem valor.

O Senhor vê sua necessidade e seus esforços, e dará a você uma mão. Ele irá lhe dar suporte e estabelecerá você um soldado, totalmente armado e pronto para ir para a batalha. Nenhum suporte pode ser melhor do que o Dele. O maior perigo está em a alma pensar que ela pode encontrar essa ajuda dentro de si mesma; e então ela perde tudo. O mal irá dominá-la, eclipsando a luz que cintila ainda que fraca na alma, e irá extinguir aquela pequena chama que quase já não queima. A alma deveria perceber o quanto ela é impotente quando sozinha; portanto não esperando nada de si mesma, deixe-a cair em humildade diante de Deus e em seu próprio coração que ela se reconheça como sendo nada. Então a graça – que é toda poderosa – irá desse nada, criar nela tudo. Aquele que em total humildade coloca-se nas mãos do piedoso Deus, atrai o Senhor para si mesmo e torna-se forte em Sua força.
Embora esperando tudo de Deus e nada de nós mesmos, devemos, não obstante, forçarmos-nos à ação, empregando toda nossa força a fim de criar algo para o qual a ajuda divina possa vir, e o qual, o poder divino possa abarcar. A graça já está presente dentro de nós mas ela irá agir apenas depois que o próprio homem agiu, sentindo sua impotência com sua própria força. Estabeleça-se, portanto, firmemente no humilde sacrifício da sua vontade por Deus, e então tome ação sem nenhuma má vontade ou de maneira irresoluta.

sábado, 6 de junho de 2009

Gurdjieff - 7 de dezembro de 1941


Pergunta: Algo intolerável acontece no meu trabalho. A despeito dos meus esforços eu não posso lembrar de mim mesmo, ter uma qualidade melhor. É inútil fixar horas de trabalho no relógio. Não obtenho resultado. Por que?

Gurdjieff: Isso vem do seu egoismo. Egoismo particularmente grande no qual você tem vivido até agora. Você está enclausurado nele, você tem de sair dele. Para sair, você tem de aprender a trabalhar. Não apenas por você somente, mas para os outros. Você começou com trabalho relacionado aos seus pais. Você deve mudar sua tarefa. Assuma uma nova tarefa, a mesma com seus semelhantes, não importa quem, todos os seres; ou escolha dentre as pessoas à sua volta. Você deve trabalhar para si mesmo através da meta de estar apto a ajudá-los. Apenas isso irá lutar contra o egoismo. Vejo que vocês dois têm um passado muito ruim, um egoismo particular. Todo o material antigo vem à frente. É por isso que você não pode fazer nada. É normal; de acordo com a ordem, de acordo com a lei. Antes de atingir a meta, há muitas acensões e quedas. Isso deveria reassegurar você. Eu poderia reassegurar você completamente, mas é você quem deve trabalhar você mesmo.

P: Para sair deste estado de sofrimento tão vívido e tão negativo, posso fazer uso de algum meio exterior, tomar ópio, por exemplo?

G: Não, você deve trabalhar sobre si mesmo. Destrua o egoismo no qual você tem sempre vivido. Tente o que eu lhe digo. Mude sua tarefa. É necessário alcançar agora um novo estágio. Vocês dois estão a caminho da Gare de Lyon, mas vão por rotas diferentes, um vai por Londres e o outro pela Ópera. Vocês estão ambos à mesma distância.

P: Eu vejo minha impotência e minha covardia. Eu não posso dizer nada e fazer algo pelos outros. Pois minha cabeça não está clara. Sinto se uma coisa está correta ou não, mas não posso explicar claramente o porquê.

G: Você não pode dizer nem fazer nada pelos outros. Você não sabe o que você precisa para si mesmo, você não pode saber o que o outros precisam. Trabalhe com propósito por eles. Mas atue um papel. Esteja aparte internamente. Veja, externamente fale como a pessoa fala, para não machucá-la. Você deve adquirir a força para fazer isso. Atue um papel. Torne-se duplo. Para o presente momento trabalhe como capataz. Faça o que eu lhe digo, você não pode fazer mais que isso. Ame seu vizinho; Esse é o CAMINHO. Traga para todos aquilo que você sentia pelos seus pais.

P: No inicio do trabalho temos esse desejo.

G: Certamente, é a mesma coisa, sempre a mesma coisa que retorna num diferente grau. Agora é um outro grau. Você deve superar essa crise. Tudo vem do falso amor de si mesmo, da opinião que a pessoa tem de si mesma, que são mentiras.

P: Tudo virou de ponta cabeça em mim com o exercício, em todo meu trabalho. Tirou a alegria do trabalho, tornou-o doloroso, sem esperança, sinto-me como um asno puxando um carrinho muito pesado numa subida.

G: É porque em você há outras partes que são tocadas. É como um pintor que sempre mistura as mesmas cores e nunca há nenhum vermelho. Quando ele coloca vermelho na mistura, isso muda tudo. Você deve continuar.

P: Esse exercício me fez sentir algo que é novo para mim; quando tento fazê-lo e colocar minha atenção nesse pequeno ponto fixo e vejo que não posso segurar-me na frente dele, tenho uma sensação da minha nulidade e pareço entender melhor a humildade. Esse pontinho é maior que eu.

G: Porque você tem um cão em você mesmo que o impede em todas as coisas. Ele é chamado insolência perante você mesmo. Você deve destruir esse cão. Mais para frente você vai sentir-se mestre nesse ponto, sentir que você é mais forte que esse cão e que ele é nada. Não tenho confiança nesses tipos artísticos que vivem na imaginação, têm idéias atrás de sua cabeça, não dentro, que pensam que sentem e experimentam, mas na realidade estão apenas interessados em coisas externas. Vivem apenas na superfície, de fora, não dentro, não em si mesmos. Os artistas não sabem nada da realidade e imaginam que eles sabem. Não confie em você mesmo. Entre em você mesmo, em todas as partes de você mesmo. É absolutamente necessário aprender a sentir e a pensar ao mesmo tempo em todas as coisas que você faz na vida diária. Você é uma pessoa vazia.

P: Como deveríamos rezar?

G: Irei explicar, mas é para depois. Em nosso sistema solar certa substância emana do sol e dos planetas, da mesma forma que aquelas emanadas pela Terra, fazendo contato em certos pontos no sistema solar. E esses pontos podem refletir a si mesmos em imagens materializadas, as quais são as imagens invertidas do Todo-elevado – o Absoluto. Digo-lhe que sempre existe uma imagem materializada em sua atmosfera. Se as pessoas pudessem ter concentração o bastante para entrar em contato com essa imagem, elas receberiam essa substância; portanto, ao recebê-la, estabeleceriam uma linha telepática como o telefone.

P: Essas imagens se materializam na forma humana?

G: Sim.

P: Se alguém se colocar em contato com essa imagem e uma segunda pessoa puder colocar-se em contato com ela e uma terceira pessoa e uma quarta, poderão todas elas receber essa imagem?

G: Se sete pessoas puderem concentrar-se o bastante para colocarem-se em contato com essa imagem, elas poderiam se comunicar, a qualquer distância, pela linha entre e elas e as sete formam um. Elas podem ajudar-se umas às outras. Diga-se de passagem, é apenas ao explicar algo aos outros que entendemos e assimilamos nós mesmos completamente.

P: Gostaria de saber se ao materializar a imagem de um santo, isso irá me dar o que eu particularmente desejo?

G: Você pensa como uma pessoa ordinária. Você não tem meios de materializar nada agora. Para o momento assuma a tarefa de auto-sugestão, para que uma parte de você convença a outra e repita, repita para ela o que você decidiu (a meta de despertar). Há uma série de sete exercícios para o desenvolvimento sucessivo dos sete centros. Nós citamos o primeiro, o cérebro, aquele que conta na vida ordinária (a cabeça é uma luxúria). O outro, o emocional também; mas o único que é necessário é a medula espinhal, aquele que você tem que desenvolver e fortalecer primeiro. Esse exercício irá fortalecê-lo: segure os dois braços horizontalmente num ângulo exato, ao mesmo tempo olhando fixamente para um ponto diante de você. Divida sua atenção exatamente entre o ponto e os braços. Você descobrirá que não há nenhuma associação, nenhum lugar para elas, de tão ocupado que você estará com o ponto e a posição dos braços. Faça isso sentado, de pé, e então de joelhos. Vinte e cinco minutos em cada posição, várias vezes por dia – ou menos. Tive um aluno uma vez que podia ficar duas horas sem mexer os braços nem um centímetro. Para outras coisas ele era uma nulidade.

P: Quando quero fazer tais esforços para o trabalho, uma dura barreira se forma no meu peito, impossível de superar. O que eu deveria fazer?

G: Isso não é nada. Você não está habituado a usar esse centro – é um músculo que contrai – é apenas muscular. Continue, continue.

P: Tenho feito esse exercício até ficar com os ombros ardendo. Ao fazê-lo, eu tive a sensação de “Eu”. Senti a mim mesmo realmente separado, realmente “Eu”.

G: Você não pode ter “Eu”. O “Eu” é uma coisa muito cara. Você é barato. Não filosofe, isso não me interessa, e não fale de “Eu”. Faça o exercício como um serviço, como uma obrigação, não por resultados (como o “Eu”). Os resultados virão mais tarde. Hoje é apenas serviço. Apenas isso é real.

P: Sinto-me mais dentro de mim mesmo, mas como se estivesse diante de uma porta fechada.

G: Não é uma porta mas sim muitas portas. Você deve abrir cada porta, aprenda a abrir.

P: Tenho trabalhado especialmente sobre o amor-próprio.

G: Sem amor-próprio um homem não pode fazer nada. Existem duas qualidades de amor-próprio. Uma é uma coisa suja. A outra, um impulso, amor do “eu” real. Sem isso, é impossível mover-se. Um ditado Hindu antigo diz: "Feliz é aquele que ama a si mesmo, pois ele pode amar a Mim”.
Vejo pelo relatório de Madame de Salzman que ninguém me entendeu. Você precisa de fogo. Sem fogo, nunca haverá nada. Esse fogo é o sofrimento, sofrimento voluntário, sem o qual é impossível criar algo. É preciso preparar-se, você deve saber o que irá fazê-lo sofrer e quando isso estiver lá, faça uso disso. Apenas você pode preparar, apenas você sabe o que o faz sofrer, que faz o fogo que cozinha, que cimenta, que cristaliza, que FAZ. Sofra pelos seus defeitos, pelo seu orgulho, pelo seu egoísmo. Lembre a si mesmo da meta. Sem sofrimento preparado não há nada, pois quanto mais se é consciente, não há mais sofrimento. Não há progresso adiante, nada. É por isso que com sua consciência você deve preparar o que é necessário.

Você deve à natureza. A comida que você come, que nutre a sua vida. Você deve pagar por essas substâncias cósmicas. Você tem um débito, uma obrigação, tem que repagar com trabalho consciente. Não coma como um animal, mas renda à natureza pelo que ela tem dado a você, a natureza, sua mãe. Trabalhe – uma gota, uma gota, uma gota – acumuladas durante dias, meses, anos, séculos, talvez darão resultados.

P: Cheguei num ponto onde estou muito infeliz, tudo é desgostoso para mim, de desinteresse.

G: E esse lenço arrumado desse jeito no seu bolso? Isso lhe interessa. Bem, a natureza deseja bem a você, estou contente. Ela traz você para o trabalho real ao fazer todo o reto desgostoso – é um certo cruzamento que você tem que atravessar. Quanto mais você trabalhar, mais você irá sair deste desconforto, desse vazio, dessa carência.

P: Até o trabalho está desgostoso para mim.

G: Então você deve mudar a maneira de trabalhar. Em vez de acumular durante uma hora, você deve tentar manter constantemente a sensação orgânica do seu corpo. Sinta seu corpo novamente, continuamente sem interromper suas ocupações ordinárias – para manter um pouco de energia, para tomar o hábito. Pensei que esse exercício permitiria você manter a energia um tempo maior, mas vejo que não funcionou assim. Molhe um lenço, amarre-o, coloque na sua pele. O contato irá lembrar você. Quando ele secar, comece novamente. A CHAVE PARA TODAS AS COISAS – permanecer aparte. Nossa meta é ter uma sensação constante de nós mesmos, de nossa individualidade. Essa sensação não pode ser expressada intelectualmente, porque é inorgânica. É algo que torna-o independente quando você está com outras pessoas.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Meher Baba - Como amar a Deus


Amar a Deus na forma mais prática é amar aos nossos semelhantes. Se sentirmos pelos outros da mesma forma que sentimos pelos nossos queridos mais próximos, amamos a Deus.

Se, em vez de ver falhas nos outros, olharmos dentro de nós, estaremos amando Deus.

Se, em vez de roubar os outros para ajudar a nós, roubarmos a nós mesmos para ajudar os outros, estaremos amando Deus.

Se sofrermos com o sofrimento dos outros e sentimos-nos felizes na felicidade dos outros, estaremos amando Deus.

Se, em vez de nos preocuparmos com as nossas próprias adversidades, pensarmos que temos mais sorte que muitos, muitos outros, estaremos amando Deus.

Se suportarmos nosso fado com paciência e contentamento, aceitando-o como a Vontade Dele, estaremos amando Deus.

Para amar a Deus como Ele deve ser amado, temos de viver para Deus e morrer por Deus, sabendo que o objetivo da vida é amar a Deus e descobri-lo como sendo nosso próprio Ser.


Ó Parvardigar! O preservador e protetor de tudo,
Tu és sem começo e sem fim.
Não-dual, além das comparações
e ninguém pode medí-lo.
Tu és sem cor, sem expressão,
Sem forma e sem atributos.
Tu és ilimitado e insondável,
Além da imaginação e da concepção,
Eterno e imperecível.
Tu és indivisível
E ninguém pode vê-Lo senão com os olhos divinos.
Sempre fostes, sempre és,
E sempre serás.
Estás em toda parte, estás em todas as coisas e
Também estás além de toda parte e além de todas as coisas.
Estás no firmamento e nas profundezas,
Tu és o manifesto e o não manifesto;
Em todos os planos e além de todos os planos.
Estás nos três mundos
E também além dos três mundos.
Tu és imperceptível e independente.
Tu és o criador, o Senhor dos Senhores,
O conhecedor de todas as mentes e corações.
Tu és Onipotente e Onipresente.
Tu és conhecimento infinito, poder infinito e graça infinita.
Tu és o oceano do conhecimento,
Todo-sabedor, o Infinito-saber,
O conhecedor do passado, do presente e do futuro,
E Tu és o próprio conhecimento.
Tu és Todo-piedoso e eternamente benevolente.
Tu és a Alma das almas, aquele com infinitos atributos.
Tu és a trindade da verdade, conhecimento e graça,
Tu és a fonte da verdade, o oceano do amor.
Tu és o antigo, o mais elevado dos elevados.
Tu és Prabhu e Parameshwar;
Tu és o além de Deus e o além do além de Deus também;
Tu és Parabrahma; Paramatma; Alá; Elahi; Yezdan;
Ahuramazda, Deus todo poderoso e Deus, o Amado.
Tu és chamado Ezad, o único digno de adoração.
(A prece universal, por Meher Baba 1953)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Hafiz - Qual é a raiz?


Qual
É a
Raiz de todos estes
Mundos?
Uma só coisa: o amor.
Mas um amor tão profundo e doce
Que teve que expressar a si mesmo
Com fragrâncias, sons e cores
Que nunca antes
Existiram.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ramesh S. Balsekar - A busca pela verdade

Senhor Krishna falou: “Dentre milhares de pessoas raramente há uma que busca a Mim, e dentre essas que estão buscando, raramente uma Me conhece em princípio”. Agora, quem decide quem será um buscador? De fato, a própria busca é a vontade de Deus, a graça de Deus. Você pensa que você é o buscador buscando Deus, mas a busca não foi escolha sua. Você pode dizer que você tem sorte ou é afortunado pela Fonte, ou por Deus, por ter sido decidido que a busca iria começar neste organismo corpo-mente. Então a busca não começou porque você decidiu num certo momento, “a partir de amanhã buscarei a verdade”. Na verdade a busca aconteceu a despeito de você. A busca começa com a pessoa pensando, “estou buscando Deus, ou a iluminação, ou a paz”. A busca começa com a pessoa pensando que ela está fazendo a busca e a busca só pode terminar quando houver a realização de que nunca houve um buscador. A busca é a graça de Deus, e a Realização é a graça de Deus, ou a vontade da Fonte.
A busca começa com o individuo pensando que ele é o buscador e não pode acabar até que haja uma firme realização de que nunca houve um buscador. Realmente, nunca houve um pensador, o pensar estava acontecendo; nunca houve um fazedor, as ações estavam acontecendo; nunca houve um experimentador, experimentação estava acontecendo. O pensar, o fazer, o experimentar são parte do funcionamento da manifestação que pode apenas acontecer através de um organismo corpo-mente.
Por que a busca por Deus aconteceu neste organismo corpo-mente, enquanto que no outro a busca é por dinheiro? Ele busca apenas dinheiro e pensa que você está louco procurando por algo no ar e que você seria muito mais feliz se buscasse dinheiro, fama ou poder. Agora, por que a busca por dinheiro está acontecendo através de um organismo corpo-mente, e por que a busca por Deus ou pela Verdade está acontecendo através do outro? Isso é o que chamo de vontade de Deus ou intenção da Fonte.


O ponto todo é que toda pergunta é feita pelo ego. Por que o ego faz a pergunta? Porque o ego quer atingir a iluminação. Por que o ego faz a pergunta? Porque o ego é o buscador. Portanto a busca está acontecendo através de um ego particular, e o ego (através do qual a busca está acontecendo) não escolheu fazer isso. Se ele soubesse a miséria que a busca é, ele teria escolhido não buscar. Então a busca é algo que está acontecendo e você não escolheu buscar. Isso é a base do que estou falando.
Esse “um dentre milhares” que o senhor Krishna está falando sobre, não escolheu ser um buscador – a busca aconteceu.
A Fonte iniciou a busca e ao fazer isso iniciou o curso da destruição do ego – que é o que o Ramana Maharshi disse: “Sua cabeça já está na boca do tigre. Não tem escapatória”. Significando que a Fonte iniciou o processo de destruir o ego e é apenas a fonte que pode fazer isso.
Então o ponto fundamental é que a Fonte criou o ego e a Fonte está no processo de destruir o ego num organismo corpo-mente particular. Portanto o ego não tem nada a ver com isso. O ego está no processo de ser destruído. Essa é a aceitação principal. Portanto se o ego está no processo de ser destruído, então como o ego pode buscar sua própria destruição? E é isso o que está acontecendo, não é?